Obra de pioneiro do grafite no Brasil é reunida em livro
"Enfeitar a cidade, transformar o urbano com uma arte viva, popular, da qual as pessoas participem, é a minha intenção", dizia Alex Vallauri (1949-1987). Com sua Rainha do Frango Assado, desenho de uma pin-up bem brasileira, carregando um frango assado em uma bandeja, o etíope de origem italiana se tornou referência da arte urbana no Brasil.
Em tempos em que o grafite se consolida no circuito artístico, o trabalho de Vallauri -- que veio para Santos (SP) em 1965, após passar a infância e parte da adolescência na Argentina -- é reunido, 24 anos após sua morte, em livro organizado pelo crítico e curador João J. Spinelli, amigo do artista desde os tempos da faculdade de comunicação visual em São Paulo.
A publicação mostra figuras que Vallauri tornou conhecidas em grafites por São Paulo e outras cidades pelas quais passou. Por meio da arte estêncil -- técnica que usa um molde vazado, preenchido com tinta spray sobre uma superfície, revelando rapidamente o desenho --, no fim da década de 1970 Vallauri pôde fazer o que mais queria: espalhar pela cidade sua arte, reproduzida em grande escala.
Nessa época, ele já era um artista reconhecido no Brasil, tendo participado da Bienal Internacional de Arte de São Paulo e dado aulas na Faap, onde estudou. Mas queria maior contato com o público. "Quando ele começou, haviam pichações poéticas e políticas, mas ele achou que faltavam imagens", conta Spinelli.
Quando ele começou, haviam pichações poéticas e políticas, mas ele achou que faltavam imagens
João J. SpinelliEm São Paulo, Vallauri saía sozinho durante a madrugada, de bicicleta (ele só se locomovia dessa forma onde morava), para pintar muros de bairros como a Vila Madalena, Bela Vista, Lapa, Barra Funda, Liberdade e Higienópolis. Não gostava do hermetismo das galerias, diz Spinelli. Chegou a ser preso algumas vezes grafitando, e também não agradava aos tradicionalistas das artes. Já nas ruas, as opiniões se dividiam -- havia quem pedisse que ele desenhasse no muro de casa, outros apagavam as pinturas.
Nessa época, para não ter de se preocupar em vender sua arte, dividia seu trabalho entre o artístico e o comercial. Fazia trabalhos para grifes como Levi's e Fiorucci, desenhava joias. "Ele não queria vender", conta o autor do livro.
Durante o período em que morou em Nova York, início da década de 1980, fez cenários para eventos da prefeitura, participou de campanhas políticas, levou seu estêncil para as ruas -- e depois para cartão postal da cidade, quando um fotógrafo registrou seu trabalho para o souvenir, junto a obras de Keith Haring e Jean-Michel Basquiat. Viu arte em papel de presente natalino, usando o material em trabalho que foi elogiado até por Andy Warhol.
"Ele fazia uma arte alegre", resume o autor do livro, que considera o trabalho de Vallauri um "pop tropical, latino-americano", crítico e também político. Além do livro, a obra do pioneiro do grafite no Brasil poderá ser vista no segundo semestre em uma grande exposicão em São Paulo, ainda sem data e local definidos.
"ALEX VALLAURI: GRAFFITI: FUNDAMENTOS ESTÉTICOS DO PIONEIRO DO GRAFITE NO BRASIL"
Autor: João J. Spinelli
Editora Bei - Português/Inglês
240 páginas - R$ 120
Lançamento nesta quarta-feira (8) a partir das 18h30 na Livraria Cultura (av. Paulista, 2073, Conjunto Nacional)
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