"O stand up me incomoda, tem um apelo baixo", critica Angeli
Os desenhistas e humoristas Angeli e Laerte protagonizaram um dos bons momentos da Flip na noite de sábado, em Parati. O tema do debate, “Quadrinhos para maiores”, desviou-se de início para uma discussão sobre os limites do humor.
“Vale tudo no humor”, defendeu Angeli. “Mas, dependendo da sua pegada, você acaba respondendo pelo que fala”, disse. “Nem tudo que vejo com a tarja 'humor' é bacana. Essa coisa de stand up me incomoda às vezes. Tem um apelo baixo”, criticou.
Em defesa do stand up, Laerte lembrou que este tipo de humor lida com uma ambigüidade interessante, “uma certa confusão entre o comediante e a pessoa real” que faz o show. “É uma técnica respeitável”, elogiou, citando Rafinha Bastos como alguém que exercita este tipo de humor.
Laerte também discordou do amigo em relação à ideia de que a Justiça pode ser o local para resolver divergências no campo do humor. “A saída judicial tem como corolário a censura”, disse. “É preciso que a crítica possa ser feita sem que seja preciso chamar a polícia”, observou.
O desenhista contou que uma vez desenhou a história de um bandoleiro com Alzheimer. “Ele entra na cidade para matar alguém, mas não lembra quem”. Por causa da história, recebeu muitas cartas de organizações que lidam com a doença. “Eles têm razão, mas eu também tenho razão.Não se pode sacralizar as coisa”, opinou Laerte.
Questionado pelo público, Laerte falou longamente sobre o fato de agora se vestir como mulher. "Me descobri dentro da condição de transgênero. Tenho uma identidade feminina. Mas não é algo acabado. É uma condição que tenho que entender", disse.
A nova identidade colocou o humorista no campo da militância pelos direitos de pessoas com esta mesma condição. "Eu que já fui comunista no passado, me vi envolvido na luta de outra gente, que eu reconheço como minha gente também". contou.
Angeli falou do prazer de fazer cartoon político e de um de seus alvos favoritos, o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP). "O Maluf representa, junto com outros políticos, a baixa política, a política de baixa qualidade".
No final do encontro, Angeli e Laerte falaram com carinho de Glauco Villas-Boas (1957-2010), que completava o trio "Los Tres Amigos", protagonista de histórias muito divertidas em quadrinhos. "Glauco não deixava brancos na piada", disse Angeli. "Muito doce e generoso, mas ao mesmo tempo esgrimia a crueldade do humor com maestria", elogiou Laerte.
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