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Em sua volta ao teatro, Mariana Ximenez mostra que não é só uma atriz de novela

Mariana Ximenes volta aos palcos em espetáculo dirigido por Guilherme Weber (13/9/11) - Lenise Pinheiro/UOL
Mariana Ximenes volta aos palcos em espetáculo dirigido por Guilherme Weber (13/9/11) Imagem: Lenise Pinheiro/UOL

JAMES CIMINO

Editor-assistente de Entretenimento

17/09/2011 14h46

“Ela não é só uma atriz de novela!”, diz Mariana Ximenez já no primeiro dos três monólogos que interpreta na peça “Os Altruístas”, que estreou nessa sexta (16) no Teatro Augusta, centro de São Paulo, dirigida e adaptada pelo ator Guilherme Weber do texto original de Nick Silver (“Pterodátilos”). 

A frase poderia sair vazia na boca de uma mera “atriz de novelas”,  mas Ximenez não dá oportunidade para que a plateia se lembre de qualquer uma de suas personagens de folhetim.  Sua verborrágica Sidney, essa sim uma atriz de novelas neurótica com sua juventude e obcecada pelo marido que vive a suas custas, é construída com minúcias de gestual, expressão corporal e vocal que raramente se tem oportunidade de ver na televisão.

Adicione-se a isso um desconhecido timing para comédia, e lá está ela arrancando aplausos ininterruptos da plateia extasiada ao fim da apresentação. “Frequento muito o teatro. Fui até Canudos pra ver o Zé Celso [Martinez]. Fui ver muita coisa aqui e no exterior. Uma hora vi que queria voltar ao teatro, mas não só como plateia.”

Embora produzida pela atriz, a peça não é apenas uma vitrine para que Ximenez mostre que, afinal, não é só uma atriz de novelas. Brilha ao seu lado, e com grande desenvoltura, Kiko Mascarenhas (o Santo Antonio de “Tapas & Beijos”), no papel do irmão gay de Sidney que se apaixona por um michê vivido por Jonathan Haagensen (“Cidade de Deus”). Completam o conjunto de “altruístas”, bem alinhados pela direção, Miguel Thiré, como o marido de Sidney, e Stella Rabello, no papel de uma ativista “lésbica por ideologia” que volta e meia se esquece dos lemas das manifestações de que participa. Em determinado momento, ela grita: “Libertem Nelson Mandela!” Impossível não se lembrar de Claudete Troiano perguntando por onde anda Leila Lopes.

Apesar do nome, a peça é sobre egoísmo, vazio emocional e ideológico. Com bandeiras anacrônicas, os personagens (todos da classe média, exceto o michê) usam seu suposto engajamento para sublimar suas relações amorosas, baseadas em pura satisfação sexual. Enquanto isso, a despeito de toda sua futilidade, Sidney, como a única voz dissonante dos discursos politicamente corretos, acaba parecendo ser a personagem mais lúcida dessa comédia tétrica, principalmente porque são ela e seu dinheiro de “atriz de novelas” que bancam toda a brincadeira do grupo. Em um primeiro momento a mais odiosa das personagens, Sidney se redime de tudo dizendo: “Não sou Madre Tereza de Calcutá, mas com certeza sou algo entre ela e Hitler.”

Após o espetáculo, durante o coquetel de estreia, ouvia-se vários comentários e discussões sobre o que estaria por trás do texto ou meras constatações de que a vida e as pessoas são “assim mesmo”. Uma das convidadas, uma senhora de mais idade, disse à atriz: “É tudo bem verdade, tudo isso acontece, mas essa peça é mais para os jovens!” E eles estavam lá na plateia, dando gargalhadas de si mesmos.