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Vargas Llosa cita "The Wire" como exemplo raro de qualidade na TV

Mario Vargas Llosa foi o convidado do programa "Roda Viva", da TV Cultura - Divulgação
Mario Vargas Llosa foi o convidado do programa "Roda Viva", da TV Cultura Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

14/05/2013 01h45

O escritor peruano Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura de 2010, deu entrevista ao programa "Roda Vida", da TV Cultura, que foi ao ar nesta segunda-feira (12), e revelou ser fã da série de TV "The Wire", tida para ele como um exemplo raro na televisão de atração que cumpre as funções antes exclusivas da literatura.

"The Wire" foi uma série exibida pelo canal HBO entre 2002 e 2008, que retratava o cotidiano de traficantes, usuários de drogas e policiais na cidade norte-americana de Baltimore. Crítico da programação de TV atual, Llosa cita a atração como uma exceção na produção de hoje, que visa não só o entretenimento como também a cultura.

Literatura
Llosa comentou também no programa sobre os livros que mudaram a sua vida: "Os Sertões", de Euclides da Cunha, o qual o peruano considera como uma obra fundamental para a compreensão da América Latina; e"Madame Bovary", de Gustave Flaubert, que leu durante sua estadia em Paris, em 1959. Ele ainda citou a obra do argentino Jorge Luís Borges como algo comparável a Cervantes, que deixará um legado de muitos anos.

O escritor também falou sobre o desafio de escrever sobre países com línguas diferentes do espanhol. Llosa citou suas andanças pelo interior da Bahia, Congo e sobre os livros que fez ambientados nesses lugares, assim como a Irlanda.

Ao ser questionado sobre a qualidade dos escritos de Paulo Coelho ou de sucessos editoriais como a série "Harry Potter", Llosa se esquivou de criticá-los diretamente, preferindo defender o espaço para ambas as formas de literatura: alta e popular. O escritor lembrou que sempre houve literatura comercial e disse não haver problema com ela, desde que sua existência não elimine o trabalho de autores "ditos sérios".

Política
Autoproclamado defensor do capitalismo e crítico daquilo que classifica como "esquerda intervencionista", Llosa identifica a vitória de Maduro nas eleições venezuelanas pós-morte de Hugo Chávez como o "início do fim" do modelo de governo desenvolvido no país sul-americano.

Mas Llosa identifica pelo menos uma virtude no cenário político conturbado da América Latina: a criatividade da literatura local. "Nada em nossos países é totalmente seguro, isso produz boa literatura", comenta. "Países estáveis produzem coisas maravilhosas também, mas seguramente não vão fazer boas novelas, né?"

A realidade da parte latina do continente americano é novamente tema de seu próximo livro, ainda com o título provisório de "O Herói Discreto", embora a obra seja mais focada na atual cena política do Peru.

Artes plásticas
Ao comentar sobre o artista Damien Hirst – um dos principais artistas plásticos do mundo, que construiu uma fortuna a partir de 1990 ao mesclar obras com forte apelo midiático com um bom marketing –, Llosa criticou a postura recente de ambientes consagrados de contemplação de arte na Europa como os museus londrinos, que abrem espaço para obras como as de Hirst.

"Se fosse no circo, eu aplaudiria sem problemas", diz Llosa, para depois identificar uma ausência no poder de fiscalização da cultura sobre o mundo político. "O espírito crítico está quase desaparecido no mundo das artes plásticas."