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Antonio Prata e sete brasileiros são finalistas ao Prêmio Portugal Telecom

Capa do livro "Nu, de Botas", de Antonio Prata - Divulgação
Capa do livro "Nu, de Botas", de Antonio Prata Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

25/09/2014 15h20

Oito escritores do Brasil e quatro de Portugal são os finalistas ao Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2014, importante prêmio de literatura em língua portuguesa. A 12ª edição do evento segue o formato dos dois anos anteriores, com três categorias: romance, conto/crônica e poesia. A premiação é de R$ 50 mil para cada um dos três vencedores. O ganhador do Grande Prêmio Telecom 2014 ainda leva mais R$ 50 mil.

Na categoria contos e crônicas, três escritores brasileiros concorrem. Antônio Prata (de “Nu, de Botas”) e Luís Henrique Pellanda (“Asa de Sereia”) são “exemplos acabados de como o humor, o apuro de linguagem e um sentido de observação oblíquo podem gerar crônicas impecáveis e divertidas”, diz a nota de divulgação da prêmio. 

Completam os indicados Everardo Norões, com o único livro de contos da categoria, “Entre Moscas”, e a portuguesa Alexandra Lucas Coelho, com “Viva o México”.

Os brasileiros Carlos de Brito e Mello (“A cidade, o inquisidor e os ordinários”), Sérgio Rodrigues (“O Drible”) e Verônica Stigger (“Opsanie swiata”) concorrem na categoria romance. Na poesia, chegam à final dois poetas brasileiros e dois portugueses. Guilherme Gontijo Flores (“Brasa enganosa”) e Zuca Sardan (“Ximerix”) servem-se da ironia e do humor para dar vigor à poesia brasileira atual.

Os finalistas foram divulgados na mesma semana que o Prêmio Jabuti anunciou seus concorrentes. Nele, os vencedores de cada uma das 27 categorias receberão um prêmio de R$ 3,5 mil. Para Livro do Ano de Ficção e Livro do Ano de Não Ficção, o valor sobe para R$ 35 mil.

CATEGORIA ROMANCE 2014:

A cidade, o inquisidor e os ordinários, de Carlos de Brito e Mello – Companhia das Letras
Um “inquisidor” percorre a cidade apontando as falhas dos moradores que, por sua vez, aderem ao mesmo comportamento, e toda a cidade se converte numa espécie de auto de fé ou farsa. Com uma linguagem precisa que fere na altura exata, neste romance tudo pode ser lido indiretamente: a contaminação da fofoca nas redes sociais, a moralização dos arautos, a passividade moral etc

Matteo perdeu o emprego, de Gonçalo M. Tavares – Editora Foz
Com uma fusão de ensaio e ficção, o romance arma-se como um jogo de xadrez: as personagens se tocam e seguem adiante, em outros lances. No dia a dia cada um tangencia outras tantas pessoas – sem que a gente saiba que princípio organiza as redes imperceptíveis de nossos contatos. Ironicamente o autor escolhe a ordem alfabética para fazer a aparição das personagens. Matteo perde o emprego é uma metáfora da perversão do sistema: o especialista é alguém reduzido a ser uma peça na engrenagem; o desempregado é reduzido a aceitar o que as circunstâncias oferecerem.

"O Drible", de Sérgio Rodrigues – Companhia das Letras
Um péssimo pai, cronista de futebol aposentado, que, desenganado, decide reatar relações com o filho, para compor uma tragédia burguesa que atravessa a memória política dos anos 70 e os dolorosos descaminhos da memória particular. Sétimo título da obra de Sérgio Rodrigues, o romance é ainda uma narrativa de viagem, da memória e da busca de fabricação de um sentido que ligue os fatos – mais sofridos que entendidos. Um ajuste de contas protelado como um drible, entre pai e filho.

