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Pioneiro nacional entre vídeos virais, "Tapa na Pantera" não rendeu lucros

Tapa na Pantera

  • Os jovens não me conheciam como atriz, mas ainda ontem dois me abordaram e pediram para tirar foto comigo. Eu adoro. Eles vêm com o maior respeito, dizem que sou uma atriz do YouTube

    Maria Alice Vergueiro

Felipe Blumen e Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

26/02/2015 10h43

Um vídeo sem graça, de um jovem no zoológico que constata que a tromba do elefante é realmente comprida, poderia passar despercebido se não representasse um marco da internet. Estrelado pelo cofundador do YouTube, Jawed Karim, o vídeo, que acumula mais de 18 milhões de visualizações, foi o primeiro a ser publicado na maior plataforma de vídeos do mundo, que completou dez anos neste mês de fevereiro.

Em 2006, um ano depois da inauguração tímida, o Brasil entendeu o poder do Youtube com "Tapa na Pantera", um curta sobre piadas com maconha, feito sem querer, que foi parar na internet por acaso e acabou se tornando um dos primeiros sucessos virais brasileiros.

Na época, a dama do teatro Maria Alice Vergueiro já tinha atuado em mais de 30 peças quando abriu as portas do apartamento em Higienópolis para três estudantes de cinema na Faap --Esmir Filho, Mariana Bastos e Rafael Gomes--, que usariam o espaço como set para um trabalho. "Mas na hora, fiquei inspirada e deu vontade de fazer uma entrevista supostamente mais séria", disse a atriz ao UOL, por telefone.

No improviso, os quatro foram montando o roteiro da senhora que faz piada com o hábito de fumar maconha e que tornou célebre a frase: "Claro, eu fumo no cachimbo porque o que faz mal é o papelzinho". Ainda desconhecendo o potencial que o vídeo poderia ter na internet, os diretores se preparavam para inscrevê-lo em festivais de cinema, mas um funcionário da produtora onde trabalhavam fez o upload e a "viralização" foi inevitável.

"É muito louco pensar que naquela época não tinha essa lógica comercial do Youtube. Um vídeo desses iria para festival de cinema, mas algum funcionário copiou e subiu. Nunca soubemos quem foi, mas depois aproveitamos o sucesso. Foi o melhor ato de pirataria das nossas vidas", conta Rafael Gomes.

Depois disso, Vergueiro viveu algo inédito. Começou a ser reconhecida por adolescentes nas ruas, que ela chama de seus "milhões de netinhos", e faz selfies com eles até hoje. "Ninguém entre os jovens me conhecia como atriz, mas ainda ontem dois me abordaram na rua e pediram para tirar foto comigo. Eu adoro. Os jovens são muitos simpáticos. Eles vêm atrás de mim, mas não como iriam atrás de uma atriz de televisão. Eles vêm com o maior respeito, dizem que sou uma atriz do YouTube".

O diretor também conta que o vídeo é o melhor cartão de visita que poderia ter, mas tanto ele quanto a atriz afirmam que sucesso é bem diferente de retorno financeiro. "Significou tudo e não significou nada. Ainda hoje, nove anos depois, não tem nada que eu tenha feito com uma abrangência como o 'Tapa na Pantera'. Já fiz série de TV na Globo e nem todo mundo viu, mas do 'Tapa' todo mundo sabe. Nesse sentido, é incrível, vai para a vida inteira. Mas diretamente por causa dele eu não consegui nada", afirma Gomes.

Vergueiro, que quando filmou o "Tapa" não sabia o que era YouTube, diz que, naquela época, a plataforma era uma brincadeira, uma manifestação de vídeos quase familiar. "Acho que agora eu teria mais formas de comercializar. Não sei como seria, mas o YouTube está muito, digamos, festejado. É muito tempo, ele deu um salto muito grande. Já teve 'Porta dos Fundos' e tudo, com outra visão de usar a publicidade".

A máxima de que o vídeo significou tudo e nada também serve para a atriz, que, aos 80 anos, dedica-se essencialmente ao teatro. Ela trabalha na montagem da peça "Why The Horse?", com previsão de estreia em abril. Convites para trabalhos em vídeo são esporádicos. "Ontem mesmo me pagaram para fazer a voz de uma verruga. Ganhei um troco, mas o ideal seria que tivesse um desses por dia. Tem sido uma coisa muito esporádica". Ela ainda diz que queria morrer em cena, mas que acredita que pode ganhar um dinheirinho com o YouTube.