Luto de branco
A notícia chegou logo cedo. Um telefonema. Morreu o seu ídolo, Ainda um pouco distraída Meu ídolo? E a resposta do outro lado Aquele escritor das frases intermináveis... O Saramago morreu?
Triste. E agora? Eu já aguardava o próximo lançamento. Como tenho feito nos últimos anos. Entre uma leitura obrigatória e outra, lá estava o José de “Todos os Nomes”, de “Ensaio sobre a Cegueira”, de “As Intermitências da Morte”, sempre na cabeceira.
“Todos os Nomes” foi minha “avant-première” há anos, presenteado inclusive pelo autor da ligação.
Depois do choque, sim, o escritor dos períodos longos, muito longos, da pontuação fora das convenções, das vírgulas no lugar dos pontos. Antagônico ao que aplico desde que entrei para o jornalismo há 22 anos. Mas que conseguia se fazer entender de uma maneira ímpar.
Textos densos, fortes, e ao mesmo tempo de um lirismo que “tocava a alma”, expressão usada por ele que ouvi e li algumas vezes. Um contrasenso.
Misturava a realidade com a ficção e desenhava um lado interessante da história.
Avesso às badalações e autopromoções, não quis deixar suas memórias. Apenas uma pincelada dos seus primeiros anos em “As Pequenas Memórias”. Primeiros para uma vida que teve 87.
Um contestador? Polêmico. Sim, senão não seria Saramago. Foi duramente criticado por suas considerações em relação aos judeus, quando apontou a violência nos textos da Bíblia e os defeitos no papa Bento 16.
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Ateu ferrenho, teve em “Evangelho Segundo Jesus Cristo” a sua briga maior com a Igreja Católica. Volta ao tema em “Caim”, onde a todo momento diz que Deus não é de se confiar. Por que então tantos castigos?
Recebeu vários prêmios, entre eles, Camões e o Nobel de Literatura, em 1998. Nos últimos anos era de sua mulher, a espanhola Pilar Del Río, a “força” para continuar seu trabalho.
Morreu na Espanha. Para onde teve de “fugir” após perseguição religiosa.
Não posso dizer que Deus o tenha. Não posso usar preto.
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