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Depois de ler a trilogia, fãs criam novas histórias com casal de "50 Tons"

vidaurreta

  • Reprodução/Facebook

    O que todas [as boas fanfics] têm em comum é a relação da Anastasia e do Christian. Umas valorizam mais a relação física deles, outras valorizam o amadurecimento do relacionamento dos dois, mas o foco é sempre o casal

    Laura Vidaurreta, autora de "Cinquenta Tons Eternos"

Rodrigo Casarin

Do UOL, em São Paulo

13/02/2015 07h00

Da fanfic vieste, à fanfic retornarás.

Ok, a adaptação do provérbio bíblico com o termo fanfic (ficção criada por fã a partir de alguma obra famosa) pode ter um gosto questionável, e alguns ainda poderão considerá-la uma heresia por ter sido usada logo em uma matéria sobre “Cinquenta Tons de Cinza”, mas é uma forma de condensar em uma única frase a trajetória da famosa obra de E. L. James, que chega aos cinemas nesta semana (veja o trailer acima). Se a autora iniciou a sua trilogia fazendo fanfics apimentadas de “Crepúsculo”, nada mais justo que agora, após tamanho sucesso, veja suas tramas e personagens inspirando novas fanfics.

Dentre as centenas –se não milhares– de versões alternativas para a história de Anastasia Steele e Christian Grey escritas por fãs de “Cinquenta Tons de Cinza”, uma das nacionais que se destaca é “Cinquenta Tons Eternos”, escrita por Laura Vidaurreta, 31 anos, que trabalha como tradutora e é fã da saga. “Para mim, a trilogia representa amor e redenção. Às vezes, o que você conhece por verdade absoluta pode ir por terra quando se conhece o amor verdadeiro. O amor  transforma, melhora, amadurece”, enumera.

Dividida em 65 capítulos, a história da fanfic criada por Laura levou cerca de um ano para ser escrita. A autora se preocupou, principalmente, em trabalhar com os personagens, desenvolvê-los, sem que perdessem sua essência. A partir disso, criou novas situações para que pudesse, bem como seus leitores, ter mais momentos com Anastasia e Christian, elaborando uma continuação da vida dos dois. “O final do terceiro livro deixou algumas pontas soltas, e eu achei que ainda havia muita história para contar”, diz ao explicar as razões que a levaram a criar uma ficção a partir da obra.

Seguindo premissa semelhante, é possível encontrar pela internet desde simples continuações da história contada por E. L. James até iniciativas que extrapolam o sadomasoquismo light proposto pela escritora e entram em temas ainda mais polêmicos, ligados ou não ao sexo, tais quais relacionamentos incestuosos e tráfico humano. Como é de se esperar na web, o bizarro também está presente, seja em versões com direito a vampirismo, por exemplo (uma espécie de volta à gênese da obra, aliás), seja em versões com ilustres participações de astros como Justin Bieber ou os garotos do One Direction –destas, “After”, de Anna Todd, está para virar filme, inclusive.

Uma das fanfics que mais fazem sucesso dentre os fãs da trilogia é “Cinquenta Tons de Cinza – Versão Grey”, de Emine Fougner, que narra a história da perspectiva do personagem dominador pelo qual Anastasia se apaixona e que a inicia no sadomasoquismo. Laura destaca também “Cinquenta Tons Intermediários”, de Isabelle Abreu. “O que todas [as boas fanfics] têm em comum é a relação da Anastasia e do Christian. Umas valorizam mais a relação física deles, outras valorizam o amadurecimento do relacionamento dos dois, mas o foco é sempre o casal”, diz Laura.

A autora de "Cinquenta Tons Eternos", que fez seu trabalho de forma despretensiosa, acreditando que poucas pessoas o leriam, já alcançou cerca de 300 mil leitores. Ela credita o sucesso de sua fanfic e de diversas outras ao apego das pessoas pelos personagens. “Acho que não queriam se despedir deles. Penso que, assim como eu, elas também queriam saber o que aconteceu com eles depois do final do terceiro livro”, argumenta.

De Icy a E. L. James

“Master of The Universe”, mais conhecido dentre os fãs pela sigla Motu. Esse era o nome da fanfic que E. L. James (que assinava como Icy) escrevia ampliando os horizontes de “Crepúsculo”, um de seus livros favoritos. Na narrativa, publicada a partir de 2009, a autora expunha Bella, a protagonista da saga vampiresca, a diversas seções de sexo extremo, com direito a abusos e crueldades, comandadas pelo vampiro Edward, seu par na história. A abordagem começou a circular com intensidade dentre os fãs da saga de Stephenie Meyer e o sucesso não tardou.

Com cada vez mais leitores, logo Icy mudou seu nome para E. L. James, passou a publicar os textos em seu próprio blog e proibiu que traduções dos escritos fossem feitas. Em seguida, começou a limar as referências a Crepúsculo de suas histórias e a tentar apagar as reminiscências do início de seu trabalho da internet. Em 2011, quando lançou o primeiro livro de “Cinquenta Tons de Cinza”, já tinha criado uma trama para chamar de sua, apesar de não negar que seus personagens principais são mesmo inspirados em Edward e Bella.

Assim, de uma fanfic, nascia um dos maiores sucessos editoriais de todos os tempos, que já vendeu mais de 100 milhões de cópias ao redor do mundo, foi traduzida para mais de 50 idiomas, fez com que as prateleiras de livrarias ficassem repletas de erotismo comedido e agora chega aos cinemas.