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Pai de família de dia e artista de rua à noite, Herr Nillsson transforma princesas em bandidas

Estefani Medeiros

Do UOL, em São Paulo

25/07/2013 16h30

De dia, o sueco de codinome Herr Nillsson é um homem de rotina comum, com trabalho fixo, filhos para cuidar e preocupações de pai. À noite, ele sai as ruas para fazer arte de rua com estêncil e criticar a forma como as princesas não são um bom exemplo para sua filha. "No geral, sou um pai trabalhando duro e tentando sustentar minha família o melhor que posso. Sou um sueco típico de escritório e poucas pessoas sabem sobre a minha relação com arte de rua. Às vezes me vejo como Batman, mas infelizmente não sou tão rico quanto Bruce Wayne", comenta em entrevista ao UOL

  • Herr Nilsson

    Cinderela armada com uma faca e escondida atrás de um beco no estêncil do sueco  

Cercado por brinquedos, jogos e filmes infantis por causa dos filhos, Nilsson, que prefere não revelar seu nome real, diz que "existe muita criatividade na indústria do entretenimento para as crianças, mas a maioria dos personagens dos desenhos animados, do sexo feminino, em particular, são muito estereotipados e previsíveis". "São sempre tão inocentes, justas e inofensivas", opina. 

Ele diz que o motivo que o levou a criar os estêncis é o diálogo que a arte de rua propõe. "Mostrar essas princesas de uma forma mais obscura é o meu comentário relacionado à violência cometida por crianças em geral, e também uma forma de mostrar como olhamos para o bem e para o mal no mundo, e como as personagens mulheres estão colocadas nesse universo. Todo mundo espera que uma princesa de contos de fada sempre se comporte bem. Se fosse uma delas, me revoltaria em alguns dias. Então quis trazer essa minha reação para os desenhos."

O discurso sobre grafite na Suécia é ridiculamente medieval. Temos tolerância zero, com leis duras e a opinião pública é muito restrita

Nilsson

Em Estocolmo, onde mora, o grafite é considerado vandalismo, tem pena de prisão de três meses até 10 anos e fiança de £ 5 mil. Além disso, a própria população age como vigilante, denunciando os artistas, o que torna a validade da arte menor do que 24 horas nos muros da cidade.

"O discurso sobre grafite na Suécia é ridiculamente medieval. Temos tolerância zero, com leis duras e a opinião pública é muito restrita. Institutos e empresas de propriedade do governo não estão autorizados a expor ou comprar qualquer arte que tenha relação com grafite. Eu odeio essa censura ao espaço público, que apenas quer dar voz para empresas com dinheiro fazerem uma lavagem cerebral em anúncios publicitários", diz o artista de rua, que também é fã do britânico Banksy. 

Nilsson ainda conta que fazer estêncil e não grafite o ajuda a não ser pego. "Fico mais tempo pensando em novas peças, nem tanto tempo pintando. Sou bastante rápido com as canetas e cores. Nunca fui pego, mas que vou ter grandes problemas caso isso aconteça, isso é certo."