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Obras apreendidas na Operação Lava Jato ganham exposição em Curitiba

Jorge Olavo

Do UOL, em Curitiba

06/03/2015 06h04

Quinze obras de arte apreendidas em ações da operação Lava Jato –que investiga esquema de lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos– estão em exposição no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba.

Entre as peças, os visitantes podem ver um óleo sobre tela de Di Cavalcanti; a aquarela "Manequins", de Iberê Camargo; e a tela "Nú Feminino", de 1942, de Tony Koegl. Conforme decisão da Polícia Federal, essas e mais 49 obras estão sob a guarda do museu, que tem autorização para expor o acervo.

As obras expostas fazem parte da mostra “Acervo MON – Aquisições 2013/2014” e ocupam duas das quatro alas reservadas para a coleção. Em meados de abril, outras 48 peças apreendidas poderão ser vistas pelo público em uma exposição que deverá ser chamada “Obras sob a guarda do museu”.
 
A nova mostra terá ainda trabalhos dos renomados Vik Muniz, Salvador Dalí, Romero Britto, Nelson Leirner, José Bechara, Daniel Senise, Cícero Dias, entre outros. Espera-se que, em quatro meses, pelo menos 120 mil pessoas vejam os quadros. O UOL teve acesso a todas as obras e você já pode conferi-las no álbum acima.
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“Fomos procurados e ficamos com a guarda judicial dessas obras por termos condições adequadas para abrigá-las e por sermos um museu destinado a esse tipo de arte”, afirma a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, ressaltando que administra o maior museu de arte contemporânea da América Latina.
 
Assim que chegaram ao museu, as obras passaram por um período de quarentena, em que foram isoladas e observadas por técnicos para afastar quaisquer possibilidades de contaminarem o acervo do MON com cupins ou fungos. As peças também foram higienizadas e, após esse período, passaram a ser acondicionadas na Reserva Técnica da instituição, onde a temperatura, a umidade do ar e a luminosidade são controladas.
 
Apreensões
 
A primeira leva de obras foi apreendida em março de 2014 na residência e no escritório da doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama, em São Paulo. Nelma foi presa em 15 de março de 2014 quando tentava embarcar para a Europa com 200 mil euros na calcinha. Segundo a Justiça, ela seria uma “grande operadora do mercado negro de câmbio e líder de grupo criminoso envolvido na prática de crimes financeiros”. Durante meio ano, cerca de US$ 5,2 milhões foram movimentados ilegalmente em 91 contratos fraudulentos de importação.
 
De acordo com sentença do juiz federal Sergio Fernando Moro, de 22 de outubro de 2014, 12 obras apreendidas na residência de Nelma foram confiscadas pela Justiça. A doleira foi condenada a 18 anos de reclusão e R$ 1,81 milhão de multa por crimes de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, participação em organização criminosa, corrupção ativa e operação de instituição financeira irregular.
 
“Não há prova de que tais obras foram adquiridas com receitas lícitas. Segundo Nelma, em seu interrogatório, ela teria recebido os quadros em dação de pagamento de dívidas por Raul Henrique Srour [outro doleiro ligado a Alberto Youssef investigado na operação Lava Jato]. Tais dívidas teriam por origem operações cambiais do âmbito do mercado negro de câmbio”, diz a sentença.$escape.getH()uolbr_geraModulos('embed-citacoes','/2015/kurten-1425606277153.vm')
 
A única obra que não está sendo exposta é atribuída ao pintor francês Pierre-Auguste Renoir. Como não se sabe se a pintura é original, a administração do museu optou por não apresentá-la ao público.
 
Outras 48 obras apreendidas por policiais federais em fevereiro deste ano também estão sob a guarda do MON. Os bens foram encontrados na residência do empresário Zwi Skornicki, que foi representante da empresa Kepell Fels no Brasil e atua no ramo de estaleiros. Ele passou a ser investigado na Lava Jato após o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco depor à Justiça que Skornicki estaria envolvido com o pagamento de propinas.
 
De acordo com a Polícia Federal, as autoridades não sabem qual o valor de cada obra, que poderia ser mensurado com a avaliação de técnicos e diante documentos que comprovem o preço pago em cada tela. No entanto, nos bastidores do MON, especula-se que um dos trabalhos do artista plástico brasileiro Vik Muniz, por exemplo, estaria na casa de R$ 1 milhão.
 
Até segunda ordem, as obras continuarão sob a tutela do MON. A Justiça ainda não definiu qual será o destino dos bens apreendidos, que podem ir a leilão ao fim do processo judicial. “Essa é uma decisão da Justiça, mas a nossa esperança é que elas fiquem aqui. O museu tem uma função social, de democratizar o acesso à arte e à cultura”, diz a diretora-presidente do MON.
 
Surpresa
 
Ao se depararem com os trabalhos apreendidos na operação Lava Jato nos corredores do MON, os visitantes ficam surpresos. “Não somos muito conhecedores de arte, mas acho que essas obras são valiosas e têm de ser expostas ao público”, afirma a corretora de imóveis Shao Mai.
 
“Acho interessante que essas obras estejam com o museu. De outra forma, estariam em um depósito público, sabe-se lá em que condições. Acho que seria melhor se elas fossem incorporadas ao patrimônio, mas, infelizmente, a ordem natural é de que vão a leilão”, diz o advogado e escritor Paulo Felipe Kurten.
 
“Sabia que as obras estavam expostas aqui, mas não que eram essas. As peças poderiam ter mais informações. Acredito que as obras deveriam ser leiloadas”, afirma a estudante de Turismo Maluane Ferrari, que acredita que o dinheiro desviado com as obras deveria voltar aos cofres da União.

Operação Lava Jato