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Selton Mello escreve homenagem a Suassuna: "Chicó fui eu, Chicó é Ariano"

Selton Mello e Matheus Nachtergaele em cena de "O Auto da Compadecida", baseado na obra de Ariano Suassuna - Reprodução
Selton Mello e Matheus Nachtergaele em cena de "O Auto da Compadecida", baseado na obra de Ariano Suassuna Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

23/07/2014 20h00

O ator e diretor Selton Mello, que fez o personagem Chicó nas versões televisiva e cinematográfica de "O Auto da Compadecida", obra de  Ariano Suassuna, lamentou a morte do escritor nesta quarta-feira (23).

Em seu texto, Mello afirmou que "o Brasil ficou mais pobre" com a perda de Suassuna, mas também lembrou com carinho dos personagens principais de "O Auto da Compadecida", a quem o escritor chamava de "passarinhos", contou o ator. "Chicó fui eu, Chicó é Ariano, Chicó é tu. Chicó e João Grilo têm morada no coração dos brasileiros", escreveu, lembrando também João Grilo, interpretado por Matheus Nachtergaele na TV e no cinema. 

Suassuna morreu nesta tarde, devido a parada cardíaca provocada por hipertensão intracraniana.  Eleito para a ABL (Academia Brasileira de Letras) desde 1989, Suassuna escreveu mais de 15 peças teatrais e seis romances ficcionais. Ele ficou conhecido nacionalmente por trabalhos como "O Auto da Compadecida", de 1955. A história --que virou minissérie da TV Globo em 1999 e foi adaptada para o cinema em 2000-- é uma comédia dramática na qual dois pobres sertanejos nordestinos, um mentiroso e o outro covarde, valem-se de pequenos golpes e biscates para conseguir tocar a vida.

Leia o texto de Selton Mello na íntegra: 

E o Brasil ficou mais pobre.

E triste.

Ariano, poeta entendedor do Brasil profundo.

Defensor de nossa riqueza cultural e emocional.

Sua obra descomunal fica para sempre.

Tive a honraria graúda de dar vida a um de seus passarinhos (era como se referia a seus personagens queridos).

Chicó fui eu, Chicó é Ariano, Chicó é tu.

Chicó e João Grilo têm morada no coração dos brasileiros.

E na minha mente e coração sempre estarão gravadas as palavras sublimes que proferi em "O Auto da Compadecida":

"Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados".

Celebre-se o homem, celebre-se o brasileiro, celebre-se o artesão das palavras.

E se um dia perguntarem se tudo que criou foi exatamente assim como ele idealizou, imaginarei Ariano dizendo com um sorriso de menino nos lábios:  "Não sei, só sei que foi assim.”