"Opsanie swiata", de Verônica Stigger – Coisac Naify
Uma narrativa que funde registros, jornais, cartas, postais dando uma dimensão plástica à memória em movimento de um pai polonês na busca de um filho na Amazônia. O romance cruza também as memórias literárias de viajantes anteriores, de Raul Bopp a Oswald de Andrade. Com uma ironia que contém a sentimentalidade no ponto exato. Verônica Stigger publicou seu primeiro livro, O trágico e outras comédias, em Portugal.


FINALISTAS CATEGORIA POESIA 2014:

"Brasa enganosa", de Guilherme Gontijo Flores – Editora Patuá
Uma saborosa metafísica “enganosa” que relê clássicos nacionais, como Carlos Drummond de Andrade e Roberto Piva, indo da brevidade à composição de maior fôlego, a qual paga tributo humorado a Walt Whitman, nos versos da impagável “Song of itself”. 

"Observação de verão seguido de fogo", de Gastão Cruz – Móbile Editorial
Os poemas de Gastão Cruz são concisos e imagéticos e falam de teatro e de performance para mostrar a situação do sujeito contemporâneo, esse ator anônimo ou desconhecido que talvez nem sempre se dê conta de que “Não é vida a imagem que se move”.

"Ximerix", de Zuca Sardan ¬–  CosacNaify
Comprovando que, nos dias atuais, a experimentação não é mais ruptura com a tradição, mas um diálogo humorado com o maior número possível de tradições, Zuca Sardan é um novo tipo de dadaísta que revitaliza em língua portuguesa Edward Lear e Apollinaire, entre tantos outros mestres do passado, que ressurgem agora renovados.

"Vozes", de Ana Luísa Amaral – Editora Iluminuras
assume diversas “personae”, que são as vozes da memória e dos sonhos que habitam a sua poesia, a qual também incorpora, entre outras estratégias para dar conta da vertigem de reflexos, a tradução de Rainer Maria Rilke, que aparece no livro com “outra” voz.


FINALISTAS CATEGORIA CONTO/CRÔNICA 2014:

"Asa de sereia", de Luís Henrique Pellanda – Arquipélago Editorial
Asa de Sereia tem a cidade de Curitiba reinventada e examinada pelo cronista Pellanda. Ela é o palco onde ganham vida personagens imperceptíveis, monumentos e ruas aparentemente comuns da capital paranaense, com uma grande dose de observação que vai desde a observação do voo de um grupo de garças, até a narração do infortúnio de um sabiá. 

"Entre moscas", de Everardo Norões – Confraria do Verbo
O formato não convencional dos contos de Entre moscas imprime um ritmo arbitrário à leitura, exigindo que o leitor se concentre na melodia para alcançar seu encantamento. Norões constrói os personagens com nuances de medo, coragem, desprezo, desejo, ternura, solidez, tudo envolto em embalagem de sombra, em sentimentos mais resguardados do que revelados, deixando forte impressão sobre os leitores.

"Nu, de botas", de Antonio Prata – Companhia das Letras
Em Nu, de botas, Antonio Prata revisita as passagens mais marcantes de sua infância. As memórias são iluminações sobre os primeiros anos de vida do autor, narradas com precisão e humor. As primeiras lembranças no quintal de casa, os amigos da vila, as férias na praia, o divórcio dos pais, o cometa Halley, Bozo e os desenhos animados da tevê, a primeira paixão, o sexo descoberto nas revistas pornográficas - toda a educação sentimental de um paulistano de classe média nascido nos anos 1970 aparece no romance.

"Viva o México", de Alexandra Lucas Coelho – Tinta da China
Um passeio pelas principais cidades do México e também por seus temas, debates e aspectos culturais sem, no entanto, limitar-se a inchar os clichês, sublinhar o que os jornais já se cansaram de dizer ou reproduzir visões meramente pessoais. Alexandra Lucas Coelho, correspondente internacional de vários veículos portugueses, no Oriente Médio e na Ásia Central, viajando pelo mundo percebeu que a literatura vai a lugares que a reportagem não alcança.