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"Guia Politicamente Incorreto" propõe jogar tomate na história ultrapassada

Capa do livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo", de Leandro Narloch - Divulgação
Capa do livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo", de Leandro Narloch Imagem: Divulgação

Carlos Minuano

Do UOL, em São Paulo

23/08/2013 07h00

Bomba! Dinamite pura! A história errou. E errou feio. Pacifistas famosos como Dalai Lama, Gandhi e Madre Teresa estão mais para vilões do que para símbolos da paz mundial, o capitalismo é melhor coisa que aconteceu no mundo, sobretudo para os pobres, a bomba de Hiroshima salvou milhões de japoneses, e grandes tiranos, como Hitler e Mussolini, são na verdade comunistas sem vergonha. E (quase) tudo é culpa de Marx.

Essas e outras revelações bombásticas estão no recém-lançado “Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo” (Editora Leya), do jornalista Leandro Narloch. Do império romano aos fascistas do atual cenário politico brasileiro, o livro propõe "jogar tomates nas versões ultrapassadas da história".

O imperador Nero, por exemplo, apesar de mais conhecido por sua crueldade e libertinagem, de acordo com a pesquisa de Narloch, foi um injustiçado. O jornalista desmascara ainda os fascistas da atualidade. Boa parte deles (quem diria?) estão no Brasil, são na maioria políticos de esquerda cujas propostas contra a pobreza se assemelham à plataforma do partido nazista da década de 1920.   

No caso do Brasil, a culpa por tantos equívocos históricos, segundo o autor, é da doutrinação sofrida na escola. “Muitos professores, desanimados com a disciplina como uma ciência, preferem usar a história como uma ferramenta política, uma forma de "desalienar' os alunos, e prepará-los para uma revolução”, afirma Narloch.

Ele alerta que há casos extremos. “Já recebi e-mails de estudantes de colégios de classe alta de São Paulo contando que o professor de história aconselhava os alunos a desistir do vestibular e lutar a favor das Farc na Colômbia!”, relata o indignado jornalista.

Absurdos à parte, Narloch acusa a escola de propagar uma história esquemática, ideológica e sem diversidade. “O professor não se preocupa em expor diversas versões, mas só aquela que converge com a sua visão de mundo”. O jornalista arrisca ainda outra tese para explicar a permanência nos livros didáticos dos "mitos" que procura derrubar em seu livro: o mercado editorial, para o qual, segundo ele, o que menos importa é a inovação de conteúdo.

“O essencial, para as editoras, é o relacionamento com os professores e secretários de educação, que decidem quais livros serão comprados”. O autor defende que para não ferir e manter essa relação, autores evitam temas ou assuntos polêmicos e incômodos.

Verdades inconvenientes
Depois de se debruçar sobre a história do Brasil e da América Latina, Leandro Narloch segue agora com sua série de "guias politicamente incorretos" com o objetivo de desfazer grandes mitos mundiais, algo como "a verdade doa a quem doer".

Entre as verdades inconvenientes que o autor destaca está o mito de que a paz mundial seja obra de pacifistas. Não é, afirma Narloch. Se vivemos em um mundo com menos guerras e conflitos, devemos isso à rede de fast food McDonald's.

Um dos argumentos que o jornalista lança mão, para embasar sua versão, é a teoria do jornalista Thomas Friedman, do New York Times, que defende a ideia de que "nunca houve nem haverá guerra entre dois países que possuam lojas de McDonald's.

Mas para alguns historiadores, a obra de Narloch é que está equivocada e limitada do ponto de vista crítico. “São livros reacionários”, ataca o escritor e professor Flávio de Aguiar. Para o gaúcho, que vive atualmente em Berlim, as "verdades" citadas no livro são muito relativas e até ingênuas.

“As teorias do Friedman são tão boas que ele chegou a defender a invasão do Iraque dizendo que ela traria estabilização e democracia para a região”, observa Aguiar. “É claro que o comércio pode ser tanto um agente de paz como de guerra, dependendo da atitude política de quem o estiver praticando”, arremata o professor.

O professor diz ainda que associar a paz mundial à rede mundial de fast food revela desconhecimento da natureza das guerras atuais, sobretudo da americana contra o terrorismo. “Ele ignora beligerâncias não declaradas, como entre Israel e todo mundo no Oriente Médio, entre Espanha e Inglaterra em torno de Gibraltar, Índia e Paquistão, e recentemente entre Colômbia e Venezuela”, ressalta.

Revolução dos miseráveis
O autor se defende dizendo que o livro não se propõe a mostrar a verdades, mas versões e novas pesquisas que não chegaram ao público e sofrem resistência de historiadores. É o caso da Revolução Industrial. Narloch argumenta que há uma consistente tradição de estudos de economistas, demógrafos e historiadores mostrando que as fábricas inglesas melhoraram os padrões de vida ao mesmo tempo em que a população inglesa explodiu.

“Mais pessoas apareceram para jantar e cada uma delas saiu com mais comida no prato”, diz o jornalista. “Roupas, sapatos, relógios de parede, cortinas, pratos de porcelana, açúcar e chá, objetos que antes eram reservados aos nobres e milionários, passaram a virar rotina na casa da classe média e dos operários”, completa.

O jornalista aproveita o capítulo sobre a revolução industrial para dar boas espetadas nos dois mais pops intelectuais de esquerda: Karl Marx e Friedrich Engels, que fincaram as bases do pensamento comunismo moderno. “Esses autores viram tudo certo, mas entenderam tudo errado”, escreve Narloch em seu livro.

“O nascimento do capitalismo, ao desprezar hierarquias baseadas no sobrenome e tornar possível uma abundância de produtos a preço baixo, foi a melhor coisa que aconteceu aos pobres na história do mundo”, diz Narloch.

“Criou milhões de empregos sim, mas explorou crianças e idosos até a morte”, rebate o professor Flávio de Aguiar, especialista em Marx. “As lutas da classe trabalhadora custaram centenas de milhares, talvez milhões de vidas, para obter algumas conquistas que hoje o próprio capitalismo, na Europa, se obstina em retirar”, conclui.


"GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO MUNDO"
Autor:
Leandro Narloch
Editora: Leya
Páginas: 320
Quanto: R$ 39,90