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Com lápis, régua e caderno, jovens de 30 países "tiram som" em campeonato de batucada no RJ

FABÍOLA ORTIZ

Colaboração para o UOL, do Rio

12/06/2011 11h50

Munidos de lápis, caneta, régua e caderno, estudantes universitários de 18 a 25 anos de 30 nacionalidades provaram que é possível fazer batucada substituindo os instrumentos musicais por material escolar. Neste sábado (11), no Rio de Janeiro, 31 equipes de diversos países, línguas e culturas participaram da final mundial do "Tum Tum Pá", a primeira competição universitária de batucada.

O desafio era, em 60 segundos, tocar uma composição original e, numa segunda rodada, fazer um cover de uma música a ser escolhida pelos próprios competidores. Apenas com o uso de instrumentos inusitados, jovens vindos da Argentina, Austrália, Jamaica, Estados Unidos, Canadá e Chile, entre outros, aliaram a criatividade e o ritmo para representarem seus países na final do campeonato, na tarde deste sábado (11), no Morro da Urca.

As equipes fizeram um bom batuque com lápis e canetas servindo de baquetas e baldes de lixo sendo usados como instrumentos de percussão. O som do reco-reco foi reproduzido a partir de uma régua friccionada contra a pasta de plástico ou num teclado de computador.

A criação não tem limites e as batidas do samba e funk podiam ser perfeitamente emuladas. O primeiro lugar foi conquistado pelo grupo de quatro amigos egípcios vindos do Cairo. “Temos há um ano uma banda no Egito e fazemos música usando a percussão a partir da lata de lixo. Para mim, o material escolar foi realmente novo, eu nunca usei uma régua ou papel. Adoro percussão e quando me falaram para vir ao Rio de Janeiro foi como um sonho que se tornou realidade”, contou Shahir Rafik, um dos integrantes do quarteto.

Antes de desembarcar no Brasil, o grupo de estudantes da American University, na capital do Egito, praticou apenas quatro vezes. Durante os ensaios, os jovens utilizaram latas, réguas, grampeadores, papeis e clipes como instrumentos. Shahir disse que foi um desafio descobrir os sons que tais objetos poderiam produzir. “Levamos um tempo para ter o som dos instrumentos. Foi doido. Aqui no campeonato, não há rivalidade, estamos todos por causa da música, a música reúne todo o mundo”, disse.

A disputa foi apertada. Em segundo lugar, os Prostitutos do Ritmo, grupo formado por alunos de publicidade do Mackenzie de São Paulo, conquistaram os jurados ao tocar uma bateria formada por três porta-lápis e uma agenda que dava o som grave. Dentro de uma lata, clipes para reproduzir o som de um chocalho, além do grampeador usado como baqueta.

Sem experiência em música, os amigos paulistas ensaiaram poucas vezes, mas foram capazes de tocar samba e fazer um som de funk. Os paulistas formam a equipe brasileira que se classificou nas competições regionais para representar o país no "Tum Tum Pá", neste fim de semana. “Não tínhamos nenhuma experiência, quando colocaram a divulgação do campeonato no centro acadêmico da universidade para a etapa nacional, a gente se inscreveu. No dia do evento a gente fez o que combinou e de repente nós ganhamos o troféu”, disse Fellini Conti, de 20 anos, conhecido como Fel Samba.

Já para o grupo de curitibanos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), algumas aulas perdidas na faculdade foram o suficiente para montar a série que seria tocada no concurso. Também um quarteto, o grupo chamado Poliritmia, é formado por alunos de comunicação social e direito.

“A gente juntou o gosto de cada um e tentou variar o máximo possível para que os sons pudessem ser explorados. Ficou muito bacana. A gente sempre foi fascinado por batucada”, disse Rafael Moraes, um dos integrantes.

O processo para descobrir o som, segundo Vitor Hugo também do Poliritmia, foi “natural e espontâneo”. “Não viemos com nada pronto, a gente criou tudo novo”, contou.

Batuque do Paquistão

Também estavam presentes no "Tum Tum Pá" equipes de países árabes e caribenhos que puderam mostrar um pouco de sua cultura através do batuque. É o caso do Chaar Payee, um grupo de jovens paquistaneses, entre 21 e 23 anos, que ficaram encantados ao vir para o Brasil.

“Em Urdu, na nossa língua, Chaar Payee significa quatro irmãos e nós somos irmãos, nos conhecemos desde criança”, disse ao UOL Mubashar Ahmer. O rapaz destacou ser a música o elemento em comum entre os amigos que fazem diferentes cursos na cidade Lahore, como arquitetura, contabilidade e marketing.

Para os paquistaneses, esta é a “experiência de uma vida”, pela oportunidade de conhecer ritmos de outros países. “Todos nós gostamos de percussão. Vir para o Rio de Janeiro e sermos capazes de expressar a cultura do Paquistão, é uma grande oportunidade”, disse Ahmer.

O famoso intérprete de samba Neguinho da Beija-Flor, foi um dos jurados do "Tum Tum Pá" e disse, ao UOL, ser uma responsabilidade julgar as equipes. “É um som maravilhoso, foi sensacional. Foi a primeira vez que eu tive esse tipo de experiência de julgar um ritmo criado com material escolar. O diferencial está aí, eles tirarem um som com material escolar. Está mais uma vez provado que o ritmo não é só privilégio de alguns países como o merengue do Caribe ou o samba do Brasil. O ritmo é mundial e é democrático, os meninos do Paquistão me surpreenderam, dei 10 para eles, assim como para o Egito", disse.