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Mangá se fortalece no Brasil e fica em pé de igualdade a heróis americanos

"Drifters" (Nova Sampa), "Soul Eaters" (JBC) e "Pokémon: Black & White", destaques de mangás na Bienal do Livro de SP - Montagem UOL/Divulgação
"Drifters" (Nova Sampa), "Soul Eaters" (JBC) e "Pokémon: Black & White", destaques de mangás na Bienal do Livro de SP Imagem: Montagem UOL/Divulgação

Rodrigo Casarin

Do UOL, em São Paulo

29/08/2014 06h00

Quase 15 anos depois do início da "invasão" japonesa, o mercado de histórias em quadrinhos no Brasil hoje está completamente miscigenado. Nas bancas, livrarias e nos estandes da Bienal do Livro de São Paulo, que chega ao fim neste domingo (31), os mangás aparecem em pé de igualdade com os tradicionais gibis de super-heróis ou mesmo clássicos brasileiros como a Turma da Mônica.

“O mangá está cada vez mais presente na vida do leitor”, afirma Luciene Araújo, representante da editora Panini, que lança no Brasil os quadrinhos de heróis da Marvel e da DC e também HQs japonesas como "Naruto" e "Berserk". A editora aproveitou a Bienal para apresentar aos fãs o lançamento "Pokémon: Black & White", que há anos era aguardado pelos leitores em território nacional. Em poucos dias, as revistas esgotaram no estande da Panini.

Na tenda da Comix, uma das principais lojas dedicada aos quadrinhos em São Paulo, os mangás já representam 50% dos títulos comercializados, afirma o diretor comercial Ricardo Rodrigues. “O público jovem parece ter mais vontade de assimilá-lo”, argumenta Rodrigues. “A 'Turma da Mônica Jovem' tem uma procura tremenda, muito maior do que pela 'Turma da Mônica' clássica”, exemplifica Rodrigues, citando a versão atualizada dos personagens de Mauricio de Sousa, feita no estilo dos quadrinhos japoneses, e publicada pela mesma Panini há seis anos. Há também versões em mangá para heróis americanos como Batman e até para o romance "Helena", de Machado de Assis.

Versões da "Turma da Mônica" e do clássico de Machado de Assis "Helena" feitas no estilo mangá - Montagem UOL/Divulgação - Montagem UOL/Divulgação
Versões da "Turma da Mônica" e do clássico de Machado de Assis "Helena" feitas no estilo mangá
Imagem: Montagem UOL/Divulgação

Um dos segredos para o crescimento e consolidação do mangá no Brasil, aliás, é justamente a variedade de propostas disponíveis atualmente no mercado - são mais de 40 títulos novos em bancas por mês. “Existem mangás shounens (para meninos), seinens (para jovens adultos, que cresceu muito nos últimos dois anos), shoujos (para meninas) e até yaois (para meninas, mas que têm relacionamentos afetivos entre garotos). É mais fácil o leitor encontrar um mangá direcionado para sua idade agora do que em 2000”, explica Marcelo Del Greco, editor da Nova Sampa, outra casa que aposta no segmento. 

Muitos desses leitores são de gerações que começaram a se interessar por animes e quadrinhos japoneses após os sucessos televisivos de séries como “Os Cavaleiros do Zodíaco” e o próprio “Pokémon”, nos anos 90. Isso criou uma situação favorável para que novas editoras surgissem e para que antigas casas olhassem para o segmento.

Mais recentemente, com a explosão do gênero no mundo e a consequente exposição de animes (os desenhos animados japoneses) na internet, o mercado cresceu ainda mais, preenchendo uma "demanda reprimida", explica Cassius Medauar, editor da JBC, que participará de uma conversa sobre o tema com o jornalista e autor do livro “300 Mangás”, nesta sexta-feira, às 19h, na Bienal. 

Para Medauar, a presença do mangá hoje é tamanha que se torna difícil dizer exatamente o que é o "quadrinho tradicional". "Se a referência for só a quadrinhos de 'heróis', dá para dizer que hoje há um empate técnico. Mas acho que não se deve comparar, e sim lembrar que, no fim, tudo são histórias em quadrinhos. O importante é o mercado se fortalecer como um todo”, defende o editor no Brasil de títulos como "Sailor Moon", "Rurouni Kenshin" e "Soul Eater". 
 

Sobre a Bienal

Com o tema de “Diversão, cultura e interatividade: tudo junto e misturado”, a 23ª Bienal do Livro de São Paulo é um dos mais importantes do mercado livreiro e literário em toda a América Latina. Os ingressos para a Bienal, que dão acesso ao Pavilhão do Anhembi, custam entre R$6 e R$14. Dentro do espaço, toda a programação cultural é gratuita, sendo que os bilhetes para cada evento devem ser retirados com no mínimo 30 min de antecedência.

O evento conta com 300 expositores, que representarão 750 selos editoriais. Nos dez dias de evento, são esperados mais de 700 mil visitantes, que, para chegarem ao Anhembi, podem utilizar ônibus gratuitos que saem das estações de metrô do Tietê e da Barra Funda (desta segunda, apenas nos finais de semana). Toda a programação oficial pode ser conferida no site www.bienaldolivrosp.com.br.