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Ex-desenhista do Superman pede "cuequinha vermelha por cima da calça sem medo de ser ridículo"

O desenhista Renato Guedes ilustra um desenho do Superman em evento de quadrinhos no Chile - Camilo Mendoza
O desenhista Renato Guedes ilustra um desenho do Superman em evento de quadrinhos no Chile Imagem: Camilo Mendoza

Estefani Medeiros

Do UOL, em São Paulo

15/07/2013 05h00

Desenhista brasileiro de histórias de Superman entre 2003 e 2010 para a DC Comics, fã e colecionador na infância e atualmente professor de quadrinhos na escola Quanta, Renato Guedes acha “patético transformar um personagem tão fantasioso [quanto o herói] em algo pseudo realista.”  

"Acho mais digno aceitar o personagem como ele sempre foi", diz em entrevista ao UOL. "Cuequinha por cima da calça, vermelho, amarelo e azul de verdade, sem vergonha de ficar ridículo. Eu nunca ficaria realista usando capa vermelha, roupa azul e com um S no peito. "

Guedes declara ser fã do Superman em suas sagas clássicas, como o desenhado nas tiras de Curt Swan na década de 60 e nas revistas de Dan Jurgens, nos anos 90. No cinema, ele prefere o herói interpretado por Christopher Reeve, mas conta que já trabalhava na DC na época de "Superman - O Retorno", quando a editora optou por uma mudança no uniforme para trazer uma roupagem mais moderna. "Houve uma tentativa de colocar o S em relevo. Por sorte durou pouco." 

A versão do uniforme usada em "O Homem de Aço" também foi atualizada e tira a icônica cueca vermelha por cima da calça, além de deixar os tons de amarelo mais discretos. "Essas mudanças funcionam ainda menos nos quadrinhos. As cores disfarçadas, acinzentadas para dar uma aparência menos gritante no traje e as texturas tornam esse novo visual datado muito rapidamente", opina o desenhista. 

O artista acredita que as HQs nas quais os diretores se inspiraram para o filme deveriam ser creditadas. "Se alguma ideia for usada, ainda que indiretamente, acredito que o autor deveria receber [o direito autoral], além do devido crédito."  

Crise nos quadrinhos

Apesar de ter sido fã do kryptoniano desde a infância, Guedes não trabalha mais ilustrando o herói desde 2010. "As séries são bem rotativas hoje em dia. As editoras sempre vendem a novidade de um time criativo novo. Fiquei até tempo demais. Acho que não seria legal voltar porque não gosto da nova abordagem que estão dando ao personagem. Então não penso que eu contribuiria neste momento." 

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Em junho, Paul Jenkins, roteirista britânico que já trabalhou com histórias sobre o Homem Aranha, Wolverine e Batman, se demitiu das editoras Marvel e DC em uma carta aberta que mencionava uma crise nos quadrinhos. Guedes concorda que a indústria passa por um momento de crise e diz que é necessária uma mudança. 

"Estão acontecendo muitas interferências no processo criativo. E sim, isso é terrível. Transformaram a indústria em algo muito mais genérico. Vejo a indústria dos quadrinhos hoje muito restringida a nichos. Mesmo a mainstream, com um público muito reduzido. E coisas mais independentes e alternativas muito elitizadas em publicações caras para livrarias. Uma indústria que corre sérios riscos", comenta. 

Uma mudança positiva no cenário seria "voltar a popularizar". "Que seja barato e acessível. Isso é fundamental para criar novos públicos e sair do nicho. No caso do mainstream dos super heróis, os autores precisam ter mais liberdade novamente. E da produção em geral de histórias em quadrinhos, mais conteúdo. Vejo muito autor novo e talentoso com roteiro vazio, sem discurso em qualquer gênero." 

Interferências das editoras encaretam personagens

Guedes, que ainda trabalha como artista plástico, diz que atualmente tem se refugiado na pintura e em personagens alternativos. Ele é um dos resposáveis pelas novas histórias do personagem Constantine para a DC Comics. Mas mesmo o subversivo anti-herói, responsável por levar muitos adultos para os quadrinhos na HQ "Hellblazer", criada por Alan Moore em 88, não escapa das interferências. 

  • Capa com o cigarro censurada

A edição #1 da nova série de "Hellblazer", desenhada pelo também brasileiro Ivan Reis, foi censurada por causa de um cigarro na boca do herói. "Não fez nenhum sentido a censura. No interior da revista e na capa alternativa, a que eu desenhei, o personagem aparece fumando e as duas saíram. A minha alternativa, com o cigarro. E a do Ivan Reis foi censurada, é a mesma, mas sem o cigarro".  

Seria uma tentativa de "encaretar" o personagem? "Sem dúvida", diz o desenhista. "Me parece que não sabem a qual público apresentar o personagem nem os limites. E fazer isso com um personagem essencialmente politicamente incorreto é muito complicado." 

Infográfico mostra diferentes fases do uniforme do herói

  • Clique na imagem para ver o infográfico