Grafiteiro que critica miséria diz que Copa "escancara" problemas do Brasil
Guilherme Solari
Do UOL, em São Paulo
26/05/2014 12h09
A imagem de um trabalho do grafiteiro Paulo Ito que mostra uma criança chorando de fome e com apenas uma bola de futebol no prato ressoou tanto nas redes sociais como na imprensa internacional. A imagem resumiu o contraste entre o problema da miséria e os gastos bilionários com a Copa do Mundo em um momento em que o país se prepara para receber o Mundial, que começa no dia 12 de junho.
"Arte de rua é uma das melhores formas de protesto", disse Paulo Ito. O artista, que também aborda questões como abuso de autoridade, cidadania e religião, conversou com o UOL sobre como a Copa torna mais evidentes os problemas do Brasil.
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UOL - O que você acha do graffiti como forma criativa de protesto? Por que você decidiu fazer esses trabalhos?
Paulo Ito - O graffiti, ou a arte de rua, é uma das melhores formas de protesto, pois é livre e não depende de leis de mercado ou de curadorias subservientes a elas, como se vê muito no mercado de artes plásticas tradicional.
O que você acha da Copa do Mundo no Brasil? Como ela influenciou e ainda pode influenciar o país?
Acho que a maior visibilidade que a Copa traz ao Brasil enquanto turismo também traz à tona diversos assuntos referentes aos problemas que temos por aqui e para seu escancaramento perante o mundo todo.
Com a aproximação da Copa, governo e empresas tentam transmitir uma imagem de um Brasil seguro para a visita de estrangeiros. O que você acha disso? Você acha que essa imagem é falsa?
Oras, a publicidade tenta sempre fazer algo parecer o que não é. Não há nenhuma novidade nisso. De fato, não dá pro turista viajar praticando o método da deriva como em muitos lugares do Brasil.
Qual reação você espera das pessoas que veem os seus graffiti? Em quais lugares você escolheu fazê-los?
A ideia é sempre provocar reflexão. Eu pinto muito aqui na zona oeste [de São Paulo] porque é minha vizinhança. Em todo caso, a internet ajuda muito a dar uma visibilidade maior do que a que o trabalho teria na rua.
Algo mais que você ache importante adicionar, Paulo?
Acho importante ressaltar que a crítica do painel do garoto com a bola não é para uma gestão política exclusivamente, mas para todo o sistema. Como se sabe, houve um combate mais efetivo à miséria nas ultimas gestões do governo federal, ainda que esteja longe de resolver o problema.