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Neurocientista e filósofo levantam o público da Flip

O neurocientista Miguel Nicolelis durante debate na Flip (7/7/2011) - Walter Craveiro/Divulgação Flip
O neurocientista Miguel Nicolelis durante debate na Flip (7/7/2011) Imagem: Walter Craveiro/Divulgação Flip

DANIEL BENEVIDES<br>Colaboração para o UOL<br>Em Paraty (RJ)

08/07/2011 11h45

Um duelo cordial entre otimismo e ceticismo. Esse poderia ser o resumo da mesa que reuniu, na segunda noite da Flip, o neurocientista Miguel Nicolelis e o filósofo Luiz Felipe Pondé, com mediação da jornalista Laura Greenhalgh. A conversa girou em torno do tema “O humano além do humano”.

A própria linguagem corporal já denunciava de que lado estavam os “contendores”. Nicolelis levantou-se e dirigiu-se à plateia irradiando segurança e entusiasmo; Pondé preferiu ficar sentado, numa postura relaxada, algo blasé. O contraste não poderia ser maior.

O neurocientista, que acaba de lançar “Muito Além do Nosso Eu” pela Companhia das Letras, deu o seu recado acompanhado de imagens no telão. Mostrou experiências impressionantes de interface entre cérebro e máquina, como no caso da macaca que movimenta um robô do outro lado do mundo apenas com a força do pensamento.

Muito aplaudido, falou do projeto de um “exoesqueleto” que permitirá a pessoas com severas limitações motoras andar com o comando do cérebro. A meta é que uma criança tetraplégica dê o pontapé inicial na Copa de 2014 usando esse aparelho.

Pondé, por sua vez, lançou mão de um arsenal de frases de impacto (e senso de humor) para provar que a ciência é próxima da religião e que o ser humano é um projeto falido. Citando Chesterton, disse: “O problema de ser ateu é adquirir novas crenças”. E continuou: “Somos todos eugenistas de uma maneira ou de outra”; “a gente mata porque gosta”; “a vida é um escândalo, e no final dá sempre errado”; “o que humaniza o homem é o fracasso”.

  • Getty Images

    O norte-americano James Ellroy

Caipirinha noir

Completamente seduzido pelos poderes da caipirinha, James Ellroy, o rei do romance policial, ficou em sua pousada, sempre com um copo na mão e observações divertidas na ponta da língua. Alto, usando uma camisa florida de manga curta, nem parecia sentir o frio que invadiu Paraty.

Entre outras coisas, falou mal dos seus colegas de gênero literário, elogiou mais uma vez Don DeLillo e declarou que as edições brasileiras de seus livros (da Record) são as mais bonitas que ele já viu depois das americanas. Disse também que está preparando um novo quarteto de livros com os mesmos personagens de "Los Angeles – Cidade Proibida" e "Dália Negra", só que vinte anos mais novos.

Destaques desta sexta-feira

Sexta boa para os amantes de literatura. Na primeira mesa, às 10h, o argentino Andrés Neuman, tido como um dos melhores escritores em língua espanhola dos últimos tempos, autor do excelente “Viajante do século” (Alfaguara) conversa com Michael Sledge, que ficcionalizou a vida da poeta Elisabeth Bishop no Brasil, em “A arte de perder” (Leya).

  • Divulgação

    A argentina Pola Oloixarac é destaque de sexta-feira na programação da Flip

Em seguida fala a musa da Flip, Pola Oloixarac, que teve seu clássico nerd instantâneo, "As Teorias Selvagens" (Benvirá), lançado recentemente no Brasil. Quem conversa com ela é o português de linguagem lírica e experimental, (ver "A Máquina de Fazer Espanhóis", Cosac Naif), valter hugo mãe.

Na Casa de Cultura, às 18h, Lourenço Mutarelli interpreta a peça que ele mesmo escreveu sobre os últimos minutos de vida de seu pai, “O Outro”. Famílias e amigos também são temas do húngaro Péter Esterházy em “Os Verbos Auxiliares do Coração” (Cosac Naify), livro fascinante sobre a morte da mãe. Seu parceiro de mesa será  o francês Emmanuel Carrère, que acaba de lançar as novelas "O Bigode/A Colônia de Férias" (Alfaguara).