Raul Cortez e Paulo Leminski são homenageados em grandes espetáculos no Festival de Curitiba
ROBERTO MORENO
Enviado especial a Curitiba*
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Divulgação/Bruno Tetto - clix.fot.br
Atores da Companhia Brasileira de Teatro encenam "Vida" no Festival de Curitiba
Raul Cortez e Paulo Leminski foram homenageados em duas peças no Festival de Curitiba. Uma clássica, outra inovadora. As duas levaram dois anos para chegar aos palcos. Uma passou esse tempo captando recursos, a outra pesquisando a vida do homenageado, bancada por patrocínio.
Cortez, ator, morto em 2006, dedicou 50 anos ao teatro. Leminski, poeta, morto em 1989 aos 45 anos de idade, é um dos símbolos de Curitiba.
"A Loba de Ray-Ban", de Renato Borghi, é a "versão original" de um dos maiores sucessos de Cortez, "O Lobo de Ray-Ban", que ficou em cartaz por quatro anos a partir de 1987.
Cortez interpretava um ator cinquentão em crise, que questionava o significado da arte, era casado com uma atriz (Christiane Torloni), e apaixonado por um ator iniciante (Leonardo Franco). A peça atual é dedicada a ele e à atriz Dina Sfat, para quem o roteiro havia sido escrito originalmente. Doente, Sfat não seguiu no projeto e a loba teve de virar lobo. A versão feminina ficou esquecida durante anos - nem o autor sabia se ainda existia em algum lugar - e encontrada por Leonardo Franco na Biblioteca Nacional. Na nova montagem, Leonardo é o marido, Christiane é a cinquentona e Maria Maya entra no elenco como uma "lobinha", a atriz iniciante. José Possi Neto dirigiu as duas versões.
"A Loba" estrou em São Paulo em novembro de 2009 e chegou a Curitiba já como sucesso de público. Para a peça, foi reservado o maior teatro do Estado, com capacidade para 2.400 pessoas, lotado nas duas apresentações. Num espetáculo afinadissímo, de interpretações irretocáveis, Torloni e companhia mostraram o que o público curitibano queria ver - uma grande atriz, uma bela história, um pouco de humor e um pouco de drama. Tudo dentro dos conformes. Nem o homossexualismo, questão tensa nos anos 80, espanta mais.
"VIDA" NO FESTIVAL DE CURITIBA
Humor e drama
"Vida", da Companhia Brasileira de Teatro, foge dos conformes. Num teatro de 177 lugares, o público, visivelmente "estrangeiro", ria da falta de ar condicionado a cada vez que um ator dizia "está abafado aqui". Havia humor e drama, havia uma bela história, porém fragmentada, e havia uma grande atriz, Giovana Soar, porém o que importa na CBT não são as estrelas, é o grupo.
A obra de Paulo Leminski vem sendo esmiuçada há dois anos, e o espetáculo construído com leituras e ensaios abertos e a apresentação de um solo teatral a partir do texto "Descartes com Lentes", de Leminski.
O resultado é um espetáculo surpreendente, em que cenário, música, plateia e elenco se unem para contar uma história que vai além da biografia do homenageado; é a história da vida, qualquer vida, reconstruída num enredo singelo: um grupo de músicos ensaia para sua apresentação no aniversário da cidade, qualquer cidade.
Se houvesse um jogo, uma disputa entre "A Loba de Ray-Ban" e "Vida", "Loba" venceria no critério de movimentar a cultura de Curitiba. "Vida" venceria no critério de movimentar o teatro, dar um novo passo na dramaturgia.
*O jornalista viajou a convite do festival
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