Jornalista Zuenir Ventura é o novo imortal da Academia Brasileira de Letras
O escritor e jornalista Zuenir Ventura foi eleito nesta quinta-feira (30) como o sucessor de Ariano Suassuna na Academia Brasileira de Letras, em votação realizada na sede da entidade, no Rio de Janeiro.
Colunista do jornal "O Globo", Zuenir Ventura, 83, é um dos mais renomados jornalistas do país --vencedor do Prêmios Esso de Jornalismo e do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Ele se torna o novo ocupante da cadeira 32, vaga após a morte de Suassuna no dia 23 de julho deste ano, no Recife.
"É um misto de emoções positivas: alegria, claro, muita responsabilidade", disse Zuenir ao UOL. "Neste momento, sobretudo, é uma sensação de profunda felicidade. Na minha vida profissional, não me lembro de uma notícia que tenha me dado tanta alegria", completou.
O presidente da ABL, Geraldo de Holanda Cavalcante, também comentou a eleição do novo acadêmico. "Recebemos Zuenir com grande alegria. Ele é um cronista, um escritor querido por sua dedicação e por sua lucidez. A Academia está muito feliz em recebê-lo", afirmou.
Zuenir recebeu 35 dos 37 votos possíveis, enquanto Thiago de Mello e Olga Savary tiveram um voto cada. A eleição foi realizada com a presença de 18 acadêmicos e os outros 19 votaram por carta.
Além de Suassuna, os ocupantes anteriores da cadeira 32 foram Carlos de Laet, Ramiz Galvão, Viriato Correia, Joracy Camargo e Genolino Amado.
A Prefeitura do Rio e o Governo do Estado de Minas Gerais já se ofereceram para pagar o fardão de Zuenir, o suntuoso traje inspirado nos uniformes de reis e membros da Academia Real Francesa que os acadêmicos precisam vestir para atender às sessões solenes da entidade. Os uniformes chegam a custar R$ 70 mil.
A posse do jornalista ainda não está marcada e só deve ocorrer em 2015.
Carreira
Nascido em 1931 em Além Paraíba, interior de Minas Gerais, Zuenir ingressou no jornal carioca "Tribuna da Imprensa" nos anos 1950. Em 1959, recebeu uma bolsa do governo francês para estudar em Paris, e atuou como correspondente da "Tribuna", fazendo coberturas de eventos históricos, como a passagem de João Goulart pela capital francesa antes de se tornar presidente e o encontro de cúpula em Viena entre Kennedy e Kruschev.
Zuenir depois retornou ao Brasil e trabalhou em veículos como "O Cruzeiro" e "Visão". Em 1968 foi preso, acusado de atividades subversivas pela ditadura militar. Ele depois escreveria um dos maiores destaques de sua bibliografia: "1968: O Ano que Não Terminou" (1989), que se tornaria inspiração para a minissérie "Anos Rebeldes", da Rede Globo. Nos anos 1970 e 1980, Zuenir ocupou ainda cargos de chefia em publicações como as revistas "Veja" e "IstoÉ".
Em 1989, o jornalista foi enviado para o Acre para cobrir para o "Jornal do Brasil" um dos casos de maior repercussão daquele ano: o assassinato do líder seringueiro Chico Mendes. Com as reportagens, Zuenir ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo e o prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Ele ainda voltaria ao tema em 1990, quando voltou à região para acompanhar o julgamento dos responsáveis pela morte de Chico Mendes. O caso foi retomado no livro "Chico Mendes - Crime e Castigo", publicado em 2003, obra que reúne as reportagens originais sobre o seringueiro e também narra uma viagem de retorno ao Acre 15 anos depois, na qual Zuenir revisitou lugares e personagens envolvidos no crime.
Em 1995, Zuenir ficou com o segundo lugar no Prêmio Jabuti de Reportagem pelo livro "Cidade Partida", em que conta a experiência de passar nove meses frequentando a favela de Vigário Geral e retrata as causas da violência no Rio.
No cinema, ele codirigiu o documentário "Um Dia Qualquer" e foi roteirista de outro, "Paulinho da Viola: Meu Tempo É Hoje", de Izabel Jaguaribe. Suas livros mais recentes são "Minhas Histórias dos Outros", "1968 - O que Fizemos de Nós" e "Conversa sobre o Tempo", com Luis Fernando Verissimo.
Em 2008, Zuenir Ventura recebeu da ONU um troféu especial por ter sido um dos cinco jornalistas que “mais contribuíram para a defesa dos direitos humanos no país nos últimos 30 anos”. Em 2010, foi eleito “O jornalista do ano” pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros.
Aos 81 anos, em 2012, o jornalista se lançou à literatura e publicou seu primeiro livro de ficção, "A Sagrada Família", em que se inspira em suas memórias para narrar as descobertas, relações afetivas, sexuais, a culpa e o pecado de um garoto na década de 1940.
* Com reportagem de Cláudia Dias, no Rio de Janeiro
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