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Carnavalescos criticam pobreza e falta de brasilidade na abertura da Copa

Anderson Baltar

Do UOL, no Rio

16/06/2014 15h40

Tradicionalmente, a cerimônia de abertura da Copa do Mundo não tem a pompa e a grandiosidade das festas que marcam o início dos Jogos Olímpicos. Porém, talvez pelo fato da competição ocorrer em um país tão marcado pela diversidade cultural e pelo gosto pela celebração, a repercussão do evento nunca foi tão negativa. Em coro com torcedores e jornalistas, os carnavalescos das escolas de samba do Rio de Janeiro também não gostaram do espetáculo apresentado na última quinta-feira (12) na Arena São Paulo.

Motivos não faltaram: a começar, pela escolha da belga Daphne Cortez para dirigir a cerimônia. Max Lopes, carnavalesco da Unidos de Vila Isabel, não esconde seu descontentamento. “Não dá pra entender o porquê de trazer uma diretora que nada conhece de nossa cultura. Temos um folclore muito rico para apresentar e quase nada nosso foi mostrado.  O Brasil é um país tropical e isso não foi visto. As árvores eram araucárias, típicas do clima temperado, e estavam numa concepção fantasmagórica. A música tinha que ser nacional, não precisava trazer cantor de fora”, afirma Max.

O carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense, Cahê Rodrigues, faz coro: “Achei muito fraco. Já tivemos festas maravilhosas, como a abertura do Pan, assinada pela Rosa Magalhães, que foi elogiadíssima por todos. A festa da Copa das Confederações, feita pelo Paulo Barros, teve uma concepção visual muito melhor. Realizamos o maior espetáculo cultural ao céu aberto do mundo e poderíamos ter tido essa honra. Fora do Carnaval, temos grandes profissionais na televisão, no teatro e na dança, mas não prestigiaram o talento nacional.  Tinha a expectativa de ver uma festa bela e me deparei com um espetáculo frio”.

O carnavalesco da União da Ilha do Governador, Alex de Souza, não chega a se incomodar com o fato da abertura da Copa ter sido realizada por uma estrangeira. Mas também não ficou sensibilizado com o resultado final. “Temos que ter em mente que a festa foi planejada por uma estrangeira e traz a sua visão para um espetáculo que vai ser apresentado para todo o mundo. O que pode ser clichê para a gente, é novidade para muita gente. Mas, mesmo assim, achei que o show  explorou muito pouco a nossa diversidade cultural. Faltou o samba, que, ao lado do futebol, é a nossa maior marca cultural. Talvez estejam guardando o Carnaval para a festa de encerramento”, acredita Alex.

Carnavalesco avalia abertura da Copa: Foi sem identidade e faltou cuidado

Outro ponto negativo do evento apontado pelos carnavalescos foi a pequena quantidade de figurantes no gramado. Alex de Souza afirma que, se a festa fosse um desfile de uma escola de samba, perderia muitos pontos no quesito evolução. “O gramado estava vazio; eram pouquíssimos integrantes de cada grupo. Isso, num espaço tão grande quanto um estádio de futebol, não causa impacto e não contagia o público – assim como uma escola de samba que apresenta buracos entre alas e carros”, analisa.

Max Lopes concorda: “Deveria ter pelo menos o triplo de gente. O gramado ficou vazio e, a imagem, muito pobre na TV”. O carnavalesco da Vila Isabel também não gostou dos elementos cenográficos: “A bola de led era uma boa ideia, mas era muito pequena. Ela sumiu no meio da imensidão do estádio. Faltou mais escultura, não havia nada de expressivo”.

Cahê Rodrigues, que, no último Carnaval fez a integração entre samba e futebol com um enredo em homenagem a Zico e obteve a quinta colocação, acredita que a questão da música também foi crucial. “A trilha sonora da Copa não tem nada a ver com a gente. A canção não expressa a nossa riquíssima cultura musical. Senti falta do samba e da alegria tão típica do brasileiro”.

Alex de Souza traz outro aspecto para a discussão: “Não sabemos, em meio a tantos gastos com a Copa, quanto foi destinado para a cerimônia de abertura. Mesmo se a verba foi pouca, poderia ter sido melhor aproveitada, com mais criatividade”.