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"Fiquei muito tocado com sua história de vida", diz ator francês que interpretou Garrincha no teatro

O ator Eric Elmosnino discursa durante cerimônia do César (25/02/2011) - Getty Images
O ator Eric Elmosnino discursa durante cerimônia do César (25/02/2011) Imagem: Getty Images

BRUNO GHETTI

Colaboração para o UOL, de Paris, França

05/08/2011 07h00

Mesmo sem ter propriamente uma beleza convencional, o ator francês Eric Elmosnino, 47, conseguiu se destacar na sua carreira em papeis de grandes sedutores. Um deles é Serge Gainsbourg, que ele interpreta no filme "Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres", em cartaz no país. Mas poucos sabem que Elmosnino já deu vida a outro grande Don Juan - também não exatamente um ícone de beleza . Em 2001, nos palcos franceses, ele interpretou o jogador Mané Garrincha, na peça "Monsieur Armand dit Garrincha" ("Senhor Armand vulgo Garrincha", em tradução livre).

O espetáculo era um monólogo escrito pelo dramaturgo Serge Valletti a pedido do próprio Elmosnino. Em cena, ele era um obscuro jogador de futebol francês que, em momentos de delírio, tornava-se o "anjo das pernas tortas" - a peça revisitava pontos-chave da trajetória do ídolo do Botafogo.

"Eu não conhecia o Garrincha até ler um artigo publicado em um jornal francês em 1998, durante a Copa do Mundo da França. Fiquei muito tocado com sua história de vida, eu cheguei até a chorar ao ler a reportagem", disse Elmosnino em entrevista exclusiva ao UOL Entretenimento.

O ator se comoveu principalmente com a decadência de Mané e o seu melancólico fim de vida, acelerado pelo excesso de álcool. Atento ao potencial dramático do personagem, o ator teve a ideia de levar para o palco a vida do jogador mineiro. Depois de muita pesquisa, Valetti concluiu a encomenda, e a peça estreou em 2001.

"Garrincha foi um personagem muito interessante. Era um homem que conseguia ser, ao mesmo tempo, um verdadeiro gênio e uma pessoa extremamente simples", conclui Elmosnino.

O francês sabia que iria interpretar não apenas uma personalidade intrigante, mas um grande ídolo brasileiro, e deu tudo de si. Como resultado, ganhou seu primeiro prêmio de atuação (do Sindicato dos Críticos Franceses) pela peça e passou a ter mais destaque na carreira. Vieram papeis cada vez melhores no teatro e convites mais frequentes para o cinema.

A consagração só veio mesmo há dois anos, novamente na pele de um grande ídolo, mas desta vez de seu próprio país: o compositor Serge Gainsbourg. Curiosamente, trata-se também de um sedutor inveterado e de comportamento tão autodestrutivo quanto o personagem que lhe abriu portas no início da década passada.

"Interpretar um ídolo francês não foi algo que me tenha feito sentir medo. Eu participei deste filme em um estado total de despreocupação. Na verdade, antes de dar vida a Serge Gainsbourg no cinema, eu tinha em mente que estava participando de um filme dirigido por Joan Sfarr", diz o ator, mostrando reverência ao diretor do longa, até então conhecido apenas como autor de HQs.

Pela atuação em "Gainsbourg", Elmosnino ganhou o César (o Oscar francês) de melhor ator e se tornou um rosto conhecido, dentro e fora de seu país - rosto que, aliás, é muito semelhante ao do compositor das clássicas "Je t’Aime Moi non Plus" e "Initials BB".

"Eu me lembro que quem primeiro reparou em minha semelhança física com Gainsbourg foi a minha irmã, isso há muitos anos. Eu até gostei, me divertia bastante com isso. Depois, ao fazer o filme, achei graça ao ver o resultado quando me caracterizei como Gainsbourg". Mas o ator diz que as semelhanças não vão além do físico. "Na verdade, eu e Serge Gainsbourg não nos parecemos em praticamente nada. Porém, de alguma maneira, quando fazia o filme, houve um encontro, uma junção entre nós. O resultado está na tela".

Elmosnino começou a carreira ainda nos anos 80, em pequenos papeis no cinema. Passou pelo prestigioso grupo de teatro Amandiers e acumula hoje no currículo peças de Shakespeare, Molière e Brecht. Atualmente, ele colhe os frutos de "Gainsbourg": no cinema, só em 2011, deve aparecer em cinco projetos diferentes, entre eles "Le Skylab", dirigido pela também atriz Julie Delpy.

"Estou em um período muito feliz da minha vida, a celebridade não me atrapalha em nada. Eu me sinto como se tivesse ganhado um prêmio na loteria", comemora.

Como acontece com grande parte dos atores pouco conhecidos que, ficam repentinamente célebres por um personagem forte, existe um risco que Elmosnino seja para sempre lembrado como Serge Gainsbourg. O francês sabe bem desse risco, mas se mostra tranqüilo.

"Não tenho esse medo. Acredito que sempre haverá coisas interessantes a serem feitas. Espero continuar a fazer personagens que possam dar prazer à plateia, isso é o mais importante". O galã improvável, que nos palcos e nas telas foi capaz de conquistar lindas mulheres, quer agora seduzir o público.