"Se a sociedade aceitasse o pornô, ele não seria perigoso", diz Sasha Grey
Um dos raros exemplos de atrizes pornô que se tornaram ainda mais populares depois de abandonar a carreira, Sasha Grey acaba de lançar seu primeiro romance como escritora, “Juliette Society”, publicado no Brasil pela Editora Leya. Em rápida passagem por São Paulo para participar de uma sessão de autógrafos e se apresentar como DJ, Sasha conversou com o UOL sobre música, literatura erótica e o estigma de ser uma ex-atriz pornô.
A atriz, que já está preparando um segundo romance, ainda sem título, diz que já tinha planos de escrever um roteiro para cinema há pelo menos cinco anos. O grande responsável pela sua estreia como escritora, porém, foi o sucesso de “50 Tons de Cinza”. “Muitas fãs mulheres me pediam cada vez mais para escrever algo erótico, porque elas gostavam de mim e de sexo sujo, embora não necessariamente de pornografia. Quando ‘50 Tons’ saiu, muita gente me associou com o livro por causa do nome (nota: o título original é “50 Shades of Grey”), então achei que era uma boa hora para tentar, mas fazendo do meu jeito e trazendo alguma autenticidade”, diz.
Ela afirma ter lido o primeiro volume da trilogia “cinza”, mas prefere a literatura erótica clássica de autores como o Marquês de Sade. “’50 Tons’ não é o tipo de livro que eu goste de ler, mas achei ótimo que ele possibilitou que as pessoas falassem sobre dominação e sadomasoquismo num nível que nunca tinha acontecido antes na cultura pop, ele chamou a atenção para algo que até então era considerado tabu”, conta ela.
Sasha chamou atenção dentro da indústria de filmes adultos, que abandonou em 2011, por participar de cenas de sadomasoquismo (SM) geralmente recusadas pelas estrelas do ramo. “Foi uma decisão bem direta, mas nunca pensei que minhas escolhas alcançariam esse nível. SM não era parte da cultura em geral, era uma subcultura, e eu queria fazer alguma diferença dentro dessa subcultura quando eu entrei para o pornô”, explica.
Ainda que houvesse essa lacuna no mercado, ela conta que em grande parte se dedicou aos filmes de dominação por gosto pessoal, algo que passou a explorar logo após perder a virgindade, pouco antes de rodar seus primeiros filmes. “Definitivamente foi uma escolha pessoal. Eu sentia vergonha da minha sexualidade e dos meus desejos enquanto estava crescendo. Eu tinha essas fantasias e desejos e não sabia explicar porque, não tinha ninguém com quem conversar a respeito. Mas sabia que devia ter mais pessoas como eu. Existem tantos estereótipos negativos cercando tudo o que envolve sexualidade, nas coisas que vão além do papai-e-mamãe...”, diz ela.
Apesar de poucas atrizes conseguirem se estabelecer em outras áreas de entretenimento, Sasha conta que na Califórnia a indústria pornográfica está longe de ser um gueto, com atores atrizes e profissionais do ramo presentes também na cena artística da cidade. “A indústria pornô é parte da cultura de Los Angeles, e tem sido assim por um bom tempo”, conta. “Eu achava que faria pornô por sete ou oito anos e depois criaria minha própria companhia, mas acabei atuando apenas por três, e tantas outras coisas aconteceram. Sinto orgulho às vezes, mas sinto também que tenho muita responsabilidade com as mulheres e com o público”, diz.
Mesmo sem ter nenhuma vergonha do seu passado, Sasha tem um entendimento claro de que é difícil se livrar dos estereótipos: “Com certeza, pornô é o último reduto da mídia que ainda é um tabu, as pessoas tratam como se fosse algo completamente alienígena. Mas elas tem a necessidade de que seja um tabu para que possam fantasiar com isso. Acham que esses ‘super-heróis’ da indústria pornô são algo diferente de tudo o que elas possam vir a ser. Se a sociedade aceitasse o pornô todos iriam perder o interesse, porque ele deixaria de ser perigoso”, explica.
Agora que abandonou a antiga carreira, Sasha quer atuar em outras áreas. “Essas coisas nunca me deixaram, mas também não são 100% da minha personalidade. Eu tenho outros interesses. Nem todos os projetos nos quais eu irei trabalhar vão lidar com temas de sexualidade. Talvez eu me envolva em projetos de música ou cinema que não tenham nada a ver com sexo. Isso é parte do que me tornou o que sou, mas tenho uma vida pessoal e outros objetivos que quero conquistar”, diz.
A atriz, fã declarada de Godard e filmes de arte, conta que é obcecada por cinema desde criança. Após filmar “The Girlfriend Experience” com Steven Soderbergh , que ela considera um “gênio”, em 2009, e participar de uma temporada do seriado “Entourage”, ela terminou recentemente o longa “Open Windows”, dirigido por Nacho Vigalongo. Filmado na Espanha e com Elijah Wood no elenco, conta a historia de uma atriz que é sequestrada por um fã obsessivo. “Eles estão editando o filme, é algo insano. Os efeitos especiais compõe boa parte da historia, e sem eles você não tem realmente algo completo”, conta ela, que ainda não sabe quando o filme será lançado.
Sasha saiu recentemente da banda aTelecine, onde seguia uma linha eletrônica/industrial, e atualmente está rodando pelo mundo como DJ. “Quando discoteco eu geralmente toco house, deep house e EBM. Mas no Brasil devo tocar rock, um pouco de metal... será excitante, divertido. Assim que tiver algum tempo quero voltar para Los Angeles e trabalhar em um novo projeto. Devo colaborar com alguns amigos”, diz ela, que afirma estar ouvindo bastante os discos novos de Depeche Mode e David Bowie.
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