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Feirão de arte em SP vai de "Imaginarium chique" a Di Cavalcanti de R$ 4 mi

Luna D'Alama

Do UOL, em São Paulo

09/04/2015 07h00

É preciso bater perna pela 11ª edição da SP-Arte (Feira Internacional de Arte de São Paulo), no Pavilhão da Bienal, para encontrar uma obra que custe menos de R$ 3.000. Com sorte, podem-se garimpar pequenos quadros de artistas mais jovens por valores na faixa dos R$ 500. Mas, segundo a criadora e diretora do evento, Fernanda Feitosa, não é necessário ter muito dinheiro para consumir arte, apenas vontade de comprar. “Há opções a partir de R$ 500, R$ 1.000, livros de artistas. Temos mais de 3.000 obras expostas”, afirma.

Entre esta quinta (9) e domingo, a feira abre para o público em geral, por R$ 40 a entrada inteira e R$ 20 a meia. A exposição é dividida em quatro andares expositivos, focados em: mostras individuais de artistas, galerias menores e editoras de livros; obras de arte moderna pertencentes ao mercado secundário (a maioria é de artistas já mortos, disponível para revenda); as principais e mais influentes galerias, que definem os caminhos do mercado de arte (como White Cube, Marian Goodman e David Zwirner); e um último piso com obras de grande porte, instalações e performances.

Nenhum quadro, escultura ou instalação exibida nas 140 galerias da feira (83 nacionais e 57 estrangeiras) informa o preço, e os expositores também ficam um pouco melindrados em falar de valores à primeira vista, mas todas as obras estão à venda – ou já foram arrematadas. “As pessoas têm medo de perguntar quanto custa, mas não precisa ter vergonha. Só não colocamos plaquinhas com os preços para não ficar muita poluição visual”, diz o galerista Sergio Gonçalves, do Rio.

O estande dele, localizado no térreo, parece uma “Imaginarium chique” e tem o lema “Pode entrar, fique à vontade, a casa é sua”. As obras mais baratas da galeria são um conjunto de quatro telas da artista plástica mineira Vânia Barbosa, que sai por R$ 520 cada. Há, ainda, dois "relógios" do catarinense radicado no Rio Marcio Zardo por R$ 1.200 cada, desenhos do fluminense Eduardo Ventura por R$ 2.600 e recortes da mineira Andréa Facchini por R$ 2.800.

Além disso, os visitantes da SP-Arte terão condições facilitadas de pagamento, como cheque, boleto bancário ou em até 10 vezes sem juros no cartão de crédito. Este é o caso do Espaço E-Arte, em Pinheiros, que vende conjuntos de três a cinco peças – entre fotografias, gravuras, esculturas, instalações e técnicas mistas – por até R$ 6.800, ou 10 vezes de R$ 680. Algumas galerias também congelaram o dólar a R$ 2,80 – a cotação desta quarta-feira (8) fechou em R$ 3,05 –, e os estandes paulistas e estrangeiros têm isenção de ICMS que podem deixar as obras até 30% mais em conta.

Outras opções mais acessíveis ao bolso em tempos de crise é comprar reproduções oficiais, gravuras, serigrafias e obras múltiplas, que foram feitas em série pelos artistas. Segundo Renata Castro e Silva, da Carbono Galeria, em São Paulo, uma pintura da britânica Sarah Morris pode chegar a US$ 100 mil na disputada White Cube, enquanto ela negocia reproduções de gravuras da artista por US$ 8.000. Outro nome “bombante”, o americano Alex Katz tem o óleo sobre linho “Nabil’s Loft” (1976) à venda na galeria austríaca de arte contemporânea Thaddaeus Ropac por US$ 750 mil, enquanto quase ao lado, na Carbono, uma gravura dele sai por US$ 10 mil.

E para quem gostar das obras de alguma galeria específica, mas tiver dificuldade para achar algo que caiba no orçamento, a paulistana D.Concept informa que não levou seus trabalhos mais baratos para a SP-Arte e que a feira funciona apenas como uma vitrine. As pessoas que ficarem interessadas e quiserem ver mais podem ir até a sede da galeria, nos Jardins, e encontrar colagens por cerca de R$ 800.

Tire as crianças da sala

Na opinião de um grupo de mulheres que passava pela SP-Arte durante o lançamento para a imprensa e convidados, na quarta-feira, as obras maiores – como um painel acrílico dividido em várias partes, formando uma árvore – são lindas, mas é difícil pensar nelas entre família, em locais com grande fluxo de pessoas. “O único problema é que eu tenho criança em casa”, lamentou uma senhora.

