Artista portuguesa censurada na França abre duas mostras em São Paulo
Quando Joana Vasconcelos pendurou seu enorme lustre feito de absorventes femininos na entrada da Bienal de Veneza há quase dez anos, a artista portuguesa queria dar um exemplo de como seu trabalho é uma "desconstrução do universo doméstico". Também questionava os estereótipos do escultor.
"Sou uma escultora mulher num mundo masculino", diz Joana, que abre agora duas mostras em São Paulo em paralelo à feira SP-Arte. "A imagem de um escultor é a de um homem, macho, de barba, fazendo coisas sérias usando metal ou pedra."
Ela é séria, mas passa longe das pedras. Joana Vasconcelos se firmou no circuito global com enormes esculturas em tecido colorido, peças em crochê e costura que desafiam a escala da arquitetura sem perder o que ela vê como um toque feminino em sua obra.
"Todos os meus trabalhos refletem um universo doméstico em mutação", diz a artista. "Essa coisa da mulher que trabalha com tecido é muito chata, então quis fazer algo na escala da arquitetura. É transformar o doméstico em arquitetura, algo que tenha uma dimensão construtiva."
Seu exemplo mais marcante disso foram as intervenções que realizou há dois anos no palácio de Versalhes, perto de Paris, ocupando as salas da antiga residência real com criaturas gigantes que serpenteavam entre os pilares e se multiplicavam refletidas nos espelhos rococó.
Mas foi ali, no cenário mais extravagante que já ocupou, que ela sofreu um ato de censura. Seu lustre de absorventes, que já viajara o mundo, não pôde estar na mostra por ordem da direção do palácio.
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