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Fotojornalista húngaro usa aplicativo do iPhone para retratar tropas americanas no Afeganistão

A foto ícone do trabalho de Balazs mostra um soldado afegão com um saco plástico na cabeça durante tempestade de areia causada por um combate (28/10/2010)  - BalazsGardi/Basetrack.org
A foto ícone do trabalho de Balazs mostra um soldado afegão com um saco plástico na cabeça durante tempestade de areia causada por um combate (28/10/2010) Imagem: BalazsGardi/Basetrack.org

Estefani Medeiros

Do UOL, em São Paulo

26/04/2012 04h01

O fotojornalista húngaro Balazs Gardi trocou as câmeras, lentes e o pesado equipamento fotográfico por um iPhone e um aplicativo de edição de imagens, o Hipstamatic - precursor do Instagram. A troca poderia ser considerada comum, não fosse o tema abordado por Balazs nas fotografias - um conflito no Afeganistão, e o que ele fez com elas - uma rede social onde as fotos, vídeos e áudios produzidos na guerra eram compartilhados e discutidos com outros internautas.

Batizado de Basetracks, o projeto durou o período da missão de uma tropa da marinha americana no oriente, cerca de sete meses entre 2010 e 2011. Gardi está no Brasil para falar sobre o trabalho nesta quinta-feira (26), em um evento da revista Zum, no Instituto Moreira Sales. Mas antes, conversou com o UOL e explicou melhor este formato.

“A proposta era seguir os soldados americanos em guerra e mostrar o desenvolvimento e o progresso de uma missão no Afeganistão. Chegamos ao país em 2004 e ficamos próximos de um oficial, conhecemos o batalhão e decidimos segui-los”, conta. Ao contrário de famosas imagens de guerra, as fotos produzidas não retratam bombardeios, e sim soldados em momentos rotineiros durante missões ou mesmo comendo.

“Uma coisa que as pessoas pensam erroneamente sobre a guerra é que existe ação o tempo todo, quando na verdade, pode ser bem entendiante”, diz. “Fotografar a vida desses marines, o que eles comiam, suas tatuagens, pode não parecer interessante para algumas pessoas. Mas mostrar esses detalhes é conhecer melhor a vida de cada um desses homens e mulheres e seu papel no conflito”, explica.

Sobre o aplicativo de edição, que disponibiliza diferentes filtros de tratamento, Balazs foge das discussões calorosas sobre a importância da fotografia e diz que foi apenas uma escolha prática. “Alguns fotógrafos optam por usar câmeras Kodak baratas, mas eu gosto da qualidade de imagem do iPhone e o Hipstamatic tem um processo de pós-produção extremamente simples”,  justifica.

Para Balazs, o mais importante do processo foi mostrar situações “ignoradas” pelas agências de notícias. “A mídia não segue a guerra por muito tempo, é muito longa e complicada. Então esses fuzileiros ficaram felizes por ter jornalistas próximos contando suas rotinas. Nesse período, seus familiares podiam ver o que estavam fazendo e manter uma relação a distância”, explica.

Durante o período em que esteve ativo, o Basetracks chegou a incomodar alguns oficiais do exército americano. Mas Gardi conta que a única censura aceita foi a que tinha como propósito proteger a localização ou a estratégia dos soldados. “Quando enviávamos uma foto e ela voltava censurada, sempre pedíamos uma explicação, tínhamos um contrato assinado com os oficiais que tínhamos que cumprir. Para mim, a pior censura vem da própria mídia”, protesta. 

Para o húngaro, sua missão como fotojornalista é “aprender e repassar” a natureza dos conflitos. Ele acredita que a mídia independente tem se mostrado a melhor de forma de fazer jornalismo . “Esse é o futuro”, diz.


Lançamento Revista ZUM com Sérgio Davila e a presença de Balazs Gardi
Quando: quinta-feira (26), às 20h
Onde: Instituto Moreira Sales (Rua Piaui, 844 - 1º andar. São Paulo)
Entrada gratuita