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Morre, aos 82 anos, o ator e diretor de teatro Antônio Abujamra

Do UOL, em São Paulo

28/04/2015 10h25Atualizada em 28/04/2015 17h19

Morreu nesta terça-feira (28), em São Paulo, o ator, diretor e apresentador Antônio Abujamra, de 82 anos. A informação foi confirmada pela TV Cultura, onde ele apresentava o programa de entrevistas “Provocações”. Pai do músico André Abujamra, Antônio era também conhecido por ter interpretado o bruxo Ravengar, na novela "Que Rei Sou Eu?", da TV Globo.

Abujamra morreu em sua casa, no bairro de Higienópolis. A causa da morte foi um infarto do miocárdio. O velório será às 23h, no Teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista, e será aberto ao público. De acordo com a TV Cultura, o velório seguirá por toda a madrugada até às 13h de quarta-feira. O corpo será cremado no Crematório da Vila Alpina.

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A página oficial do programa "Provocações" no Facebook divulgou nota lamentando a notícia. "É com grande pesar que informamos que hoje, 28/04/2015, o apresentador de Provocações, Antônio Abujamra, faleceu. Agradecemos o carinho e apoio de todos que têm nos acompanhado ao longo desses 14 anos de programa."

Um dos principais nomes do teatro brasileiro nos anos 1960 e 1970, Abujamra ficou conhecido pela irreverência de suas encenações. Começou no teatro amador em Porto Alegre, na peça “Assim É se lhe Parece” e, ao longo de sua carreira, trabalhou ao lado de grandes nomes do teatro nacional, como Ruth Escobar, Nicette Bruno e Paulo Goulart, além de ter dirigido atores como Antônio Fagundes e Vera Holtz em diversas ocasiões.

Abujamra fala sobre legado

  • Ando na rua, vejo o nome do fulano de tal na placa, me pergunto quem será. Eu vou morrer, vai ter tabuleta na tabacaria, vai cair a tabuleta, vai cair o dono da rua, vai cair tudo. Não quero deixar nada

    Antônio Abujamra, em entrevista ao "Estadão", em 2012

Trajetória
Antônio Abujamra nasceu em 13 de setembro de 1932, em Ourinhos (SP). Formou-se em filosofia e jornalismo pela PUC do Rio Grande do Sul em 1957, época em que também se envolveu com o teatro, inicialmente como crítico, e depois como diretor e ator.

Após um tempo estudando na Europa, retornou ao Brasil em 1961, onde estreou profissionalmente dirigindo "Raízes", de Arnold Wesker, no Teatro Cacilda Becker, e "José, do Parto à Sepultura", de Augusto Boal, no Teatro Oficina. Em seguida, dirigiu uma série de espetáculos para a produtora Ruth Escobar, começando por "Antígone, América", de Carlos Henrique Escobar (1962). Em 1963, Abujamra fundou o Grupo Decisão com Antônio Ghigonetto e Emílio Di Biasi, com a intenção de fazer um teatro político, influenciado por Bertold Brecht. O grupo ganha prestígio e, em 1965, a montagem de "O Berço do Herói", de Dias Gomes, é interditada pela censura no dia do ensaio geral. Voltaria a ser alvo da censura em 1975, quando teve a montagem de "Abajur Lilás", de Plínio Marcos, proibida. No mesmo ano, dirigiu Irene Ravache e Lilian Lemmertz em "Roda Cor de Roda".

Abujamra na pele do personagem Ravengar, na novela "Que Rei Sou Eu?", em 1989 Imagem: Divulgação/Viva

Já nos anos 1980, dedicou-se a recuperar o Teatro Brasileiro de Comédia, com espetáculos de grandes  nomes, como Millôr Fernandes, Nelson Rodrigues e Dario Fo. A montagem de "Entre os sucessos Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoológico", de Fo, em 1984, projeta a atriz Denise Stoklos à carreira internacional.

Em 1991, fundou a companhia Os Fodidos Privilegiados e recebeu um Prêmio Molière pela direção de "Um Certo Hamlet", espetáculo de estreia do grupo. 

Também atuou no cinema, em filmes como “Festa”, “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil”, “Quem Matou Pixote?”, “Villa-Lobos, uma Vida de Paixão”, “Quanto Vale ou é por Quilo?”, “É Proibido Fumar” e “Assalto ao Banco Central”.

Nas novelas de TV, seu papel mais popular foi como o bruxo Ravengar, de "Que Rei Sou Eu?" (1989). Também autou em “Cortina de Vidro” (1989), “Amazônia” (1991), “O Mapa da Mina” (1993), “A Idade da Loba” (1995), “Marcas da Paixão” (2000), “Começar de Novo” (2004) e “Poder Paralelo” (2009). Sua última novela foi “Corações Feridos”, no SBT, em 2011..

Desde 2000, Abujamra apresentava o programa de entrevistas "Provocações", na TV Cultura. Ao todo, foram 695 edições do programa, para o qual entrevistou personalidades como Mario Prata, Maria Adelaide Amaral, Ruth Escobar, Clodovil, Antonio Petrin, Laura Cardoso e Paulo Autran. Em março último, conduziu uma emocionante entrevista com seu próprio filho, o músico André Abujamra - o apresentador é pai também de Alexandre.

Abujamra sempre abria o "Provocações", que ia ao ar às terças feiras na TV Cultura, definindo o campo que pretendia alcançar com suas entrevistas: "Esse programa pode não ser uma janela para o mundo, mas é certamente um periscópio sobre um oceano do social". Sobre a palavra que dava nome à atração, "Provocações", ele dizia que deveria ser dita "por uma Medeia, uma grega".

Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", em janeiro de 2012, foi questionado que legado gostaria de deixar. "Nenhum. Ando na rua, vejo o nome do fulano de tal na placa, me pergunto quem será. Eu vou morrer, vai ter tabuleta na tabacaria, vai cair a tabuleta, vai cair o dono da rua, vai cair tudo. Não quero deixar nada".

Ciente da fama de mal-humorado de Ambujamra nas entrevistas, o repórter insiste: "Mas você tem uma importância muito grande para o teatro". "A palavra importante não existe pra mim. Eu proíbo a palavra importante, eu proíbo a palavra humano, a barbárie tem o rosto humano, então eu não preciso usar, proíbo a expressão 'eu acho'. O achismo é uma bobagem."

O corpo de Abujamra será velado no Teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista, em São Paulo, a partir das 23h.

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