Autora espanhola de best-sellers eróticos diz que homens a leem escondidos
Quando a espanhola Megan Maxwell, uma mulher de 49 anos que estava acompanhada da mãe, encontrou a reportagem do UOL no saguão do hotel onde estava hospedada em São Paulo, era difícil imaginar que, por trás daquela mulher de aparência tranquila, escondia-se uma autora de best-sellers eróticos recheados de orgias, brinquedos sexuais e --por que não?-- bom humor. A autora é conhecida principalmente pela série "Peça-me o que Quiser" (Suma das Letras), que já teve mais de 225 mil livros vendidos na Espanha e se tornou sucesso também em outros países, entre eles o Brasil.
Numa época em que romances eróticos mais sisudos, como a série "50 Tons" (E.L. James, editora Intrínseca), bate recordes de vendas ao abordar temas como dominação e sadomasoquismo, os romances de Megan Maxwell trazem personagens femininas fortes, que não têm inibição nenhuma em explicar aos parceiros, em detalhes, o que elas querem que eles façam.
"Eu gostei dos livros '50 Tons', mas não é da minha preferência uma história com a mulher tão submissa. E eu escrevo para leitoras que também não têm essa preferência", contou ao UOL a autora, que está em turnê pela América Latina lançando "Adivinhe Quem Sou" (Planeta). "Por muitos anos, as mulheres se deixaram dominar. Não gosto quando eu leio um livro erótico, e a mulher está abaixo do homem. Eu prefiro que a mulher esteja igual ao homem e, se possível, acima dele", diverte-se.
Megan começou a ser publicada apenas em 2009, mas já possui mais de 20 livros lançados, que vão de romances eróticos a comédias românticas mais inocentes. O segredo de sua produção é que ela passou 16 anos escrevendo e divulgando os livros entre amigos e familiares antes de se tornar fenômeno editorial.
Na entrevista da escritora ao UOL, ela falou sobre a sua relação com os fãs, o preconceito com a literatura erótica e como ela cria as fantasias que atraem milhares de leitores, entre outros assuntos. Confira:
UOL - O que os fãs de "Peça-me o que Quiseres" podem esperar nessa nova série iniciada por "Adivinhe Quem Sou"?
Megan Maxwell - As novidades estão nos novos personagens, na nova história, uma nova maneira de encarar o sexo. É uma comédia divertida dentro de um romance erótico.
Você escreveu mais de 20 livros. Qual é o segredo para ser uma autora prolífica?
Eu comecei a publicar seis anos atrás, mas escrevo há 22. As editoras não queriam me publicar, mas eu gostava de escrever mesmo assim. Dava para a minha mãe ler, para a minha família e meus amigos. E quando fui publicada pela primeira vez, há seis anos, quando as editoras se interessaram por mim, eu já tinha diversos romances prontos. As editoras viam o meu catálogo no site que eu montei e diziam "nos passe esse para publicarmos", e eu entregava o livro já pronto.
A literatura erótica parece passar por um novo momento com o sucesso de livros como sua série "Peça-me o que Quiser" e "50 Tons". Por que esse movimento está acontecendo, na sua opinião?
As mulheres hoje em dia têm se relacionado de forma melhor. Nós sabemos o que queremos, lemos bastante o que queremos e escrevemos o que queremos também. Se eu publicasse os meus livros há 30 anos, teria sido um escândalo. Pelo menos na Espanha. E imagino que aqui também. Mas estamos no século 21, as mulheres gostam de literatura erótica, livros que as levem a pensar e imaginar.
A protagonista de "Adivinhe Quem Sou", Yanira, tem uma relação muito mais de igual para igual com seus parceiros do que em outros livros eróticos, que costumam abusar do clichê "garota inexperiente se envolve com milionário sedutor". Ela também não tem problema em falar claramente a seus parceiros o que deseja sexualmente...
As personagens de todos os meus romances são mulheres de muitos caráter. E eu me dei conta de que as leitoras também gostam disso. Ler sobre uma mulher que, no sexo, possa falar: "eu gosto que você faça isso". Porque, antes, as mulheres não falavam sobre sexo. O homem sempre propunha, e a mulher aceitava. Mas atualmente a mulher também propõe. As leitoras se reconhecem mais.
O quanto de seus livros você baseia na sua vida real, tanto nas tramas quanto na vida sexual?
