Coletânea de crônicas de Martha Medeiros lança novo olhar sobre a felicidade
Martha Medeiros é uma autora reconhecida por sua facilidade em tocar o grande público, em especial o feminino. São dela os best sellers “Divã”, que foi adaptado ao teatro e logo ao cinema, e “Fora de Mim” (ambos da editora Objetiva). Em comum entre esses e seus outros 16 títulos lançados, pode-se dizer que há uma aproximação ao tema da felicidade. Não é diferente com a coletânea “Feliz por Nada” (L&PM Editores), que reúne 89 crônicas da autora, muitas delas publicadas originalmente em jornais do Rio Grande do Sul.
São textos curtos, com o mesmo tom informal que marca a narrativa de ficção da autora, nos quais a autora opina, interage e, principalmente, estimula o leitor a pensar no que de fato significa ser feliz. O título é mais que sugestivo. Ao longo das 216 páginas, Martha desmistifica a alegria com a vida, chamando atenção para as pequenas coisas que podem ser sinônimo de felicidade
A autora inicia o primeiro texto da coletânea com uma pergunta: “Onde é que você gostaria de estar agora, nesse exato momento?”. E assim, com essa pegada meio auto-ajuda, meio testemunho, Martha encaminha o leitor por um interessante raciocínio sobre a vida, sobre as coisas ao redor e sobre si mesmo. Confira a seguir a entrevista concedida por email por Martha Medeiros.
Marta Barbosa: Você, que escreve sobre felicidade, sofre ao escrever? Digo: o processo de escrita é sofrido para você?
Martha Medeiros: “Sofrido” seria uma palavra dramática demais. Não sofro, não. Sou cuidadosa, atenta, reescrevo bastante, sou detalhista, não me contento com o primeiro tratamento, mas chega uma hora que não há o mais que fazer: reconheço o meu limite e aí libero para o jornal. Sinto um prazer enorme nessa carpintaria. Só sofro um pouquinho quando, ao reler o que já foi publicado, percebo que fui desatenta com alguma coisa. Mas esse sofrimento dura 10 minutos, senão o trabalho vira tortura.
Marta Barbosa: O que é um sinônimo de felicidade para você?
Martha Medeiros: Tem uma frase que gosto muito: “felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia”. É tarefa pra uma vida, né? Mas chegar perto que seja dessa coerência já traz uma bem-vinda paz de espírito.
Marta Barbosa: Como surgem as suas histórias, em termos de inspiração? No caso das crônicas e também na ficção.
Martha Medeiros: O meu radar está permanentemente ligado, mas sem stress. Estou lendo um livro, e de repente uma frase me faz querer desenvolver aquele tema.Pode acontecer durante uma conversa com uma amiga, durante uma viagem, durante uma consulta na terapia. Basta que uma palavra me desperte a atenção e já me dedico a expandi-la, explorá-la, transformá-la numa reflexão. Isso nas crônicas. Ficção vem mais de dentro, geralmente o pontapé inicial é dado por uma inquietação pessoal, é o que me faz arrancar. Depois, sim, me entrego aos devaneios.
Marta Barbosa: Ser feliz é uma opção?
Martha Medeiros: Ser feliz é um mix de sorte com escolhas bem feitas. A parte da sorte é nascer numa família que possa te oferecer educação, integridade física, proteção, amor... Essa não é uma condição de todos, sabemos a quantidade de gente que nasce sem chance de realizar as questões mais básicas para ter uma vida legal, então, lógico, nesses casos não dá pra dizer que ser feliz é uma opção. Todo mundo quer ser feliz, mas nem todos têm as ferramentas.
A escritora Martha Medeiros
Agora, se têm, acho uma crueldade consigo mesmo não tentar. Muitos se boicotam. Acreditam que a felicidade é essa coisa de revista, tudo dando certo, as coisas todasno lugar. Isso não existe. A vida é uma barra, é preciso matar um leão por dia. A opção é entre fazer disso um autoflagelo ou tornar isso um desafioempolgante.
Marta Barbosa: Você considera sua escrita feminina? Por quê?
Martha Medeiros: Não penso muito nessas coisas, não identifico escritas masculinas e femininas, é um assunto que não medetém. Mas não me considero “mulherzinha” no sentido pejorativo do termo, aquela coisa toda delicadinha e tal. Tenho uma mente que flerta muito com o masculino, tenho um pensamento bi volt e acho que de certa forma isso se traduz na maneira que escrevo.
Marta Barbosa: Você acha que "a procura pela felicidade" é um causador de angústia na nossa sociedade?
Martha Medeiros: Ninguém deveria gastar um minuto pensando nisso. Felicidade é algo abstrato e inconstante. Mais vale focar noque nos dá prazer, no que faz a gente ganhar o dia, buscar soluções para minimizar encrencas, se relacionar com pessoas bacanas, afetivas, divertidas. E não se cobrar desumanamente. Acho que ter uma visão positiva da vida não faz mágica, mas minimiza alguns problemasque não são tão graves quanto parecem.
“Feliz por Nada”
Autora: Martha Medeiros
Editora: L&PM
216 páginas
Preço sugerido: R$ 31
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