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Em musical sobre Chacrinha, Boni aparece como vilão

Fabíola Ortiz

Do UOL no Rio

11/11/2014 18h52

Com direção do cineasta Andrucha Waddington, que começa a dirigir também espetáculos teatrais, “Chacrinha, o Musical” estreia nesta sexta (14) e revive momentos marcantes da carreira de um dos maiores comunicadores do país.

O texto é de autoria do jornalista Pedro Bial, que divide os créditos com Rodrigo Nogueira – autor do musical sobre o Rock in Rio – mas também com uma ilustre figura que acompanhou boa parte da ascensão de Chacrinha na televisão, o ex-diretor artístico da Globo José Bonifácio Sobrinho, o Boni.

“Nesta peça, dois gênios ficam frente a frente, o Chacrinha e o Boni. Há um antagonismo e o grande antagonista do Chacrinha é o Boni na peça. Ao mesmo tempo que Boni brigava com ele, foi Boni que reconheceu a genialidade do Chacrinha”, comentou Bial, que conheceu Chacrinha pessoalmente quando estudante. "O fenômeno continua", disse.

Pelo fato de a figura de Boni aparecer como vilão, Bial e o diretor Andrucha Waddington foram pessoalmente pedir permissão ao ex-diretor. “Conversamos com o Boni, passamos o texto e o que foi que aconteceu? O Boni escreveu três cenas. Ele virou um coautor também”, disse Bial.

Espetáculo

Comandante de extravagantes concursos de calouros, responsável por revelar grandes nomes da música nacional e inventor de bordões como "Alô, Alô, Terezinha!", o "velho guerreiro", como ficou conhecido Chacrinha, é interpretado por Stepan Nercessian na fase em que já estava consagrado no rádio e na TV, e por Leo Bahia, quando o jovem Abelardo Barbosa dava os primeiros passos na carreira. Bahia foi revelação no espetáculo universitário "The Book of Mormon".

A equipe de produção e os 22 integrantes do elenco receberam a imprensa na tarde desta terça para exibir algumas cenas do espetáculo. Enquanto conversava com a imprensa, Pedro Bial aproveitava para postar uma selfie sua com o Stepan Nercessian no Instagram e para seus três milhões de seguidores no Twitter. Bial aparentava felicidade ao ver a performance do elenco no palco. Ele fez questão de acompanhar alguns ensaios.

Ver o espetáculo pronto é o “sonho de consumo” de quem escreve, definiu. “É ver o seu delírio materializado. E foi o que o Chacrinha fez, materializou o próprio delírio. Não pude acompanhar muitos ensaios, me afastei na temporada do ‘Na Moral’. Agora que voltei de viagem, vim todos os dias ao ensaio”, disse.

Bial revelou que tentou ao máximo ser fiel à história de Chacrinha. “Quis ser leal e acho que consegui mostrar que, além de ser um sujeito com uma imaginação absolutamente fora do comum, ele foi um produto do folclore brasileiro”, argumentou.

Bial informou que ao longo do processo de escrita, manteve contato com a família, mas que não teve que submeter o texto para aprovação dos parentes.

“O Chacrinha foi o primeiro palhaço eletrônico”, definiu Bial. Ao ser questionado sobre o legado deixado por José Abelardo Barbosa, que ficou mais conhecido pelo personagem que encarnou.

“Ele está presente em tudo  que se faz na TV brasileira e do mundo. O Chacrinha foi um pioneiro da comunicação de massas que se inaugura naqueles inícios dos anos 60. Os grandes fundadores da cultura de massa foram os Beatles, Picasso, Kennedy, De Gaulle e Chacrinha. Em que a política também virou um espetáculo de massa”, comentou.

Como apresentador de televisão, Bial ressalta que também vê na figura de Chacrinha uma referência e admite que cultua uma pequena estatueta que foi do apresentador, presente da família a ele.

Na sua opinião, hoje quem mais se assemelha a Chacrinha é a apresentadora Regina Casé no programa "Esquenta" da Rede Globo. "Ele informalizou e desformalizou a televisão. Nos libertou a todos. O maior legado dele é a brasilidade”, destacou.

O espetáculo estreia no próximo 14 de novembro no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Com orçamento de R$ 12 milhões, a montagem é assinada pela Aventura Entretenimento, maior produtora de musicais do país.