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Ilustrador de musas, Benício lança livro e diz que mulheres estão "perdendo curvas"

CADU RAMOS

Colaboração para o UOL

16/02/2011 10h47

A editora Reference Press lança nesta quarta-feira (16), em São Paulo, o livro "Sex & Crime - The Book Cover Art of Benicio", o primeiro dedicado exclusivamente à obra do ilustrador José Luiz Benicio, ou simplesmente Benicio, 74, autor de mais de 300 cartazes para o cinema, três mil ilustrações para livros de bolso e anúncios para grandes marcas, como Coca-Cola, Esso e Banco do Brasil.

Na publicação, além das famosas personagens Giselle e Brigitte, estrelas dos livros de bolso da editora Monterrey, aparecem pin-ups criadas para a revista "Playboy" e para peças publicitárias.  

Em entrevista ao UOL por telefone, o ilustrador falou sobre o lançamento, sobre a mudança do corpo feminino nos últimos anos -- "[as mulheres] estão ficando fortes, perdendo aquelas curvas" -- e comentou o recente caso envolvendo a capa de disco do MC alemão Morlockk Dilemma, que plagiou arte sua feita para o álbum "Amar Pra Viver ou Morrer de Amor", de Erasmo Carlos. Leia abaixo.

UOL - Você chegou a fazer mais de duas mil capas de livros. Como conseguiu produzir tanto?

Benício - A minha prática de desenhar com rapidez ajudou, mas outros fatores também contrbuíram, como o fato das capas não exigirem detalhes no plano de fundo, serem basicamente a fotografia da personagem.  

UOL - Em 2006, o jornalista Gonçalo Júnior escreveu “Benício – Um perfil do mestre das Pin-Ups e dos Cartazes de Cinema”. Agora ocorre o lançamento de “Sex & Crime – the book cover art of Benício”. Como você vê este recente interesse pelo seu trabalho por parte das editoras? 

Benício - Eu nunca analisei este interesse da juventude pela minha obra, mas acredito que se deve muito ao fato do meu nome estar ligado ao desenho de mulheres, de pin-ups.    

UOL - Como é o seu processo de criação?

Benício - Varia de acordo com o produto. As personagens dos livros criei com base na descrição do autor. Assim surgiram Giselle, "Espiã Nua Que Abalou Paris";  e Brigitte Montfort [ambas personagens de livros de bolso da editora Monterrey que eram vendidos em bancas de jornal] . Para o cinema, ou criava a partir de still (fotografia das cenas), ou o artista posava para mim, ou então ia na base também da descrição do autor. O cartaz de "A Super Fêmea", com Vera Fischer, um dos que mais gosto, por exemplo, foi feito a partir de conversas com o diretor. Não tive o prazer de receber a Vera em meu estúdio (risos). 

UOL - Por falar em Vera Fischer, qual atriz atualmente você gostaria de retratar em um cartaz?

Benício - Existem muitas, mas uma que se destaca é a Maria Fernanda Cândido. Ela é bonita, elegante, tem curvas. Se parece, aliás, com as musas de tempos atrás. 

UOL - Antigamente existiam mais musas?

Benício - O que acontece é que hoje em dia as mulheres estão masculinizadas. Elas estão ficando fortes, perdendo aquelas curvas. Um processo que, a meu ver, está ligado à competição com os homens em todas as áreas.  

UOL - O cartaz de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" é um dos mais conhecidos, não?

Benício - Sim, principalmente por conta do sucesso da obra nos cinemas. Mas tem também os cartazes dos filmes dos Trapalhões e muitos outros.  

UOL - Quando falam de seus desenhos, sempre o comparam a Norman Rockwell [pintor e ilustrador norte-americano do século 20]. É uma fonte de inspiração do seu trabalho? 

Benício - Obviamente a obra dele é muito maior do que a minha. O Rockwell é incomparável, um ícone. Mas existe uma semelhança em nosso trabalho no fato de urnirmos realidade e ficção nos desenhos.   

UOL - E o trabalho em publicidade? Você é um dos criadores da parte visual do Rock in Rio?

Benício - Eu sempre trabalhei com publicidade, e o Rock in Rio foi idealizado pela agência Artplan quando eu estava lá. Mas quem cuidou do visual do festival foi mais o Cid Castro, que estava diretamente ligado ao evento. Eu só dei alguns palpites, não fazia parte do departamento.     

UOL - Como está o processo envolvendo o músico alemão Morlockk Dilemma, que plagiou a capa do disco "Amar Pra Viver ou Morrer de Amor", de Erasmo Carlos, feita por você?

Benício - Um site brasileiro, o "ilustrasite", viu isso e me informou. Contratei um advogado e o processo está em andamento. Aquilo não se trata de uma inspiração ou de uma homenagem, e sim cópia mesmo. Praticamente só mudou o rosto do modelo.


"SEX & CRIME: A ARTE DE BENICIO EM LIVRO E EXPOSIÇÃO"

Quando: 16/2. Quarta-feira, das 19h às 22h.  A exposição ficará aberta ao público nos dias 17 a 26/2, das 11h às 20h
Onde: Cartel 011 (Rua Artur de Azevedo 517, Pinheiros, São Paulo-SP. Tel.: 0/xx/11/3081-4171)
Quanto: entrada gratuita