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Autor escreve livro ao vivo com internautas em "reality show literário"

O escritor e autor Vinicius Campos - Divulgação
O escritor e autor Vinicius Campos Imagem: Divulgação

Guilherme Solari

Do UOL, em São Paulo

12/05/2014 07h37

Imagine se você pudesse acompanhar o processo de escrita de seu autor favorito "ao vivo", conforme cada palavra vai sendo escrita desde início, passando por erros e acertos, até a obra final, e, ao longo desse caminho, até mesmo dar os seus palpites. Assim é o "reality show literário", proposto na criação do livro "Minha Vida Cor-de-Rosa #SQN", de Vinicius Campos, ator e escritor brasileiro radicado na Argentina, autor de "O Amor nos Tempos do Blog" (Companhia das Letras).

Campos planeja unir o mundo da solidão literária à conexão das redes sociais com sessões diárias de escrita durante dois meses, sempre a partir das 19h30, iniciadas nesta segunda (12) na plataforma Widbook --um site de autopublicação. Essas sessões permitirão que os internautas acompanhem "ao vivo" o processo de escrita de cada palavra do livro. Eles também poderão conversar com o escritor pelo Twitter e por meio de vídeos, uma vez por semana.

A ideia inicial do enredo do livro são três jovens que se encontram em uma loja de conveniência no interior de São Paulo e veem suas vidas mudarem. O autor já adiantou que crimes e mistérios farão parte da trama. A obra completa será posteriormente lançada como e-book pela editora Rocco.

Vinicius Campos conversou com o UOL sobre o projeto e como a era da interconexão pode influenciar a escrita.

UOL - De onde veio a ideia de criar esse reality show literário da escrita do "Minha Vida Cor-de-Rosa #SQN"?

Vinicius Campos - Sempre sou convidado a conversar com leitores sobre o meu processo criativo, então achei que o meu próximo livro podia ser escrito com a participação do público, para que ele pudesse sentir de perto como é o processo de escrita de uma história. Ao mesmo tempo, isso gerava algo completamente novo pra mim, e eu adoro desafios. Ou seja, um prato cheio para todo o mundo.

O quanto da história você já tem imaginado antes de começar a escrever propriamente?

Por enquanto, tenho pensado em quem são meus personagens em linhas gerais e que eles vão se encontrar numa loja de conveniência de uma cidade do interior. A partir daí, será tudo novo, e o público vai me acompanhar tentando resolver os obstáculos que aparecerem no meio do caminho.

Como você espera ser a interação com o público? O quanto você imagina que vai modificar a história de acordo com a opinião dos seguidores?

Espero que os internautas se sintam parte do livro. Ao mesmo tempo, sou ciumento com os meus personagens. Acho que o bate-papo que vamos ter toda sexta-feira será uma grande diversão, pois vai ser um grupo de loucos apaixonados pela literatura brincando de imaginar mundos e situações possíveis. Acredito que alguns vão me amar, outros vão me odiar, mas que no final será um grande exercício para todos os envolvidos.

Você está nervoso com a experiência? Nervoso sobre talvez não conseguir terminar o livro ou ele ficar aquém do que imagina?

Claro! Muito nervoso! Poxa, quando escrevo um livro, passa por editor, corretor... aqui não. É na marra. Todo o mundo opinando nos meus erros de português, no meu portunhol, que, depois de nove anos morando na Argentina, tenta me dominar. Num livro convencional, eu precisava agradar a um editor. Agora serão muitos editores, e só espero que cada um deles consiga tirar o melhor de mim para que o livro seja especial como todo o projeto.

Em "Amor em Tempos de Blog" você trata dessa nova relação da internet e tecnologia no amor. Isso o inspirou a imaginar como essas mesmas relações podem influenciar no ato de escrever?

Sim, o fato de ter escrito o "Amor" me levou a participar de muitas mesas redondas e palestras falando sobre o tema da tecnologia e literatura. É um assunto que está cada vez mais forte. Todos discutem se o livro de papel vai acabar, se o e-book vai dominar, mas percebo que poucos falam sobre o conteúdo, que, a meu ver, é o mais importante. "Minha Vida Cor-de-Rosa #sqn" nasce com a tecnologia, usa da interação e será um livro todo criado numa nova mídia. O resultado? Ninguém sabe, mas existe muita expectativa.

Nós vivemos, afinal, na era do reality show, em que cada minúcia da vida é analisada. Você acha que esse interesse pode ser danoso para um escritor ou artista em geral ao tirar a sua voz individual?

Eu acho que depende de cada pessoa escolher até onde quer revelar e mostrar. O livro é um projeto meu com um apoio incrível e fundamental da Editora Rocco e da plataforma Widbook. o público vai participar, opinar, mas eu continuo sendo o autor, e minha voz individual é que vai decidir como a história vai seguir. Mas, ao mesmo tempo, acho que a criação coletiva é apaixonante, e, apesar do frio na barriga, estou mais do que feliz com o projeto.

No final, qual você gostaria que fosse o legado, o resultado final do projeto?

Esse projeto só tem sentido se houver gente participando, opinando e brincando de ser autor. A literatura é uma das coisas que mais me dá prazer na vida, e poder dividi-la com o público e com tantos jovens é um deleite. Espero que todos venham viver esse sonho comigo e que a gente consiga obter um livro genial como resultado de todo esse processo inovador e apaixonante.