Fórum e mostras de fotografia discutem exílio, globalização e autoria em SP
O fotográfico visto como uma linguagem expandida, como um "território" de exilados e como fonte viva de subversões. Esses eixos percorrem três eventos sobre fotografia contemporânea que começam nesta semana em São Paulo. No Itaú Cultural, há o 2º Fórum Latino-Americano de Fotografia, que segue até dia 24, e a exposição coletiva "Histórias de Mapas, Piratas e Tesouros", em cartaz até 19 de dezembro. Já a galeria Vermelho exibe "Entretanto", individual do coletivo paulistano Cia de Foto até o dia 13 de novembro.
O tema do fórum, "Fora de Casa, Fora do Eixo - Exílios e Migrações na Fotografia", veio para um dos organizadores do evento, Iatã Cannabrava, como uma decorrência de sua biografia. "Lendo 'Purgatório', do Tomás Eloy Martínez, encontrei uma frase contundente: 'Do exílio ninguém retorna'. Sou filhos de exilados políticos, vivi minha adolescência fora do Brasil", diz ele. "A exposição amarra a questão da diluição da identidade nacional com a diluição das fronteiras, apresentando uma nova geração de produtores de imagens que surge em um novo paradigma."
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Trabalho de Alec Soth feita na Flórida (EUA), em 2004: fotógrafo norte-americano é destaque do 2º Fórum Latino-Americano de Fotografia
Entre os destaques da programação, está a entrevista do norte-americano radicado no Canadá Alec Soth que será feita pelo britânico Martin Parr, reunindo dois nomes de grande evidência na fotografia contemporânea em âmbito mundial, que acontecerá na sexta, às 17h30. Começando às 20h, na quinta, uma mesa chamada "Fora de Casa" discute essa produção feita em um contexto de migração, com a presença do cubano Juan Antonio Molina e da venezuelana Cecilia Fajardo Hill, além dos brasileiros Eder Chiodetto e Rubens Fernandes Júnior. Na sexta, no mesmo horário, a mesa "Como nos Vemos" e "Como Somos Vistos" reúne o espanhol Claudi Carreras e o carioca Milton Guran, entre outros, para discutir a diluição das identidades nacionais.
Artistas experimentais
Atrelada ao fórum, a mostra "Histórias de Mapas, Piratas e Tesouros", com curadoria de Eduardo Brandão (cocuradoria da Cia de Foto), um dos sócios da galeria Vermelho, faz um recorte da produção contemporânea latino-americana destacando artistas que buscam a experimentação e cruzam linguagens e suportes. Assim, não há apenas fotografias sendo exibidas nas paredes do espaço expositivo, mas também projeções de vídeos, desenhos, objetos e até uma espécie de incubadora, onde artistas brasileiros --os coletivos Cia de Foto e Galeria Experiência, o mineiro João Castilho, o cineasta Marcelo Pedroso e o DJ Guab-- fazem trabalhos colaborativos que serão apresentados durante a mostra, resultado da residência que participam no Itaú desde a semana passada.
"Não faria sentido fazer uma exposição aqui em moldes mais tradicionais. Os artistas que usam a fotografia têm muito forte esse hibridismo de meios. Usam câmeras que filmam, se valem de ferramentas na internet como o Google Earth e realmente investigam em suas obras qual é o território deles. Por isso o andar de cima da mostra, que se refere a mapas, é todo organizado em cima dessas indagações", conta Brandão. Assim, a gaúcha Denise Gadelha, por exemplo, tira fotos da paisagem de edifícios de São Paulo e suas localizações como se apresentam no Google Earth. O venezuelano Julián Núñez mapeia restaurantes chineses no mapa de Caracas e faz fotografias de ingredientes do "arroz frito" colhido em diferentes pontos da capital venezuelana, mesclando as linguagens da fotografia e da pintura.
Já o argentino Martin Bonadeo projeta vídeo de diferentes bandeiras em um tecido que simula exatamente as proporções de tal símbolo nacional. Com o desenvolvimento das projeções, as cores se fundem e são borradas. "É uma exemplo da fotografia política de hoje, bem diferente da documental pela qual a América Latina ficou muito conhecida em décadas anteriores", afirma Brandão.
Obra "Prospecções para Perspectiva Aérea" (2010), de Denise Gadelha: artista une fotos da paisagem de edifícios de São Paulo e suas localizações como se apresentam no Google Earth
"O fórum também trata da confusão decorrente da diluição das fronteiras entre fotografia, cinema e vídeo, além das entre arte e documento. O digital e principalmente a internet e sua democratização do processo de criação e difusão propiciam tudo isso", declara Cannabrava.
Nos outros andares, o curador dedicou um aos tesouros, com base em um conceito expandido de livro, com participações de Amilcar Packer, Cris Bierrenbach e Lúcia Mindlin Loeb, entre outros. Por fim, no último andar, o subterrâneo tem como centro os laptops e outros equipamentos diversos dos residentes, em uma analogia com piratas que vão "minar" o sistema. "É muito forte aqui o conceito de autoria diluída e a vivência coletiva para produzir trabalhos, muitos deles efêmeros", conta Pio Figueiroa, um dos integrantes do Cia de Foto.
O coletivo paulistano é emblemático nas indistinções entre suportes para a obra fotográfica e ganha individual na Vermelho, em cartaz até novembro. No espaço, apresentação série de retratos feitos em Salvador ("Carnaval") e duas séries que mesclam captação de imagens em movimento e instantâneos fotográficos, uma de retratos de figuras famosas ("Longa Exposição") e outra realizada em janeiro e fevereiro, quando São Paulo passou por um período de fortes chuvas, quase sitiando bairros inteiros do restante da cidade.
::2º FÓRUM LATINO-AMERICANO DE FOTOGRAFIA
Quando: até 24 de outubro, em horários variados
Onde: Itaú Cultural (avenida Paulista, 149 --estação Brigadeiro do metrô--, São Paulo-SP)
Quanto: grátis
Informações: 0/xx/11/2168-1776 e www.forumfoto.org.br
"HISTÓRIAS DE MAPAS, PIRATAS E TESOUROS"
Quando: de 21 de outubro a 19 de dezembro de 2010. De terça a sexta, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Onde: Itaú Cultural (avenida Paulista, 149 --estação Brigadeiro do metrô--, São Paulo-SP)
Quanto: grátis
Informações: 0/xx/11/2168-1776/1777 e site do Itaú Cultural
"ENTRETANTO" - CIA DE FOTO
Quando: até 13 de novembro de 2010. Terça a sexta, das 10h às 19h; aos sábados, das 11h às 17h
Onde: galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, São Paulo-SP)
Quanto: grátis
Informações: 0/xx/11/3138-1520, e-mail info@galeriavermelho.com.br e site da galeria Vermelho
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