Produtora, atriz, cantora, bailarina, mãe: veja a rotina de Cláudia Raia em dia de estreia
Com seu já emblemático sorriso estampado no rosto, a atriz, cantora, bailarina e produtora Cláudia Raia, 44, chega ao teatro Procópio Ferreira, na zona oeste de São Paulo, para cuidar dos ajustes finais de seu musical "Cabaret", cuja segunda temporada estava prevista para estrear no último sábado (25).
No palco já estão os 20 cantores-atores-dançarinos do elenco afinando a voz e testando seus microfones. Seu co-protagonista (e mais recentemente namorado), o ator Jarbas Homem de Melo, vai chegar mais tarde. Está ensaiando para outra peça. O diretor musical, Marconi Araújo, testa voz por voz, pede mudanças de tom e ao final dá uma bronca no elenco por usar smartphones no palco.
Tem musical que é chato mesmo. Quando a música não se conecta propriamente à narrativa é chato, inclusive para a gente.
"O palco é um templo! Palco não é lugar para usar celular. Nem no palco nem na orquestra. Não é possível que vocês não consigam ficar duas horas sem fazer isso. Quando a gente pede para o público desligar é porque atrapalha mesmo. Em Brasília, o microfone do Jarbas falhou por conta disso!"
Enquanto isso, a atriz conversa com a reportagem do UOL sobre as dificuldades de adaptação toda vez que tem que mudar de palco, já que está voltando de uma turnê nacional para o teatro "onde tudo começou". "Nos teatros grandes foi um choque. Você não enxerga a plateia e leva uns dois ou três espetáculos para se acostumar. E quando você se acostuma, está na hora de ir embora."
Enquanto observa o elenco fazer testes vocais, comenta que o teatro musical é a arte dos três cérebros e que há dez anos era um problema encontrar gente que cantasse, dançasse e representasse. Questionada por que muita gente ainda acha o teatro musical chato, Cláudia responde sem pensar duas vezes. "É porque tem musical que é chato mesmo. Quando a música não se conecta propriamente à narrativa é chato, inclusive para a gente."
É bem mais pesado que o filme. Muitas velhinhas da plateia ficam incomodadas com as coreografias sensuais, mas no fim querem levar o Jarbas [Homem de Melo] no ônibus da excursão. Ele é uma estrela
O diretor musical chama Cláudia ao palco. Em seguida, Jarbas chega e é recebido aos beijos. Todos do elenco se sentam em círculo e começam a ter uma aula de aquecimento vocal. O casal protagonista divide um café, Cláudia massageia as costas do ator, ambos se alongam.
Uma hora e meia antes da reestreia, Cláudia e o diretor musical conversam sobre a mesa de som, que teve de ser reprogramada. Isso, segundo ele, implica em total descontrole dos vocais e da orquestra.
Embora o clima comece a ficar tenso, a atriz sobe ao camarim para começar a maquiagem de sua personagem Sally Bowles, uma dançarina de vaudeville decadente, alcoólatra e problemática. "É bem mais pesado que o filme. Muitas velhinhas da plateia ficam incomodadas com as coreografias sensuais, mas no fim querem levar o Jarbas no ônibus da excursão. Ele é uma estrela. Eu já conheço o trabalho dele há dez anos e exigi que fosse ele para o papel, porque precisava de alguém à minha altura para segurar a maratona."
O espetáculo dura duas horas e quarenta minutos. Nos sábados são duas sessões com pouco mais de uma hora de intervalo apenas. Além de peruqueiros, camareiros, costureira e todo o pessoal da produção, há um fisioterapeuta de plantão durante os ensaios e os espetáculos.
TV, teatro, maternidade
Enquanto pinta os olhos com uma pesada sombra azul, Cláudia conta sobre sua rotina diária. De segunda a quarta-feira grava de oito a dez horas por dia a próxima trama das 21h da Globo, "Salve Jorge", em que interpretará a traficante de mulheres Lívia, vilã escrita especialmente para ela por Glória Perez.
"É uma agenda bem atípica. A Globo não costuma mais permitir isso. Eu já tinha recusado o papel em 'Guerra dos Sexos' por causa do espetáculo, mas a Glória escreveu o papel para mim. Quando meus filhos souberam o que era o papel, super me apoiaram, não tive como recusar", conta a atriz, que afirmou já ter falado, naquele dia, três vezes com o filho Enzo, duas com a filha Sofia e mais duas com o pai das crianças, o ator Edson Celulari. "Ele está cuidando da Sofia, que está com uma tendinite."
De repente, a porta do camarim se abre. É Jarbas, que se intimida um pouco ao ver a fotógrafa Monalisa Lins, mas, aos risos, dá seu recado: "Eu gostaria de dizer que na qualidade de 'primeiro-damo' dessa companhia eu quero usar o seu banheiro." Cláudia sorri docemente e concorda: "Claro, meu amor..."
Sem som
O diretor-geral do espetáculo, José Possi Neto, entra em seguida e começa a conversar amenidades com a atriz. O papo não dura muito. Faltando 45 minutos para o início da apresentação, ambos recebem a notícia de que a mesa de som está totalmente desprogramada. "Fiquem preparados para ficar sem microfone, até a orquestra pode ficar sem som."
Decepcionada, mas sem perder o controle, a produtora entra em ação. Chama os responsáveis para o camarim e 20 minutos depois decide cancelar as duas apresentações do sábado. Outra mesa de som já estava sendo providenciada e a reestreia seria, afinal, no domingo (26).
Como a plateia já estava no saguão do teatro, o diretor abre as portas para dar o comunicado. Decepção geral. Alguns espectadores ficam nervosos, mas, por fim, acabam se rendendo ao imperativo da tecnologia.
Cláudia, entre maternal e profissional, reúne o elenco nas coxias e comunica o que houve. "O trabalho de hoje não foi em vão, mas, com todas essas viagens, essas coisas acontecem, inclusive na Broadway. Amanhã eu gostaria de pedir que vocês chegassem por volta de meio dia para a gente correr atrás do prejuízo."
No domingo, Cláudia novamente recebe a reportagem no camarim para a sessão final de fotos, já com figurino completo, faz os últimos ajustes na peruca. Casa cheia, elenco afiado, mesa de som a postos. O espetáculo transcorre impecável. Mesmo depois de quase nove horas de trabalho, Cláudia Raia ainda recebe os fãs na saída para fotos. Quando o último fã vai embora, ela finalmente se rende ao cansaço e cai nos braços do namorado, que a espera na porta do teatro, sem tirar mesmo sorriso com que chegou no rosto no dia anterior.
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