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Depois de autobiografia, Morrissey diz que está escrevendo romance

Do UOL, em São Paulo

03/01/2014 12h02

Depois do sucesso de vendas de sua autobiografia, o cantor Morrissey contou, em uma sessão de perguntas e respostas no site de fãs True To You, que está escrevendo um romance. O músico também revelou que está trabalhando em um novo álbum, em que umas das músicas se chama "Istanbul".

Questionado se escreveria um romance, Morrissey disse que sua autobiografia foi "mais bem-sucedida do que qualquer disco que eu tenha lançado" e que está escrevendo seu livro de ficção. O cantor disse ainda que as rádios não tocam suas músicas e que a maioria das pessoas perdeu a fé na indústria fonográfica.
 
Ao comentar o novo disco, disse que Istambul é sua segunda cidade preferida, depois de Roma. "Quando estou em Istambul, sinto como se nunca fosse morrer".
 

"Humanssexual"

Um dos músicos britânicos de maior sucesso no Reino Unido desde o final do século passado teve, até agora, uma vida "cinza", triste e melancólica --com pequenos momentos de alegria quase escondidos em sua história. "Eu tenho vergonha da minha própria felicidade", confessa Morrissey em uma frase perdida, depois de quase 500 páginas de uma narrativa de fluxo complicado da autobiografia.

  • Divulgação

    Capa da autobiografia de Morrissey, lançada pela editora Penguin Classics

O livro trata de toda a vida do músico desde seu nascimento, a relação com sua família, as dificuldades enfrentadas por ele na escola, suas primeiras paixões (que ele diz serem "humanssexuais"), as experiências com a música (primeiro como crítico, depois como cantor), a passagem pelo The Smiths, o sucesso mundial e a carreira solo. 

Lembranças do Brasil

Em um dos raros momentos em que cita apenas momentos alegres no livro, Morrissey relembra sobre experiências em turnês pelo mundo. O cantor destaca a lembrança de uma passagem pelo Brasil, que marcou sua vida:

"Nenhum sonho poderia jamais ser igual ao meu primeiro show em São Paulo, no Brasil, quando ao público levantou uma garota acima das suas cabeças em minha direção e, quando ela se aproximou, pude ver que ela segurava um bastão, e mais de perto, pude ver que ela era cega, e quando o público colocou ela delicadamente no palco, ela me entregou uma nota em que se lia 'Não posso vê-lo, mas amo você'".

Música
Como seria natural de se esperar em um livro sobre um dos cantores mais populares em seu país, os trechos em que Morrissey fala sobre sua relação com a música são os que mais prendem o leitor.

A contracapa do livro destaca que em 2006 Morrissey foi eleito pela audiência da rede de TV BBC como o "segundo maior ícone britânico vivo", perdendo apenas para o naturalista Sir David Attenborough, famoso por apresentar programas de TV no país. É interessante perceber o que aparenta ser um sentimento de perseguição de Morrissey, apesar de toda aclamação popular. O cantor parece se sentir atacado por todos os lados, questionado e até mesmo boicotado pelas rádios --por mais que sua banda acabe se tornando uma das mais elogiadas do país.

Os Smiths, entretanto, que são provavelmente o principal motivo pelo qual Morrissey é conhecido no mundo, acabam não ganhando o destaque que se poderia esperar. Menos de 20% do livro trata do tempo em que a banda estava reunida, nos anos 1980 --o grupo é mencionado uma centena de vezes ao longo das quase 500 páginas.

O sucesso da banda, mesmo com sua divulgação em todo o mundo, não chega a encher os bolsos dos integrantes, ele conta em um momento. "Os Smiths são repetidamente apontados como a melhor banda no país, mas mesmo assim não conseguimos nenhum sucesso visível", lamenta em outro trecho.

Morrissey trata praticamente como um "mistério" a separação da banda que marcou sua história. A versão mais tradicional contada pelos outros músicos e por testemunhas, entretanto, é que o grupo teria se desentendido após o vocalista rejeitar a parceria com um empresário, o que acabou levando à separação.