Comparada com Banksy, Apollonia Saintclair se destaca como ilustradora erótica
Apesar de ser uma presença comum em diversas redes sociais, pouco se sabe sobre a ilustradora Apollonia Saintclair, cuja verdadeira identidade continua sendo um mistério. Embora se recuse a responder perguntas de caráter pessoal, a artista concedeu uma entrevista exclusiva para o UOL, onde comenta sua obra, fala sobre sexualidade e explica melhor o porquê de evitar se expor na mídia.
Appolonia mantem um tumblr constantemente atualizado onde posta suas mais recentes ilustrações. Ainda que suas influências mais fortes venham dos quadrinhos, ela ainda não se aventurou a escrever histórias longas. “Eu ainda não descobri que tipo de autora eu sou. Claro, trabalho sequencial é algo tentador – assim como escrever uma novela pode ser tentador para um escritor. O que é claro é que eu gosto de contar histórias, seja através de uma imagem única ou diversas páginas”, conta ela.
Suas influências mais diretas, segundo ela própria, são Moebius e Milo Manara, que ela considera “o Leonardo e o Caravaggio nos quadrinhos”, além de outros quadrinistas europeus como Alex Varenne, Enki Bilal, François Schuiten e Tanino Liberatore. Mas Apollonia também se inspira em outras áreas de criação artística, de artes plásticas à literatura. “Eu devo admitir que as fantasias eróticas latinas se comunicam particularmente comigo. Assim como os grandes escritores latinos como Borges, Buzzati ou Mendoza”, diz.
Em relação à censura, ela vê a Europa como um continente mais liberal que o resto do mundo, com uma atitude mais aberta em relação à sexualidade e ao erotismo em geral. “Há menos dessa tendência de confundir o secular com o sagrado, e menos dessa vontade de impor uma moralidade dúbia e hipócrita”, explica.
A ilustradora não acredita no entanto que isso coincida com uma atitude mais aberta da sociedade em geral: “Eu percebo tanto uma abertura quanto um novo puritanismo. O Facebook, por exemplo, pode ser um instrumento maravilhoso de liberdade de expressão, mas também uma ferramenta de censura cega. Ao invés de criar filtros de conteúdo realmente efetivos, eles deixam os usuários relatarem qualquer conteúdo ‘chocante’. O resultado é uma atmosfera de denúncia onde nenhum conteúdo está livre de extremistas de todos os lados”, diz.
Constantemente comparada com o artista plástico Banksy por não revelar sua identidade ao público, Apollonia diz que sua privacidade é “tanto uma proposta artística quanto uma necessidade prática”. Segundo ela, é mais interessante que seu trabalho seja avaliado de maneira independente. “Estou convencida de que meus desenhos são mais importantes do que eu. Se eles alcançam uma audiência, é por causa das emoções que eles carregam e não por qualquer informação sobre o autor. O gênero no qual eu trabalho tende também a atrair admiradores que costumam me confundir com meus desenhos”, explica.
Seu processo de criação é baseado em uma concepção onírica de como sublimar seu erotismo latente através da expressão artística. “Eu sempre desenho mais ou menos intensamente, mas nunca como uma atividade essencial para mim. Criação é uma forma peculiar de evocação, uma espécie de pensamento mágico. É a habilidade de tornar o impossível real, de dar formas a um sonho. Evidentemente sou afetada e parece que eu tenho uma grande necessidade de materializar as fantasias flutuando na minha cabeça”, conta.
Os próximos projetos de Apollonia incluem uma série de ilustrações para uma coleção de 12 contos morais para adultos e um livro que deve reunir alguns de seus principais trabalhos. Além do seu tumblr pessoal, o trabalho da artista pode ser conferido em seu perfil no Facebook, e através do site Behance, que apresenta um portfolio selecionado da sua obra.
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