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Em SP, Scott Turow critica obsessão por celebridades e defende execução de Bin Laden: 'Foi um ato de guerra'

DIEGO ASSIS

Chefe de Reportagem do UOL Entretenimento

09/09/2011 15h49

O escritor e advogado americano Scott Turow, um dos pais do chamado "thriller jurídico", criticou nesta sexta-feira (9), em São Paulo, o papel da imprensa dos EUA na cobertura de casos de crimes ou delitos cometidos por celebridades.

O autor do best seller “Acima de Qualquer  Suspeita” está no país para o lançamento de “O Inocente”, seu romance mais recente, lançado na Bienal do Livro do Rio, e participou da sabatina Folha/UOL no início desta tarde.

“Não me importo em ler sobre celebridades, mas tem muito mais coisa para saber do que se Lindsay Lohan vai ou não ganhar liberdade condicional. Hoje mais americanos sabem que roupa ela usou na ida ao tribunal do que aquilo que o presidente dos Estados Unidos disse naquele mesmo dia. E isso é ruim pra democracia”, disse o autor.

No bate-papo, Turow confirmou que “O Inocente”, uma continuação de “Acima de Qualquer Suspeita”, será transformado em filme para a TV, produzido pelo canal TNT. No papel principal, do juiz Rusty Sabich, estará Bill Pullman em vez de Harrison Ford, que fez o personagem no original de duas décadas atrás. “Harrison leu o livro e gostou, mas o que mais posso dizer... Ele é um grande ator. Só direi que não deu certo, vamos deixar assim”, brincou o autor, deixando no ar uma provável saia justa com o astro de Hollywood, que tem fama de difícil.

Antes de "O Inocente", seus romances "O Ônus da Prova", "Erros Irreversíveis" e "Declarando-se Culpado" também já haviam ganhado versões em telefilmes. Produzida por Sidney Pollack e dirigida por Alan Pakula (de "Todos os Homens do Presidente"), a adaptação de "Acima de Qualquer Suspeita" foi a única a ser exibida no cinema. "A Hollywood de hoje é muito diferente daquela dos anos 80. Hoje, se faz menos filmes e principalmente para agradar os espectadores mais jovens, que são a maior parte da audiência. Já se convencionou nos EUA que o lugar da Corte é na TV", apontou.

Bin Laden
Conhecido por defender a extinção da pena de morte nos EUA, Turow admitiu, no entanto, que não se opõe à ação do exército americano que terminou com o assassinato do terrorista Osama bin Laden. "Como eu, que não acredito na pena de morte, posso achar certo o que aconteceu? E eu acho. O fato é que a pena de morte é uma maneira de o país lidar com questões internas que se referem a seus próprios cidadãos, não serve para assuntos de guerra. Não há dúvida de que a Al-Qaeda está em guerra com os EUA. E isso [a execução de Bin Laden] foi um ato de guerra dos Estados Unidos."

Dono de um currículo de mais de 20 milhões de livros vendidos em todo o mundo e atual presidente do Sindicato dos Autores dos EUA, Turow expressou preocupação com a pirataria de livros diante do crescimento da digitalização das obras. "Os títulos são digitalizados oficialmente e vendidos em lojas, mas os piratas copiam e os disponibilizam em redes de trocas de arquivos. Os e-books são bons para a literatura e os leitores, mas temos de ter certeza de que existam leis para proteger os autores", prega o escritor-advogado, que, coincidentemente, batizou o cenário fictício de praticamente todos os seus livros como condado de Kindle muito antes de a Amazon escolher esse nome para nomear seu dispositivo de leitura de livros digitais. "Eles negam [que tenham emprestado o nome da obra de Turow], mas sei que um dos criadores do produto também era de Chicago", ironiza.

  • Divulgação

    O escritor norte-americano Scott Turow, em foto de arquivo

A arte (quase) imita a vida
Atração deste sábado, penúltimo dia da Bienal do Rio, Turow participará de debate e sessão de autógrafos de "O Inocente", recém-lançado pela editora Record. No romance, ele revisita o ex-promotor - e agora juiz - Rusty Sabich, que em "Acima de Qualquer Suspeita", era acusado de ter assassinado uma colega de trabalho e amante. Agora sessentão e prestes a ser admitido na Suprema Corte dos EUA, Sabich volta a levantar suspeitas depois que sua mulher amanhece morta a seu lado na cama. O motivo da desconfiança? Em nova crise no casamento, o juiz envolve-se em um outro relacionamento perigoso, com uma advogada 30 anos mais jovem que ele.

Turow diverte-se ao ser perguntado sobre as possíveis semelhanças entre a arte e a sua vida particular. "Tenho 62 anos, acabei recentemente um longo casamento, tenho filhos mais velhos e ainda tento achar a parceira da minha vida. Mas, não, eu não tinha uma amante como aquela - embora isso possa decepcionar alguns dos meus colegas", brinca, referindo-se à voluptuosa Anna Vostic, pivô da crise conjugal do personagem.