Tem um exemplo que eu sempre dou: os autores que escrevem "thrillers" e sobre assassinatos não matam pessoas para escrever. Se eu escrevo sobre "menáges" e orgias, não quer dizer que eu tenha passado por isso. É fruto da imaginação. Por exemplo: no meu livro "Adivinha Quem Sou" há o compartilhamento de parceiros, o que é algo muito comum na Europa. Eu moro em Madri e, se você busca na internet "bar de suingue em Madri", encontra dezenas. E ali costumam explicar as normas da casa. Portanto é uma combinação de me informar e soltar a fantasia. Como todos os romances que leio ultimamente tratam de submissão e dominação, eu queria escrever sobre algo diferente, portanto me voltei ao mundo swinger. Mas eu nunca fui em nenhum desses encontros.
Mas você deve receber muitos convites...
Milhares! Muitos donos de bares de suingue entram em contato comigo para me convidar e para agradecer pelo aumento no movimento devido aos livros. Eu conto sobre esses convites para o meu marido, e ele fica envergonhado (risos).
Às vezes parece que a literatura erótica é esnobada por segmentos da imprensa. Alguns críticos chegam a usar o termo "mommy porn" (pornografia para mães). Por que você acredita que existe esse preconceito?
Não gosto nem um pouco do termo "mommy porn" nem acho que ele seja muito preciso, porque muitos homens leem os meus livros. Muitos mesmo. Apenas parece que há um número muito maior de mulheres porque elas admitem que leem, e os homens ficam quietos. Quando entram em contato comigo nas redes sociais, os homens me agradecem pelos livros em conversas privadas. E eu digo que eles podem falar em público como as mulheres. E sabe o que eles me dizem? Que não falam porque têm vergonha caso os amigos descubram que eles estão lendo os meus livros. E eu não duvidaria nada de que seus amigos estejam lendo escondidos também. Mas as mulheres falam o que estão lendo sem nenhum pudor.
Os leitores agradecem por você ter melhorado suas relações?
Muitos leitores e leitoras me escrevem agradecendo por suas vidas sexuais terem voltado à ativa devido aos meus livros. Há leitoras que depois vão com seus parceiros a bares de suingue. Outras não vão, mas ficam excitadas com histórias sobre esses bares. E mais importante: por causa desses romances, muitas mulheres começam a conversar com seus maridos sobre algo que nunca falaram antes. É quebrado o tabu da conversa sobre sexo entre o casal. Há o medo de que se uma parte propõe algo como um "menáge", a outra pode achar que não gosta mais dela. Mas sexo é sexo e amor é amor. O sexo é a fantasia, é se divertir.
Já teve alguma fã que disse que tentou recriar cenas de seus livros?
Muitas vezes. As pessoas me escrevem contando TUDO! Eu mostro para o meu marido: "olha só o que me escrevem", e ele fica abismado. Vira um confessionário. Eu não sou sexóloga, e pessoas também me pedem conselhos. Mas sou só uma escritora com livros eróticos na bibliografia.
O livro parece unir o humor de comédia romântica com um erotismo bem aberto. Como é buscar esse tom mais leve?
Eu escrevo livros românticos e, dentro disso, existem diversos subgêneros. Pode ser "chick lit" (voltado a mulheres), contemporâneo, medieval, erótico. E se eu escrevo uma história mais inocente de amor ou um romance erótico com bastante sexo, sempre incluo o humor. Eu gosto muito do humor e de escrever livros que fazem as pessoas sorrirem enquanto os leem. Não busco nada muito dramático ou sombrio. E os leitores acabam migrando entre os diferentes gêneros. Um que me conhece por romances de viagem no tempo pode ir para o erótico e vice-versa.
Qual foi a resposta de um leitor que te deixou mais feliz?
São muitas. Mas aconteceu uma em particular, de uma garota com câncer, que me comoveu muito. Eu tenho um livro de "chick lit" chamado "Las Ranas También se Enamoran" (as rãs também se apaixonam, em livre tradução), e uma garota que estava fazendo quimioterapia estava lendo o livro e rindo muito. E as mulheres ao lado dela na quimioterapia perguntaram o que ela estava lendo, e ela mostrou o livro. Ao final, todas as mulheres e garotas da quimioterapia compraram o livro e leram juntas. Eu também tenho um livro sobre o câncer de mama, mas sempre transformo o tema em uma história romântica e divertida. E muitas mulheres com câncer de mama me escreveram agradecendo, dizendo que o livro ajudou a seguir adiante por mais que passem por uma situação difícil. Eu tento mostrar que, por mais difícil que seja, é importante não desistir.
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