Ilustradores usam ferramentas 'reais' para driblar mesmice tecnológica
A chegada dos softwares gráficos ao mercado significou para os ilustradores e designers o acesso a uma infinidade de recursos e, em muitos casos, provocou o aposento das tintas e suportes convencionais de desenho. Alguns artistas, no entanto, renegam tanta tecnologia e combatem a mesmice criativa com soluções para lá de esquisitas – café, bolacha e objetos comprados em "lojas de macumba" são apenas alguns exemplos.
Com mais de trinta anos de carreira, o ilustrador e cartunista Luiz Carlos Fernandes, 50, pode ser incluído no grupo que lança mão dos artifícios artesanais na composição dos desenhos. E a mania continua até hoje, mesmo depois de anos utilizando o Photoshop. “Nos anos 90, fiz ilustrações para uma coleção infantil. Ia em lojas de macumba para comprar um monte de bugigangas, tipo bambu --que virou o cachimbo de um saci-pererê--, tecidos e penas. Depois, fazia colagens e escaneava os trabalhos”, diz.
Fernandes conta que, à época, fechou um contrato de trabalho com a editora responsável pela coleção que previa datas muito apertadas para a entrega do material. A criatividade foi a maneira encontrada para preencher as grandes áreas de branco do papel com rapidez. “Uma vez precisávamos fazer um planeta que cobria duas páginas do livro. Para dar a sensação de textura de pedra, esfarelamos bolachas – o nosso lanche da madrugada- sobre o papel, pintamos por cima e, depois, o raspamos.” Nos últimos livros desta série, o ilustrador conta que chegou a usar tijolo, folhas, fundo de panelas, madeiras e até a sua cadeira, que tinha um furo, se transformou no paletó do personagem.
Ao longo da carreira, ele também já fez trabalhos com dentes, conchas, areia, arames, massa epóxi, sabão, argila, cerdas de vassoura, pente, insetos mortos, papel higiênico, botões, peças de relógio, casca de ovo, pregos e parafusos, lâmpadas, escova de dentes...
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Café (sem açúcar) é um dos elementos mais marcantes no trabalho de Bruno Mota
O ilustrador e designer gráfico Marcio Moreno, 25, é outro que vive procurando materiais inusitados para aplicar na sua rotina de trabalho. Depois de desenhar com palito de churrasco, hashi, clipes e cotonete, gostou mesmo de trabalhar com o papelão e a caneta esferográfica. “Já experimentei diversos tipos de papéis, dos mais vagabundos até os mais nobres, mas o papelão me surpreendeu. Dá um tom rústico ao trabalho que me agrada”, conta ele, que justifica da mesma forma o uso das populares canetas.
Sem açúcar – Tão apreciado pelos brasileiros, o cafezinho é uma das principais matérias-primas no trabalho do designer Bruno Mota, 27, que hoje se destaca na criação de estampas para sites de venda de camisetas. “Tive a idéia quando percebi uma mancha em uma folha de anotações.O papel tinha alguns desenhos e fiquei observando o contraste. Foi perfeito”, recorda.
Segundo Mota, no entanto, suas primeiras experiências com a bebida não foram tão animadoras. “Na primeira vez, exagerei na dosagem e fiz a maior meleca. Também usei café adoçado, o que fez a secagem demorar mais e deixou a folha grudenta.” Hoje, depois de algumas tentativas, ele dá a solução: “O café tem que ser forte e solúvel e, claro, sem açúcar”, adverte. Mota também já produziu com tinta spray, caneta esferográfica e cera de vela derretida. Seu próximo passo é a resina. “Tenho muita vontade de esculpir ou modelar um de meus personagens. Ainda vou arriscar um dia”.
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