E, para quem dinheiro não é problema, há quadros do carioca Di Cavalcanti da década de 1930 na faixa dos R$ 4 milhões, na Galeria Almeida e Dale, de São Paulo, e obras do britânico Damien Hirst na casa dos R$ 3 milhões, na americana Van de Weghe Fine Art – outros estandes, como o da White Cube, nem comentam valores de obras de Hirst. “Vir para o Brasil é vantajoso, pois os quadros de Hirst, por exemplo, tiveram uma queda de 30% na Europa, então as galerias europeias agora tentam aqui. E ainda tem a isenção de impostos”, destaca o curador e crítico de arte Mario Gioia.

Entre os grandes nomes, há também gravuras do pintor espanhol Pablo Picasso (da série Suíte Vollard) por 15 mil a 35 mil euros, na Dan Galeria; e, na Fólio Livraria e Galeria, estão à venda um quadro do espanhol Joan Miró por R$ 160 mil, uma peça única do russo-francês Marc Chagall po R$ 350 mil e uma pintura do americano Alexander Calder por R$ 600 mil.

Para os fãs do cantor e compositor Arnaldo Antunes, um surpresa: a Marsiaj Tempo Galeria, do Rio, exibe oito instalações de vídeos do artista, que custam entre R$ 10 mil e R$ 40 mil. “Ele foi coletando objetos e escrevendo uma poesia. Cada peça é uma história diferente, que fala de mudanças e da passagem do tempo”, explica a curadora Denise Mattar, que já representou o MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo e do Rio e o MCB (Museu da Casa Brasileira), na capital paulista, e passou a quarta-feira fazendo visitas guiadas com convidados da feira.

Até fotografias tiradas nas manifestações de junho de 2013, no Rio, já viraram obras de arte: na Roberto Alban Galeria, de Salvador, cada imagem (algumas fora de foco) em suporte de papel sai por R$ 2.000 a R$ 4.000.

Feira em forma de museu

“Para o público em geral, a SP-Arte acaba funcionando como um espaço para visitação, pois há obras aqui que não estão expostas em nenhum museu. E também é um momento para você encontrar pessoas, fazer contatos. Já para as galerias, além do retorno direto obtido com as vendas, a SP-Arte representa um investimento institucional, de imagem, e os artistas participantes ainda podem ser convidados para alguma exposição”, cita o curador Mario Gioia.

Na opinião de Fabiane Queiroz, do Ybakatu Espaço de Arte, de Curitiba, a feira também destaca artistas jovens, em ascensão, e há muitas obras exclusivas, vindas direto dos ateliês dos artistas. E os próprios artistas devem passar pela mostra: nesta quarta, a performer sérvia Marina Abramovic compareceu ao evento e conferiu seus quadros à venda na Luciana Brito Galeria, onde ela apresenta a exposição "Places of Power" desde segunda-feira.

“Aqui na feira, você fica mais livre do olhar dos curadores, passeia ao léu, vê o que quiser”, aponta a curadora Denise Mattar. Gioia completa: “O mundo das artes é tão particular que o público desta edição pode até crescer. Quando tudo está ruim, muita gente investe em arte”.

Sobre as apostas da feira, a diretora Fernanda Feitosa diz que, em dez anos, o evento já revelou muitos nomes, e nesta edição ela cita o paulista Ivan Grilo e o paulistano Jaime Lauriano como artistas que estão despontando.

Até domingo, a SP-Arte espera movimentar cerca de R$ 250 milhões em negócios e faturar R$ 29 milhões com o aluguel dos estandes aos 16 países participantes. Para quem quiser ver tudo, é preciso reservar um bom tempo, um excelente preparo físico e algum dinheiro caso a fome aperte: os estandes de comidas e bebidas instalados dentro da feira são a boulangerie Le Pain Quotidien, a marca de champanhe francesa Perrier-Jouët e o restaurante Santinho, do grupo Capim Santo, onde um sanduíche pequeno de carne seca sai por R$ 25 e a água, por R$ 7.

Serviço
SP-Arte 2015

Quando: De 9 a 12 de abril. De quinta a sábado, das 13h às 21h; domingo, das 11h às 19h
Onde: Pavilhão da Bienal - Parque Ibirapuera, Portão 3 (Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia, válida para estudantes, idosos, portadores de necessidades especiais e quem tiver Vale-Cultura)
Mais informações: No site da SP-Arte