Sucesso nos 80, grupo de dança Marzipan volta com coreografia para 3ª idade
A última vez que eles dançaram juntos foi há 25 anos. De lá para cá, cada um dos sete integrantes seguiu seu caminho: uma virou dentista, outra é guia turística, outra atua como terapeuta corporal, outro se tornou sócio de casas noturnas, outro foi para a engenharia ambiental, e assim por diante. Apesar de rumos tão diferentes, os membros do grupo Marzipan, que se destacou na cena artística paulistana nos anos 1980, mantiveram a amizade ao longo das últimas décadas e, agora, voltam a se encontrar nos palcos para três apresentações: nesta sexta-feira (15), no Auditório Ibirapuera, e nos dias 23 e 24, no Sesc Bom Retiro.
“Quase todos engordaram um pouquinho, mas já emagreceram depois que começaram os ensaios, em fevereiro. A gente não tinha ideia de que ia doer tanto. É o joelho, o quadril, as costas, pois estamos treinando de quatro a seis horas por dia, de segunda a sexta”, revela a cirurgiã dentista Renata Melo, 58 anos, que nesse período fora do grupo ainda manteve contato com a dança, fazendo trabalhos como coreógrafa. Desde o início dos ensaios, ela já perdeu 4 kg.
Renata Melo
A perna já não levanta tanto, o joelho não é mais tão saudável, tem que tomar cuidado com as piruetas, com o ombro. Enfim, são os desgastes da vida. Mas as coreografias que vamos fazer respeitam as nossas limitações de movimentos
Os três homens e as quatro mulheres do Marzipan têm idades entre 52 e 68 anos e prometem mostrar plena forma em cena –a contar pelas fotos atuais, eles estão muito bem, obrigado. “A gente sempre tinha vontade de voltar, virou moda fazer revival comemorativo. Numa das festas de aniversário dos integrantes, no ano passado, alguém teve a ideia, e nos inscrevemos num edital”, conta Renata, que começou no grupo aos 21 anos e ficou nele por uma década, até 1990.
A dançarina também falou sobre as mudanças no corpo dos bailarinos durante os anos de hiato. “A perna já não levanta tanto, o joelho não é mais tão saudável, tem que tomar cuidado com as piruetas, com o ombro. Enfim, são os desgastes da vida. Mas as coreografias que vamos fazer respeitam as nossas limitações de movimentos”, explica a dentista, que vai participar de sete das oito coreografias programadas para o espetáculo, que tem uma hora de duração e aborda os temas reencontro, memórias, amizade, experiência e passagem do tempo. “Dançar exige disciplina, e não temos mais tanta agilidade e perfeição, mas agora adquirimos uma maneira de fazer própria. Para sincronizar o grupo, foi preciso suar bastante.”
Da vanguarda para o revival
Em 25 anos, não foram só alterações físicas que o Marzipan –nome dado em homenagem ao doce colorido de origem árabe, que também remete às cores fortes características dos anos 1980– presenciou. “Mudou a maneira de produzir um espetáculo, hoje tudo é muito mais profissional. Antigamente, trazíamos roupas de casa para o figurino. E, em termos artísticos, os anos 1980 tinham toda uma estética cultural ousada, criativa. Na época, éramos um grupo de vanguarda, mas com formação erudita”, lembra Renata, que se apresentava em locais aonde a dança não costumava chegar, como ruas, desfiles de moda e casas noturnas.
Sobre a reação do público, a dentista diz que ela e os amigos estão um pouco ansiosos, por causa do longo período longe dos holofotes, mas, segundo ela, as pessoas que já assistiram aos ensaios se surpreenderam com a performance do grupo. “Hoje vivemos uma fase em que é tendência pensar na expectativa de vida, no corpo maduro, em como as pessoas mais velhas podem ousar e ter mais espaço na sociedade”, ressalta.
Renata Melo2
Todo o mundo está muito feliz, porque esse projeto resgatou a essência artística que todos temos e que estava um pouco abandonada. Queremos continuar fazendo isso, mesmo abrindo um pouco mão das nossas famílias e profissões, porque é um rejuvenescimento para a gente
Outra integrante da trupe, a dançarina e professora Rose Akras, 55 anos, mora atualmente na Holanda e veio ao Brasil especialmente para o reencontro. “Ela está aqui desde o Carnaval, trouxe até um dos filhos. Os demais ainda vivem em São Paulo”, diz Renata. De acordo com ela, o contato entre os companheiros de dança é tão frequente que eles vão sempre a festas, aniversários, casamentos e até já viraram padrinhos e madrinhas dos filhos uns dos outros.
Além de Renata e Rose, o espetáculo reúne Cacá Ribeiro, 52 anos; Hermes Barnabé, 68; Lúcia Merlino, 56; Michele Matalon, 55; e Zeca Nunes, 57. A direção teatral é de Monique Gardenberg, e o cenário ficou a cargo de Daniela Thomas e Felipe Tassara.
“Todo o mundo está muito feliz, porque esse projeto resgatou a essência artística que todos temos e que estava um pouco abandonada. Queremos continuar fazendo isso, mesmo abrindo um pouco mão das nossas famílias e profissões, porque é um rejuvenescimento para a gente”, afirma a dançarina, que espera novas parcerias e convites para manter as sapatilhas nos pés por mais tempo.
Serviço:
"Marzipan" no Ibirapuera
Quando: Sexta (15), às 21h
Onde: Auditório Ibirapuera (Av. Pedro Alvares Cabral, s/n - Portão 2 do Parque Ibirapuera)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Vendas: Pelo site Ingresso Rápido, pontos de venda oficiais da Ingresso Rápido ou bilheteria do Auditório Ibirapuera
Duração: 1 hora
Classificação: Livre
Mais informações: (11) 3629-1075
Serviço
"Marzipan" no Sesc
Quando: Sábado (23), às 19h, e domingo (24), às 18h
Onde: Sesc Bom Retiro (Alameda Nothmann, 185)
Quanto: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 6 (comerciário)
Vendas: Pelo site do Sesc ou nas bilheterias da rede Sesc
Duração: 1 hora
Classificação: Livre
Mais informações: (11) 3332-3600
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