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"A vida é sua, estrague-a como quiser", aconselhava Abujamra ao filho

Fabíola Ortiz

Do UOL, em São Paulo

29/04/2015 08h58

"A vida é sua, estrague-a como quiser". Este é o ensinamento que André Abujamra, 50, filho do ator e diretor Antônio Abujamra, carrega consigo. "Esta é a primeira coisa que lembro meu pai dizendo quando eu era pequeno.  É a liberdade de ser quem você quiser ser da vida", disse ao UOL André.

Antônio Abujamra foi encontrado morto em sua casa em São Paulo, aos 82 anos, na manhã desta terça feira (28). A suspeita é que o diretor de mais de 150 peças de teatro tenha sofrido um infarto durante o sono. "Não sabemos nem se foi parada cardíaca. Preferimos nem saber. Ele morreu dormindo", comentou.

"Virei a noite, estou aqui com meu paizinho desde às 23h. Meu pai foi um cara maravilhoso, tenho certeza que ele fez uma boa passagem", comentou André, que se diz o único religioso da família. Abujamra era ateu ."Ele viveu coerentemente a incoerência dele. Meu pai foi muito feliz, era um provocador", definiu o filho.

Ainda visivelmente abalado, o outro filho de Abujamra, Alexandre, comentou o legado do pai. "O mais importante era a generosidade, uma pessoa absolutamente culta. Viveu a vida, se divertia e foi feliz. A mamãe foi embora e ele não quis mais [ficar]".

O corpo do diretor chegou às 22h30 de terça para ser velado no hall do Teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista, e deixou o local sob salva de palmas pouco antes das 13h desta quarta, para ser levado ao Crematório da Vila Alpina, na região leste de São Paulo.

Último almoço

André lembra que esteve pela última vez com o pai neste domingo (26). "Almoçamos com ele e na segunda fui para Brasília. Me ligava toda hora e tínhamos marcado de nos encontrar justamente hoje. Ele estava muito carinhoso", lembrou.

O irmão Alexandre deu jantar para o pai na noite de segunda e já na manhã seguinte, por volta das 8h, a cuidadora ligou para avisar que Abujamra estava desacordado.

Segundo André, o pai estava bem de saúde, mas andava depressivo. "Ele estava muito triste. Depois que minha mãe morreu há dois anos [Cibelia, mais conhecida como Belinha], ele ficou com muitas saudades. Estava já desgostoso", disse. 

Alexandre, ainda visivelmente abalado, apenas comentou: "O mais importante era a generosidade,  uma pessoa absolutamente culta. Viveu a vida, se divertia e foi feliz.  A mamãe foi embora e não quis mais".

Em uma cerimônia reservada, restrita a amigos e familiares, Antônio Abujamra foi cremado às 15h desta quarta (29) no Crematório Vila Alpina, zona leste de São Paulo.

Abujamra

  • Ricardo Matsukawa/UOL

    Vimos as crianças crescerem, fizemos 14 peças juntos sendo dirigidas por ele. Vi meus filhos todos iniciarem a carreira com ele --a Beth, a Bárbara, o Paulinho. Temos uma forte ligação, ele jamais deixará de estar em nosso coração, estará sempre junto conosco através das lembranças boas que deixou.

    Nicette Bruno
  • Ricardo Matsukawa/UOL

    Falar de um gênio é difícil. Era um homem a frente de seu tempo, inovador, inquietante, anárquico, como um gênio deve ser. O teatro e a televisão devem muito a ele. Esse é o legado que ele deixa. Para mim, ele era praticamente da família. Ele nos chamava de abominável família contente

    Paulo Goulart Filho, ator, sobre o ator e diretor, que era muito próximo de sua família
  • Ricardo Matsukawa/UOL

    Era um enorme amigo e um grande professor. Para todo artista que teve o privilégio de conviver com ele e ser tocado pela sensibilidade dele, o Abujamra evoluiu o artista.

    Juca de Oliveira , ator
  • Ricardo Matsukawa/UOL

    Todas as frases ditas por ele eram de um pensamento contundente, mas tinham um humor marcante e sarcástico. Ele era muito inteligente. Profissionalmente, aprendi a me libertar de muletas que às vezes o ator carrega. Vai fazer muita falta.

    Irene Ravache, atriz