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Millôr cobrava "cachê astronômico" para dar entrevistas, diz produtor de documentário sobre "O Pasquim"; veja trecho

Do UOL, em São Paulo

28/03/2012 14h44

Notoriamente avesso a entrevistas, o escritor Millôr Fernandes, que morreu na noite desta terça-feira (27) no Rio de Janeiro, confidenciou ao cartunista José Alberto Lovetro, o Jal, que nos últimos anos vinha cobrando "um cachê astronômico" sempre que um jornalista lhe abordava com um novo pedido.

"Ele me disse que para desistirem de fazê-lo, ele colocava um valor de cachê astronômico, que sabia que ninguém pagaria. Assim evitava o assédio", revela Jal, a quem, ironicamente, o humorista de uma de suas últimas e raras entrevistas em vídeo. Parte do documentário "O Pasquim - A Revolução pelo Cartum", alguns desses depoimentos podem ser vistos no vídeo abaixo, exibido originalmente em 1999, pela TV Senac, e cedido ao UOL por Jal.

O Pasquim: a Revolução pelo Cartum


Jal, que além de colega de profissão é um dos organizadores do prestigioso troféu HQ Mix, conta que a amizade com Millôr ajudou na hora de convencê-lo a gravar seus depoimentos."[Ele] me conhecia dos eventos e de meu trabalho no 'Pasquim'. Isso ajudou para ele ter confiança no trabalho que sairia dalí", afirma. "Ele finalmente concordou quando lhe falei que aquele documentário seria definitivo para contar a histíria do 'Pasquim' e que sem o depoimento dele ficaria perneta, que estudantes e pesquisadores no futuro teriam esse material como ouro para entenderem melhor o que foi essa revolução pelo humor."

Dirigido por Louis Chilson e coproduzido por Jal e Gualberto Costa, o documentário dividido em duas partes narra o nascimento do tabloide de humor "O Pasquim", em Ipanema, no Rio de Janeiro. Outros nomes importantes do humor nacional que participaram da publicação também dão seus depoimentos, incluindo Ziraldo, Fortuna, Sergio Cabral e outros. Todos são unânimes em identificar Millôr como um dos principais catalisadores da renovação do humor naquele início dos anos 60.

"O Millôr é o pai dos humoristas da geração Pasquim. O 'PIF-PAF' [publicação alternativa criada por Millôr] durou poucos números, mas inspirou logo em seguida aos cartunistas lançarem o 'Pasquim'", diz Jal. "Nosso documentário tem o nome 'O Pasquim - A Revolução pelo Cartum' porque consideramos que o maior movimento contra a revolução de 1964 e ditadura militar foi através do humor capitaneado pelo 'Pasquim'. O humor inteligente ludibriava os censores de tal forma que conseguiram passar as informações e enfrentar o regime militar. Um caso excepcional no mundo. O humor é altamente revolucionário e Millôr era mestre nisso."