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Fotografia nacional se une para garantir mais recursos públicos

MARIO GIOIA<br>Colaboração para o UOL

02/07/2010 16h15

Em uma iniciativa praticamente inédita, a fotografia nacional se uniu a fim de garantir mais recursos públicos para a área após a realização do 1º Encontro da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil, ocorrido em Brasília em maio passado. O evento referendou a autonomia e a especificidade da linguagem da foto.

“É uma vitória esse encontro, depois de anos e anos de rivalidades internas e iniciativas isoladas”, disse o crítico de fotografia e curador paulistano Eder Chiodetto. Divididos em grupos de trabalho e seminários gerais, 150 artistas, fotógrafos e envolvidos diversos com a área de 17 Estados brasileiros divulgaram ao final do encontro a Carta de Brasília, com 23 itens que tentam fortalecer a fotografia dentro das políticas culturais do país.

  • Ricardo Fasanello / Divulgação

    Profissionais ligados a fotografia se reúnem em Brasília para discutir políticas públicas na área

“É um novo momento. Ficamos 20 anos em ‘guerrinhas’, mas agora adotamos um fazer coletivo, em rede, com demandas que interessam profissionais das regiões mais diversas e que agora atuam articuladamente”, conta o fotógrafo e organizador do Paraty em Foco Iatã Cannabrava, radicado em São Paulo.

Entre os pedidos feitos pelo documento oficial do encontro, estão o estímulo à formação de acervos de fotografia, a criação de editais específicos para a área e o mapeamento nacional de bibliotecas “amigas” da fotografia, entre outros.

 

Minc: Governo mais atento às demandas

O diretor da Funarte Ricardo Resende, um dos representantes do MinC no evento, disse que o governo federal está mais atento às demandas do meio e, por isso, retormou o estímulo à área, existente entre as décadas de 70 e 90. “Depois do último Paraty em Foco, o MinC procurou pessoas do meio para retomarmos parcerias e verificar o que eles teriam a oferecer para o ministério no sentido de políticas públicas. Tivemos um primeiro encontro em dezembro e, agora, com a rede, algumas propostas estão mais claras”, afirmou ele.

O órgão do MinC, assim, retomou a promoção do Prêmio Marc Ferrez, que fomenta a pesquisa, a criação e a teoria de fotografia, destinando cerca de R$ 1 milhão à premiação, além de incluir a fotografia nos editais de artes visuais. “Uma coisa importante para o setor de fotografia perceber é que cada vez mais tal campo se encontra em sintonia com as artes visuais, que comumente é contemplado nas políticas públicas”, avalia Resende.

"Cada vez mais a fotografia está em sintonia com as artes visuais, comumente contempladas nas políticas públicas”, diz Ricardo Resende, diretor da Funarte

No encontro, o MinC divulgou material explicativo sobre projeto de lei que cria o programa nacional de fomento e incentivo à cultura (que deve substituir a Lei Rouanet). Para o ministério, o novo modelo deve garantir mais recursos e descentralizar as demandas da fotografia -- hoje, segundo o MinC, a área e outros 29 segmentos, como patrimônio, ópera e arqueologia, ficam com apenas 14% do total beneficiado pela renúncia fiscal.

“É importante que os pedidos sejam possíveis e não sejam em número exagerado”, acredita o crítico e curador espanhol Claudi Carreras, um dos observadores internacionais do evento. “Ter conseguido formar essa rede é uma vitória indiscutível, ainda mais num país continental como o Brasil. Houve tentativas desse tipo na Espanha, mas que se perderam pelo excesso de ambição.”

Carreras, grande conhecedor da fotografia no Brasil, em especial dos coletivos, que acompanha de perto, avalia que o fortalecimento de uma rede nacional referenda o bom momento da área no país, “com produções fortes não apenas em São Paulo e Rio, mas em Belém, em Recife, em Minas e em outros centros. A América Latina deveria conhecer mais o Brasil. Na Argentina, por exemplo, se sabe muito mais da fotografia europeia e norte-americana”.

Para a diretora da SP Arte, Fernanda Feitosa, a fotografia tem ganhado espaço no mercado de artes visuais pouco a pouco. “Galerias dedicadas exclusivamente à fotografia estão surgindo, além de colecionadores importantes comprarem e prestigiarem mais a área”, avalia ela.

Veja abaixo na íntegra as proposições da carta:

1. Mobilizar a classe no sentido de dar apoio às iniciativas do Ministério que visam a ampliação dos fundos para a cultura e conseqüente ampliação dos recursos para o setor fotográfico.

2. Criação de editais específicos para demandas singulares da fotografia, tais como projetos de documentação, de pesquisa científica; além da ampliação dos editais já apresentados.

3. Curso de formação e aperfeiçoamento de gestores culturais.

4. Abertura de canais de discussão sobre a viabilidade e o real interesse de se voltar a estruturar um setor específico da fotografia dentro da Funarte.

5. Negociar junto ao Mercado editorial a liberação de pdfs de publicações de fotografia dentro de critérios de cessão de direitos pré-estabelecidos.

6. Promover pesquisa junto ao IBGE sobre a fotografia na economia brasileira.

7. Mapear e estimular a criação de bibliotecas "amigas da fotografia".

8. Estimular a publicação de obras para a educação visual, preparação de educadores, temas teóricos, etc.

9. Publicação nos moldes do Photo Pouche com sugestão de iniciar com os “100 Nomes da Fotografia Brasileira”.

10. Adoção de livros de fotografia como para-didáticos nas escolas.

11. Estudo e normatização da descrição técnica das obras fotográficas.

12. Criar mecanismos de associação entre a Rede e galerias privadas no sentido de estimular a circulação de obras.

13. Criar programas de aquisição de obras para coleções públicas e privadas.

14. Criar canais de comunicação diretos com o Itamaraty no sentido de discutir a responsabilidade da fotografia na difusão da imagem do Brasil.