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Alemã Rebecca Horn ganha primeira retrospectiva no Brasil

Detalhe de "Time Goes By", trabalho de Rebecca Horn que está na exposição do Rio - Fernando Rabelo / UOL
Detalhe de "Time Goes By", trabalho de Rebecca Horn que está na exposição do Rio Imagem: Fernando Rabelo / UOL

MARIO GIOIA <br>Colaboração para o UOL, no Rio

20/05/2010 20h02

“Estou em boa companhia”, diz, sorrindo, a alemã Rebecca Horn, nome de destaque da arte contemporânea em âmbito mundial, quando questionada pelo UOL sobre o seu prestígio na cena alemã atual, ao lado de artistas como Gerhard Richter e Anselm Kiefer.

Horn, 66 anos, veio especialmente para o Rio para a abertura de sua primeira exposição no Brasil, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) carioca, em cartaz para o público a partir desta sexta (21/5). Os visitantes poderão ter acesso a 18 peças que cruzam as linguagens da instalação, do objeto, da escultura, da videoarte e da pintura, algumas de grande porte. Para a rotunda do prédio do centro cultural, por exemplo, foi instalada a imensa “O Universo em uma Pérola”, que consiste em diversas estruturas -- funis de ouro e espelhos, entre outras -- que pendem do alto da construção, a uma altura de 36 metros. Também serão exibidos seis filmes da artista alemã, uma parte importante de sua produção, incluindo “O Quarto de Buster”, de 1990, com Donald Sutherland e Geraldine Chaplin.

A artista tem trabalhos em coleções de peso -- como as do MoMA e do Guggenheim, em Nova York, e a da Tate Gallery, em Londres --, e já foi premiada na Documenta de Kassel, em 1986, uma das principais mostras em âmbito mundial. No início da carreira, sua produção de “esculturas corporais” era predominante, mas, pouco a pouco, as obras começaram a invadir mais o espaço e a ganhar grandes escalas.

  • Fernando Rabelo / UOL

    A alemã Rebecca Horn posa no CCBB do Rio junto à obra "Concerto dos Suspiros"

“De 1969 a 1973, comecei a desenvolver as ‘esculturas corporais’. Tinham algo de ritual, eu desenvolvi esses trabalhos, que estendiam dedos e cabeças, com alguns amigos. Depois, quando fui para Nova York, convidava pessoas para performances, e as obras foram ganhando espaços maiores”, conta ela. “O espaço sempre foi importante e muito presente. Ele sempre pode contar algo, tem energia, atmosfera. Posso ter aumentado a escala, mas desde o começo já era algo forte.”

A ligação com o cinema é evidente em algumas de suas principais peças, como a instalação “O Tempo Passa” (1990-91), que utiliza 40 mil metros de película de filmes, carvão, binóculos, metrônomos e sapatos que homenageiam Buster Keaton (1895-1966), um dos heróis do cinema mudo. “Sou uma grande fã de Keaton, comecei a gostar desde que vi uma retrospectiva dele em Nova York, em 1972”, diz Horn. “A relação com o cinema também vem do início. Sempre desenvolvi narrativas e usava nos trabalhos poesia, textos, desenhos, esboços. É uma decorrência.”

Os elos com a música e o som são importantes no desenvolvimento da obra da artista, depois de uma recente estreia em Berlim com a ópera “Luci mie Traditrici”, de Salvatore Sciarrino, em que Horn assina direção, cenários e figurinos. “Gosto muito dela. Tem lances de amor e ódio, assassinatos, é bem melodramática”, afirma ela. O amor e o ódio movem outras de suas peças, como a homônima (“Amor e Ódio”), uma engenhoca mecânica criada em 2004 com facas que se entrecruzam, formando a palavra amor e ódio ao se movimentar.

Mostra deve vir para SP

O curador de “Rebecca Horn – Rebelião em Silêncio”, Marcello Dantas, negocia com o CCBB paulistano a vinda da exposição para a cidade. “Horn é uma das primeiras artistas multimídias, assim como a Laurie Anderson [que terá retrospectiva neste ano no CCBB paulistano]. Hoje se fala em hibridismo, mas isso já estava presente na obra de Horn desde o começo de sua trajetória”, diz ele, que já trouxe para o Brasil mostras de nomes como Gary Hill e Bill Viola.

A exposição custou R$ 1 milhão, uma cifra expressiva no meio institucional brasileiro. “É difícil organizar uma mostra dessas. Há muitas peças únicas, sem contar suas proporções”, diz Dantas. “Aproveitei que havia uma itinerância de suas peças. Eu as vi em Tóquio, no Museu de Arte Contemporânea, e fui atrás. Mas a seleção de obras é diferente, ela até fez uma especialmente para cá [“Rio Desconectado”, que usa um telefone, um pênis de madeira, uma pedra e um motor, emoldurados no vidro].”

 


"Rebecca Horn - Rebelião em Silêncio"
Quando:
de 21/5 a 18/7, de terça a domingo, das 10h às 21h
Onde: CCBB Rio (r. Primeiro de Março, 66, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020)
Quanto: entrada franca