Câmara Brasileira do Livro diz que não é responsável pelos votos dos jurados do Jabuti
Depois de uma polêmica com as notas dadas por um dos jurados do Prêmio Jabuti, conhecido como C, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgou nesta quinta-feira (25) um comunicado esclarecendo o sistema de avaliação da premiação.
O comunicado diz: "Conforme o regulamento determina, os jurados depositam suas notas em envelopes lacrados, cuja abertura acontece em sessão pública, aberta à imprensa e dentro da mais absoluta transparência. Os resultados são validados pela auditoria independente Parker Randall. Não há, portanto, qualquer possibilidade de que um jurado tome conhecimento das notas atribuídas por algum de seus pares. A atribuição das notas pelos jurados é soberana. A CBL não interfere nas decisões e nem emite juízo de valores sobre elas. Cada um é responsável por seu voto."
A CBL também divulgou que irá anunciar oficialmente a lista dos jurados desta edição somente na cerimônia de entrega do Jabuti, no próximo dia 28 de novembro.
Apesar do descontentamento com o jurado C, em entrevista ao UOL, o curador da premiação, José Luiz Goldfarb, disse que o processo de escolha da banca é baseada em formadores de opinião e jornalistas literários de “alto nível”.
“Atualmente temos na Câmara uma comissão que ajuda a avaliar quem serão os jurados, que às vezes se indicam para avaliar as obras”, explica. “Não acho que tenha nenhum problema com esse jurado. Ele já participou de outras edições. Não fiquei satisfeito mesmo porque ele abusou dessa possibilidade matemática. E sou transparente quanto a isso. Mas são votos de qualquer forma e ele não foi o único a usar essa tática”, finaliza.
Mudanças
Ao UOL, Goldfarb confirmou seu descontentamento com o sistema de avaliação, que será revisto para a próxima edição, e com o uso matemático da escala de notas por um jurado para desfavorecer alguns dos finalistas do prêmio literário, que teve a lista final divulgada na última quinta-feira (18).
“O sistema de votação será aprimorado, a gente não previu essa situação e não imaginou que ele colocaria a obra em uma categoria tão baixa. Estamos pensando em novos mecanismos, de colocar mais jurados ou restringir a nota de cinco a dez”, explicou. “Como curador, não fico contente que o voto de um jurado tenha um peso maior. Mas o cara foi esperto, inteligente, fez uso dos cálculos e beneficiou as obras de quem ele queria”, completa.
Em 2012, a escolha do vencedor do Jabuti se baseou em votos de três jurados: A, B e C, que podiam dar notas de 0 a 10 para cada autor. O jurado C, no entanto, deu notas como 0 e meio e acabou desclassificando autores veteranos como Ana Maria Machado, que concorria com o romance “Infâmia”.
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Oscar Nakasato, autor de "Nihonjin"
“O voto dele foi ou muito positivo ou muito negativo nos autores que tinham notas médias dos outros jurados. Nesse caso, ele acabou definindo a votação e a gente teve um Jabuti que beneficiou estreantes. Mas ele está na lei, assim como uma eleição política”. Um dos estreantes beneficiados foi o vencedor Oscar Nakasato, autor de “Nihonjin” e vencedor na categoria Romance.
Quanto à autora Ana Maria Machado, Goldfarb diz que espere que ela “não fique brava”. “Espero que ela continue sendo minha amiga. Ela é uma finalista, foi bem votada pelo A e B. Ela não foi prejudicada, estava em um prêmio que poderia ganhar ou não e estava ciente do regulamento”.
De acordo com Goldfarb, essa não é a primeira polêmica que envolve notas. Em 1994, Fernando Morais acabou ficando com a obra “Chatô” fora do prêmio por causa de favoritismos políticos do momento. “Me questionaram muito nessa época, mas não coloco a mão no resultado dos jurados. Na época, Fernando disse que confiava no prêmio e que tentaria de novo em outras edições. Quatro anos depois ele acabou ganhando com ‘Corações Sujos’”.
Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, opinou em em seu blog sobre polêmica envolvendo as regras da premiação.
"O que ocorreu nesta edição do prêmio nada mais é do que a consequência de um problema antigo. O jurado C, ao manipular a votação de forma acintosa, desrespeitando escritores com notas vergonhosas, acabou prestando um serviço ao prêmio e ao público. Além da discussão sobre a validade da regra, quando princípios tão claros de uma votação literária são violados, falta discutir as condições, a qualidade e a quantidade de jurados, e os critérios para evitar fraudes ou manipulação, cuidados que qualquer bom prêmio tem que ter", afirmou.
Shwarcz ainda sugeriu que o Jabuti passe a divulgar abertamente o nome dos membros do júri, "como são escolhidos", quntos livros recebem para a leitrura e em que condições trabalham".
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