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Poetas comparam Drummond a Buda e ao lado B de um disco

Eucana Ferraz (à esq) e Carlito Azevedo falam sobre a influência de Carlos Drummond de Andrade na literatura atual durante a 10ª edição da Flip 2012 em Paraty (8/7/12)  - Walter Craveiro
Eucana Ferraz (à esq) e Carlito Azevedo falam sobre a influência de Carlos Drummond de Andrade na literatura atual durante a 10ª edição da Flip 2012 em Paraty (8/7/12) Imagem: Walter Craveiro

Mauricio Stycer

Do UOL, em Parati

08/07/2012 16h48

Das muitas homenagens a Carlos Drummond de Andrade na Flip, uma das mais tocantes ocorreu na tarde deste domingo, numa mesa em que três poetas evocaram a “presença” do chamado “poeta maior” entre eles.

Num depoimento gravado por Walter Carvalho, e exibido no telão, Armando Freitas Filho lembrou dos primeiros livros que ganhou do pai, quando tinha 15 anos, um volume de poemas de Manuel Bandeira e outro de Drummond. Um ano depois, o pai o presenteou com um LP – no lado A, Bandeira lia seus poemas, no lado B, Drummond.

“Drummond é o lado B da poesia. Ele pegava o ser humano por dentro, como se enfiasse uma cunha”, disse Armando. “Ele escrevia como quem faz a barba a seco. Escrevia com o próprio fígado, mas aquilo resultava num discurso geral, que servia a todos. Isso é o que mais me interessava no Drummond, como ele fazia esse arco, saindo do próprio fígado e servindo a todos”.

Um dos grandes poetas contemporâneos, Armando se diz muito devedor de Drummond. “Você leva a obra dele para sempre. Não esquece. Você pode esquecer a letra de um verso, mas você leva o sentimento do verso que te tocou”.

De uma geração mais jovem, Carlito Azevedo e Eucanaã Ferraz também prestaram tributo ao poeta. O depoimento mais comovente foi de Carlito: “As pessoas quebram. Algumas quebram mais de uma vez. Drummond é um Buda que mostra a iluminação no meio do desapontamento”.

Eucanaã falou da dificuldade de saber “qual” Drummond está escrevendo cada poema. “Ele é escorregadio. Não porque ele não queria se deixar ver, mas porque se mostrava demais”.

A tarde terminou com a leitura de poemas de Drummond. “Podíamos ficar a tarde toda lendo”, disse Carlito.Verdade.