Atriz vencedora do prêmio Shell critica patrocinadora por apoio a ditadura
A atriz Fernanda Azevedo, vencedora de melhor atriz da 26ª edição do Prêmio Shell pela peça “Morro como um país – cenas sobre a violência de estado”, aproveitou o seu discurso ao receber a premiação para criticar a empresa que patrocina o evento por ter apoiado a ditadura na Nigéria.
Segue a íntegra do discurso:
"Como esse prêmio tem patrocínio da Shell, eu gostaria de ler quatro linhas sobre essa empresa. O texto é de Eduardo Galeano [autor do livro 'As Veias Abertas da América Latina']. No início de 1995, o gerente geral da Shell na Nigéria explicou assim o apoio de sua empresa à ditadura militar nesse país: 'Para uma empresa comercial, que se propõe a realizar investimentos, é necessário um ambiente de estabilidade. As ditaduras oferecem isso'".
O desabafo da atriz foi devido ao fato de que, no próximo dia 31 de março, o Brasil vai completar 50 anos do golpe militar - que trouxe uma ditadura que durou 21 anos. A peça pela qual ela foi vencedora trata desse assunto.
Após a cerimônia, Fernanda falou aos jornalistas que o discurso foi algo pensado por todos da companhia. "A gente tem que discutir as ditaduras de uma forma mais abrangente porque as ditaduras não são só militares, são civis e militares. E contam com o apoio de parte da população e das empresas. É uma questão de coerência com o nosso trabalho. Apesar de toda a alegria pelo reconhecimento e pelo prêmio que recebemos", acrescentou.
Resposta da Shell
Em resposta ao comentário da atriz, a Shell se posicionou: "A Shell parabeniza a atriz pelo prêmio recebido na noite de ontem e respeita a liberdade de expressão. O comentário dela não diminui o efetivo reconhecimento que a Shell vem distribuindo através dos 26 anos do Prêmio Shell de Teatro”, afirmou a assessoria de imprensa da empresa.
Após o discurso de Fernanda Azevedo, a atriz Renata Sorrah, que foi mestre de cerimônia, comentou: "Eu acho que cabe tudo aqui nessa premiação. Tudo é válido. Fica até apimentado. A gente é livre para expressar nossas opiniões. Estamos em uma democracia".
Criado em 1989, o Prêmio Shell de Teatro é ponto de referência nos palcos brasileiros. É oferecido aos maiores destaques do ano, no Rio de Janeiro e em São Paulo separadamente, em nove categorias — Autor, Diretor, Ator, Atriz, Cenografia, Iluminação, Música, Figurino e Inovação.
Durante a premiação, a atriz Eva Wilma foi homenageada pelos 60 anos de carreira.
A lista dos indicados no primeiro e no segundo semestres em São Paulo pode ser conferida abaixo:
Autor
Cia Luna Lunera por “Prazer”
Kiko Marques por “Cais ou da indiferença das embarcações”
Claudia Schapira por “ Antígona recortada, contos que cantam sobre pousospássaros”
Hugo Possolo por “ Eu cão Eu”
Michelle Ferreira por “Os adultos estão na sala”
Direção
Kiko Marques por “Cais ou da indiferença das embarcações”
Leonardo Moreira por “Ficção”
Nelson Baskerville por “As estrelas cadentes do meu céu são feitas de bombas do inimigo”
Antunes Filho por “Nossa cidade”
Rogério Tarifa e Rodrigo Mercadante por “Cantata para um bastidor de utopias”
Ator
Mauricio de Barros por ”Cais ou da indiferença das embarcações”
Thiago Amaral por “Ficção”
Cassio Scapin por “Eu não dava praquilo”
Chico Carvalho por “Ricardo III”
Atriz
Fernanda Azevedo por “Morro como um país – cenas sobre a violência de estado”
Luciana Paes por “Ficção”
Rosana Stavis por “Árvores abatidas ou para Luis Melo”
Cácia Goulart por “A morte de Ivan Ilitch”
Michelle Boesche por “Os adultos estão na sala”
Cenário
Chris Aizner por “Cais ou da indiferença das embarcações”
Ed Andrade por “Prazer”
Bira Nogueira por “Folias Galileu”
Rogério Tarifa por “ Cantata para um bastidor de utopias”
Figurino
Chris Aizner por “Cais ou da indiferença das embarcações”
Fabio Namatame por “Vingança – o musical”
Cassio Brasil por “O burges fidalgo”
Miko Hashimoto por “Operação trem-bala”
Iluminação
Aline Santini e Nelson Baskerville por “As estrelas cadentes do meu céu são feitas de bombas do inimigo”
Fran Barros por “Universos”
Fran Barros por “Vestido de Noiva”
Lucia Chediek por “A morte de Ivan Ilitch”
Música
Guilherme Terra por “Vingança – o musical”
Umanto por “Cais ou da indiferença das embarcações”
Jonathan Silva e William Guedes por “Cantata para um bastidor de utopias”
Otávio Ortega e Lucas Santtana por “O duelo”
Categoria Inovação:
Os Fofos Encenam pela realização do projeto Baú da Arethuzza
Conselho gestor do CIT-Ecum pela realização plural de seu projeto artístico-pedagógico
Núcleo Bartolomeu de Depoimentos pela pesquisa e pelo resultado na criação de sonoridades e partrituras corpomusicalizadas em “Antígona recortada, contos que cantam sobre pousospássaros”.
Os Satyros pela projeção, permanência e abrangência do evento “Satyrianas” na condição de fenômeno histórico-artístico e social.
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