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Trajetória de Cássia Eller é redescoberta em musical contido e intimista

Henrique Porto

Do UOL, no Rio de Janeiro

03/06/2014 08h48

É um musical contido, minimalista. O elenco, reduzido. A banda, enxuta. Não há coreografias grandiloquentes, figurino ou cenário extravagantes --apenas cadeiras e instrumentos. Nada disso, porém, faz de "Cássia Eller - O Musical", em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro até o dia 20 de julho, um espetáculo menor. A graça é justamente essa: mostrar a explosiva trajetória artística da cantora, que morreu em 2001 aos 39 anos, de uma maneira introvertida, mais de acordo com a personalidade da homenageada.

Dirigido por João Fonseca (dos musicais "Tim Maia - Vale Tudo" e "Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz") e Vinícius Arneiro e escrito por Patrícia Andrade ("Elis, a Musical"), a peça aposta em uma abordagem intimista, que aproxima a plateia do palco. Melhor para o público, que consegue perceber com nitidez as semelhanças entre a artista biografada e sua intérprete, a cantora curitibana Tacy de Campos.

Se, por um lado, o fato de não ser atriz atrapalha nas sequências mais dramaticamente carregadas, Tacy impressiona no tom de voz e nos detalhes gestuais assustadoramente similares aos da cantora, além de um total domínio do violão folk. O instrumento, aliás, dá o tom dos números musicais brilhantemente interpretados pela protagonista, com destaque para "Por Enquanto" (Renato Russo), "Malandragem" (Cazuza/Frejat) e "Com Você Meu Mundo Ficaria Completo" (Nando Reis), além de uma versão reggae para "Eleanor Rigby", dos Beatles. Boa sacada dos codiretores musicais Lan Lan e Fernando Nunes, músicos que acompanhavam Cássia no palco.

Além da banda de apoio, Tacy divide o palco com Eline Porto, Emerson Espínola, Evelyn Castro, Jana Figarella, Mario Hermeto e Thainá Gallo. Os seis atores se revezam em diversos papéis durante a montagem, que vão desde o pai da cantora (o austero militar Altair Eller) até o cantor e compositor Nando Reis, passando por Eugênia, companheira de Cássia.

Com alguns deles, Tacy faz dueto pontuando momentos importantes da narrativa: como "Noite do Meu Bem", de Dolores Duran, quando canta com Evelyn Castro (que interpreta a mãe da cantora); ou "Relicário", com Emerson Espínola, cena em que Cássia é apresentada a Nando.

A história narra os principais acontecimentos pessoais e musicais da cantora: a descoberta da sexualidade, a primeira paixão por uma menina, as experiências iniciais com drogas, a mudança do Rio para Brasília, as divergências com o pai, o contato com o teatro (que seria logo trocado pela música), o nascimento do filho, a relação com a imprensa e os questionamentos provocados pela roda viva do show business. Há também momentos hilários, como a aparição do músico Oswaldo Montenegro (que dirigiu Cássia num espetáculo na capital federal) e o telefonema dado a Caetano Veloso, para agradecer pela canção “Gatas Extraordinárias”, composta pelo baiano especialmente para ela.

A sessão especial para convidados, realizada na noite desta segunda-feira (2), reservou ainda uma surpresa aos presentes. Ao fim do espetáculo, músicos que tocaram com Cássia ao longo de sua carreira complementaram a homenagem e se juntaram ao elenco para duas performances: a já citada “Gatas Extraordinárias” e “Mapa do Meu Nada”, de Carlinhos Brown.

Serviço
Cássia Eller - O Musical
Quando: De 29 de maio a 20 de julho de 2014. Sessões de quarta a domingo, às 19h.
Onde: Teatro I CCBB RJ (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)
Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Classificação: 14 anos
Duração: 120 minutos
Mais informações: (21) 3808-2020