"Macumba Antropófaga" comemora 50 anos do Teatro Oficina em peça sobre Oswald de Andrade
Parece que os tambores batidos no Teatro Oficina, em São Paulo, estão dando sorte para a trupe de José Celso Martinez Correa. Prestes a estrear o espetáculo "Macumba Antropófaga", homenagem a Oswald de Andrade e que comemora 50 anos do grupo profissional do Uzyna Uzona, o UOL acompanhou uma noite da peça pelas ruas do Bixiga, no último sábado (6), em meio a boas notícias envolvendo o teatro - o tombamento é uma delas.
"Conheço o Zé Celso desde o comecinho do Oficina na USP. Acompanho o trabalho deles há muitas décadas, vi como foi o exílio do Zé na ditadura", diz um fã na porta do teatro enquanto aguarda o ensaio de "Macumba Antropófaga".
São cerca de 19h30 quando o diretor paulista, de Araraquara, chega ao Oficina. Um sino soa alto anunciando o início do ensaio e os atores entram em uma espécie de transe. Com 74 anos, Celso diz que está "exausto" quando se junta à roda. Mas não é isso que mostra quando o grupo dá a volta no quarteirão do bairro fazendo danças xamãs e entoando canções entre batuques.
A primeira parada dos cerca de 40 atores e dançarinos batizados de "Tupinambás e Aymorés" ocorre no extinto Teatro Brasileiro da Comédia (TBC). Uma roda de fogo é feita em frente ao espaço que consagrou Cacilda Becker e a própria sai do empoeirado galpão vestida com um véu preto.
Nas janelas, o público acompanha sem surpresa, sabendo que aquele é um dos rotineiros ensaios do polêmico diretor. Enquanto isso, Cacilda se transforma em Tarsila do Amaral e o grupo segue para o prédio onde Oswald de Andrade viveu. Mais uma roda se abre, dessa vez com uma cabra no meio. Os atores acariciam o animal enquanto cantam para que Oswald desça.
Acompanhado por um carro da CET, o espetáculo vai para o terreno que já foi invadido pelo grupo e há anos é cobiçado pelo Oficina. Uma oca improvisada abriga tubinambás, aymorés, dançarinos, cinegrafistas e alguns curiosos. Mais um ritual é feito. Dessa vez para unir Tarsila e Oswald, ícones do modernismo.
Com poucos textos falados, o espetáculo funciona como um musical bem brasileiro. "Nós, oswaldianos, e todos bichos humanos. Troquemos terrenos entre nós, seres terrenos, troquemos seres e entidades que criamos", recita uma atriz durante a passagem "troca de terrenos".
A troca ainda é feita de maneira improvisada, com uma escada de madeira no meio do terreno para uma pequena entrada no Oficina, onde o espetáculo continua com um ar mais indígena. Quando for aberto ao público na próxima semana, a organização disponibilizará uma bolsinha para levar pertences durante a caminhada e para quem quiser assistir a peça só no teatro, um telão exibirá as imagens transmitidas da rua.
Conquistas recentes
O ano de 2011 é de vitórias para o Uzyna Uzona. No início do ano, o Oficina recebeu a notícia do tombamento pelo Minc e a criação de um grupo no Ministério que acompanhará o processo do projeto de transformar o teatro em uma arena e espaço cultural. E depois de anos de briga com o vizinho Silvio Santos, o diretor Zé Celso conseguiu o empréstimo do terreno que seria transformado em shopping e a oportunidade de trocar o imóvel por outro do mesmo valor na região.
Para a comemoração dos 50 anos do grupo oficial do teatro - em 2009, eles comemoraram os 50 anos da criação - também será lançado um box com quatro adaptações para o cinema dos espetáculos "Os Bandidos", "Cypriano e Chan-ta-lan", "Taniko" e "Vento Forte para um Papagaio Subir". A macumba é da boa.
“MACUMBA ANTROPÓFAGA”
Onde: Teatro Oficina (R. Jaceguai, 520, tel. 0/xx/11 3106-2818)
Quando: Estreia 16/8, às 21h. A partir do dia 20, sáb. e dom., às 16h.
Quanto: R$ 50 (inteira), R$25 (meia) e R$10 (moradores do Bixiga com comprovante de residência)
Mais informações: ingressosmacumba@teatroficina.com.br
Indicação etária: 16 anos
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