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Famoso nos EUA, brasileiro Mike Deodato se arrisca em 1ª HQ 100% autoral

Ramon Vitral

Do UOL, em São Paulo

22/07/2015 07h00

As mais conhecidas HQs ilustradas pelo quadrinista paraibano Mike Deodato Jr. são protagonizadas por heróis com identidades secretas. Como desenhista da Marvel Comics, ele já trabalhou em enredos estrelados por personagens como Homem-Aranha, Hulk e Homem de Ferro. Agora, no entanto, os leitores brasileiros podem conhecer o que o artista considera ser o seu primeiro trabalho autoral em 52 anos de vida --os últimos 25 deles destinados ao mercado norte-americano de quadrinhos.

Com 80 páginas, “Quadros” (editora Mino), que foi lançada no último fim de semana (18 e 19), durante a 21ª edição do evento Fest Comix, em São Paulo, reúne várias histórias curtas e pessoais criadas por Deodato nos intervalos de seus trabalhos publicados nos Estados Unidos. 

“O trabalho autoral que eu fiz antes era bem amador, né? Era a minha época pré-profissional, quando era independente. Autoral mesmo é esse agora. O próprio conteúdo é mais sobre mim, sobre coisas que vivo. Não sou eu tentando agradar um público norte-americano ou universal. Sou eu falando das coisas que acho que tenho que falar, sem me preocupar. Essa foi a minha proposta”, conta o quadrinista ao UOL.

Mike Deodato Jr

  • O estilo eu defino com o que eu achar que combina com a história, ou o que eu estiver a fim de desenhar. É diferente estar sempre querendo experimentar uma coisa nova. Eu tento no mercado americano, mas sou amarrado pelo que os editores esperam de mim, pelo que consagrou o meu estilo, o que é natural. No meu quadrinho autoral, eu procurei fazer o que me dá na telha mesmo

    Mike Deodato Jr, quadrinista brasileiro da Marvel

No livro, Deodato explora técnicas, estilos e temas inéditos em sua carreira. Ele cria uma versão de terror para uma ida ao dentista, ilustra um poema de Augusto dos Anjos (1884-1914), fala de religião e política, transforma sua filha mais velha em uma super-heróina e aborda a sua timidez, entre vários temas.

Seu pai, o também quadrinista Deodato Borges (1934-2014), ganha a dedicatória do livro e protagoniza uma história bem-humorada ambientada em um hospital. Além de seu traço realista e mais conhecido, Deodato também investe em diagramações pouco exploradas em suas obras e em versões mais cartunescas e sem arte-final de seus desenhos.

Quadros - Divulgação - Divulgação
Capa de "Quadros", HQ autoral de Mike Deodato Jr.
Imagem: Divulgação
“O estilo eu defino com o que eu achar que combina com a história, ou o que eu estiver a fim de desenhar. É diferente estar sempre querendo experimentar uma coisa nova. Eu tento no mercado americano, mas sou amarrado pelo que os editores esperam de mim, pelo que consagrou o meu estilo, o que é natural. No meu quadrinho autoral, eu procurei fazer o que me dá na telha mesmo”, explica o artista.

Outros dois trabalhos de Deodato também chegaram agora às bancas e livrarias brasileiras, expondo ainda mais as várias facetas do quadrinista. A minissérie “Pecado Original”, da Marvel, ganha o seu número um, com roteiro de Jason Aaron, pela Panini. Na obra, os Vingadores tentam desvendar o assassino da entidade cósmica conhecida como Vigia. Já o encadernado “3000 Anos Depois” (Criativo), também lançado na Fest Comix, é o relançamento de um dos primeiros trabalhos do desenhista, uma história de ficção científica em preto e branco concebida por ele e seu pai no início dos anos 1980.

Já a partir de novembro, o desenhista será uma dos responsáveis pela arte de um especial ambientado no universo da série “Star Wars”, que será publicado pela Marvel e focará nos esforços do vilão Darth Vader para destruir a Aliança Rebelde.

Deodato2

  • Botar meu sentimento para fora é complicado. Estou conseguindo devagarinho. Acho que no próximo vou conseguir me expor mais. Enfim, é um trabalho de você ir se soltando. Se for bem recebido, aí eu vou me animar mais, né? Ou, então, nunca mais faço nada

    Mike Deodato Jr.

Os três lançamentos, e as temáticas e os estilos diferentes de cada um, fazem Deodato refletir sobre sua carreira. “O ‘3000 Anos Depois’ foi um divisor de águas. Meu estilo estava bem maturado ali. A ‘Pecado Original’ tem muita coisa parecida. A parte técnica e o tracejado eram muito crus. Sofri um pouco também com a narrativa. Só vim a entender que o desenho existe para servir à história nos quadrinhos, e não o contrário, também depois de velho. Fui crescendo, mas o básico do meu estilo está ali.”

Ansioso, Deodato diz que agora vai aguardar a resposta do público para “Quadros” antes de começar a pensar em uma próxima investida semelhante. “Botar meu sentimento para fora é complicado. Estou conseguindo devagarinho. Acho que no próximo vou conseguir me expor mais. Enfim, é um trabalho de você ir se soltando. Se for bem recebido, aí eu vou me animar mais, né? Ou, então, nunca mais faço nada”, diz, soltando uma gargalhada.

De qualquer forma, o autor deixa escapar alguns planos futuros para o mercado de quadrinhos dos EUA. Segundo ele, seu contrato de exclusividade com a Marvel não impediu a produção de “Quadros”. Por isso, quando o acordo for renovado, ele deverá tentar incluir alguns projetos pessoais para publicação em solo norte-americano: “Eles são bem flexíveis. Por conta de eu trabalhar tanto tempo lá, ser profissional, eles gostarem de mim e vice-versa, não tem muito problema. Eu estou com o contrato até 2016 e daqui a um mês devo estar negociando. Aí vamos ver o que acontece. Vou tentar colocar algum projeto autoral.”