Topo

"Foi como psicografia", diz Fernanda Torres sobre primeiro romance

Thiago Stivaletti

Do UOL, em São Paulo

09/12/2013 11h46

Não dá mais para chamar Fernanda Torres apenas de atriz. Ela lança nesta segunda-feira (9), com sessão de autógrafos em São Paulo, o primeiro romance escrito por ela, "Fim". O livro conta a história ao mesmo tempo divertida e triste sobre cinco amigos --Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro-- que viveram o desbunde sexual no Rio de Janeiro dos anos 1970 e agora se encontram à beira da morte, fazendo o balanço de suas vidas, casamentos e separações.

Até outro dia, Fernanda tinha vergonha de se definir como escritora, mas agora já se acostuma com a ideia. "Outro dia abri o livro para reler um capítulo. Achei interessante, muito maluco. Tem coisas muito boas de ouvir. Algumas pessoas me dizem que não querem que o livro acabe", disse ela em entrevista exclusiva ao UOL.

  • Divulgação

    Capa do livro "Fim", romance de estreia de Fernanda Torres

"Fim" é daqueles livros em que o leitor se pega gargalhando sozinho em alguns trechos. A história mistura o humor cotidiano de Luís Fernando Veríssimo, as ousadias sexuais de João Ubaldo Ribeiro e uma pitada de Nelson Rodrigues. Mas repetir a empreitada ainda não está nos seus planos. "A impressão hoje é de que não vou conseguir escrever outro. Parece que foi psicografia. Acho que esses cinco velhos existiram mesmo, e eu apenas escrevi o que eles me mandaram", contou. "Num dado momento, os personagens agem sozinhos, começam a ganhar vida própria. Esse é o maior barato de escrever".

Ela se inspirou na geração dos pais, Fernando Torres e Fernanda Montenegro, nos anos de 1970. "Nasci em São Paulo e fui para o Rio com cinco anos. Foi como sair do útero materno e tomar um choque moral e sexual, da praia e da libido carioca. Lembro da impressão que os hippies na praia me causavam, eram quase como Jesus Cristo. Todo filme brasileiro tinha cena de sexo, era tudo muito selvagem".

Vidas passadas

Um dos aspectos que mais impressiona no livro é a capacidade de Fernanda entender a cabeça dos homens, seu humor, suas cafajestices e inseguranças. "Essa é a minha primeira encarnação como mulher, fui homem nas outras vidas", brincou. "É uma questão de observação, de se pôr na pele de alguém. A gente, como ator, está treinado a isso. Acho fascinante como o homem é feliz com outros homens. Existe uma homossexualidade muito sadia entre amigos. A mulher é mais subjetiva, dada a melancolias".

Há alguns anos, Fernanda se arriscou como dramaturga. Escreveu a peça "Deus é Química", mas não gostou do resultado. "A peça não era boa, era descarnada, não tinha sentimento". Depois do romance, seu novo papel é ser roteirista de cinema. Ela escreveu para o marido Andrucha Waddington dirigir o filme de terror "Juízo Final", sobre um fantasma que fica preso num lugar repleto de diamantes em Minas Gerais. Uma história que, segundo ela, mistura "chantagem, alcoolismo e espiritismo". O filme será rodado no ano que vem.

A volta dos Budas

Na TV, ela segue empolgada para a quarta temporada, em 2014, como a atrapalhada Fátima da série "Tapas & Beijos", na Globo. "É um grupo de atores extraordinários, um trabalho só entre amigos. A temporada do ano que vem está confirmada, mas ninguém quer se perpetuar na série, uma hora temos que parar".

Neste mês, ela retomou no Rio --e segue para São Paulo em fevereiro-- mais uma temporada da comédia "A Casa dos Budas Ditosos", inspirada no livro de João Ubaldo Ribeiro. A peça estreou há dez anos e já fez mais de 500 mil espectadores. No meio de toda essa agenda, ela arranja tempo para cuidar dos filhos, Joaquim, 13, e Antonio, 5. "Trabalho muito, mas tenho meus fins de semana, tiro férias e ainda arrumo tempo para escrever".


"Fim"
Autor: Fernanda Torres
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 203
Preço: R$ 34,50

Lançamento com sessão de autógrafos em SP
Quando: segunda-feira (9), a partir das 19h
Onde: Livraria Cultura do Shopping Iguatemi (av. Brigadeiro Faria Lima, 2232)