Estreantes na Bienal de Arte de São Paulo criam projetos especiais
Quatro artistas estreantes na Bienal de São Paulo, considerados no meio das artes visuais do país como emergentes, apresentam salas com obras potentes na 30ª edição da mostra, uma das principais em âmbito mundial - ao lado da Bienal de Veneza, na Itália, e da Documenta de Kassel, na Alemanha - e têm expectativas diversas sobre a repercussão da presença na exposição.
A mais jovem artista da mostra é Sofia Borges, 28 anos. Nascida em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, é radicada na capital desde que começou a fazer faculdade, tendo concluído sua graduação em artes plásticas na ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). “É um privilégio, ao mesmo tempo em que é um desafio”, resume ela em relação à participação na importante exposição, talvez a que dê à sua obra a maior visibilidade da carreira. “Mas foi um processo tranquilo, os curadores deram toda a liberdade para o que eu desejasse exibir.”
As nove fotografias de "Estudo para Ausência" são um resumo da nova fase de Sofia, em que cada imagem parece conter um grande mistério, uma estranheza evidente. “É um processo exploratório”, diz ela, que realizou a maior parte delas a partir de registros de museus de história natural e ciência em várias cidades, no Brasil e no exterior. A artista agora está no elenco de uma grande galeria em SP, a Millan (mesma de Miguel Rio Branco, Paulo Pasta e Anna Maria Maiolino), e já neste mês inicia fase de projetos no exterior, em Paris e Bruxelas. “Mas retornarei com frequência, tenho outras exposições a abrir por aqui.”
Já o paulistano Nino Cais, 43 anos, apresenta "Espetáculo", sala onde reúne cerca de 150 trabalhos de sua autoria, feitos entre 1998 e este ano. O acúmulo de objetos, esculturas, vídeos e, em especial, fotografias cria um ambiente muito particular, ajudado pela cortina vermelha instalada em todas as paredes da sala. “Como eu amarraria toda essa minha produção, que gostaria de ver exibida? Assim surgiu a ideia do espetáculo, por isso essa cortina em cima que gera a expectativa do começo de uma encenação, por exemplo”, conta ele, que é retratado em geral em ações poéticas realizadas dentro do seu cotidiano, utilizando objetos cotidianos e banais, muitos dos quais comprados na região do largo da Batata, em Pinheiros, bairro onde mora. “Queria dar à sala uma ideia de abrigo, de descanso, frente à grande escala desse pavilhão repleto de obras.”
Ex-seminarista, Nino começou a chamar a atenção do meio na coletiva "Ocupação", ocorrida no Paço das Artes em 2005. Depois de passar em SP pelas galerias Virgilio e Oscar Cruz, hoje ele é o principal artista da Central, um dos novos espaços que surgiram em ‘boom’ recente desses estabelecimentos na cidade. “Acho que ser considerado jovem é meio como um rótulo, algo que o mercado sempre cria. Pensei o projeto da Bienal como um desdobramento da minha obra, sem cair em um lado do deslumbramento com o convite, o que sempre pode acontecer”, afirma ele. Seus trabalhos foram descobertos pelo curador da 30ª Bienal, o venezuelano Luis Pérez-Oramas, no livro dedicado à sua obra, publicado pelo pequenino Ateliê 397, um dos principais espaços de exibição da produção experimental paulistana.
Espaço em mudança
O paulistano radicado no Rio Cadu, 34 anos, tem um dos projetos mais inquietantes da 30ª Bienal. "Estações" consiste na experiência do artista morando sozinho em uma pequena construção em Nogueira (RJ), no meio da serra dos Órgãos, entre o começo do inverno deste ano e o último dia do verão, no ano que vem. Para o início da exposição, Cadu já trouxe para sua sala no pavilhão fotografias, maquetes, objetos e escritos. “Mas a ideia é que seja um espaço em constante mudança, que eu envie um pouco do que estou vivenciando solitariamente no meio da serra e que possa ser compartilhado pelo público”, explica ele, que abriu mão de cinco dias nesse ‘exílio’ voluntário artístico para o período de abertura da Bienal e de exposição coletiva com presença de um trabalho seu na galeria Vermelho, em São Paulo, que o representa.
“O convite para a Bienal foi encarado por mim com uma sensação de pertencimento. Parece que os seus comentários têm eco, ganham relevância”, declara ele sobre sua participação. A sala na Bienal ainda tem uma peça de grande popularidade entre o público, "Partitura 3", na qual composições de trens de brinquedo, ao serem acionadas, criam música a partir do contato entre arames levados pelos apetrechos e garrafas variadas colocadas ao lado dos diminutos trilhos.
O caráter mutante da sala também está presente na dedicada ao trabalho do carioca Eduardo Berliner, 34 anos. Pela primeira vez, segundo ele, sua obra em variados suportes - desenhos, aquarelas, escritos, cadernos, fotografias, objetos e esculturas - são exibidos lado a lado das pinturas que o tornaram conhecido. “Isso me deixou muito feliz, foi uma possibilidade única e que eu queria fazer faz muito tempo”, conta ele. “Tudo nessa sala se relaciona. E eu queria que os cadernos, muito importantes no desenvolvimento da minha produção, reforçassem isso. Assim, vou trocar as páginas de tempos em tempos e criar novas narrativas a partir do que eu alterar, mas sempre se ligando ao que está sendo mostrado”, explica ele.
Berliner, que já teve pinturas vendidas para a coleção Saatchi, britânica, uma das mais badaladas do mundo, criou uma sala com dezenas de trabalhos com ligações entre eles não tão fáceis. “Em pintura, há um lado mais conhecido, tendo a ver com cenas fantásticas, estranhas. O outro se liga mais à observação, a um fazer mais ágil. Mas ambas se fundem em alguns momentos, como assim ocorre nos processos de memória”, diz ele. “Mas o conjunto é que vale, tem o meu pensamento revelado por obras tão diversas.”
30ª Bienal de São Paulo - A Iminência das Poéticas
Onde: Pavilhão da Bienal (parque Ibirapuera, portão 3)
Quando: de 7 de setembro a 9 de dezembro, às terças, quintas, sábados e domingos (9h às 19h); quartas e sextas (9h às 22h)
Entrada: franca; ônibus da SPTrans saem para o metrô Ana Rosa de 15 em 15 minutos.
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